segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Precipitada rebeldia

O presidente da Câmara dos Deputados afirma que não cumprirá decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a cassação de deputados condenados no processo do mensalão, por entender que quem tem prerrogativa constitucional para julgar a perda de mandato de parlamentar é o Congresso Nacional. Na ocasião, ele ainda fez diagnóstico preocupante sobre o reflexo da medida envolvendo Judiciário e Legislativo, ao dizer que o país está “muito próximo” de uma crise institucional. O seu desejo é o de que “O Supremo Tribunal Federal tome uma posição equilibrada, olhando para a Constituição e para a necessidade de não se estabelecer uma crise institucional. Não há motivo para avançar sobre a prerrogativa da Câmara ou de medida que cause uma disputa. A cassação seria um ataque frontal a Constituição, à autonomia do Legislativo e ao equilíbrio dos poderes.” e “O Supremo tome uma decisão olhando para a Constituição e para o equilíbrio entre os poderes”. Na sua avaliação, a lei não deixa dúvida de que o mandato de parlamentar só pode ser cassado pelo Congresso Nacional, no caso, a Câmara ou Senado são quem têm o poder de decidir, conforme a vontade dos constituintes originários, ao aprovarem garantia de imunidade parlamentar e darem ao Legislativo a prerrogativa de cassar o mandato de representação popular. Ele garante que, se a decisão da Suprema Corte for pela cassação, a matéria será examinada pela Mesa Diretora, deixando claro que a Câmara não vai cumpri-la, mas recorrerá ao Poder Judiciário. Ele foi enfático ao afirmar que o país está à beira de uma crise institucional, à vista de que a decisão do Supremo não será cumprida pela Câmara, que não irá ceder quanto à sua prerrogativa constitucional. Os prévios comentários sobre o julgamento dos ministros da Excelsa Corte de Justiça demonstram, de forma cristalina, interferência precipitada e indevida na competência do Poder Judiciário, funcionando muito mais como deselegante e inapropriado tom de ameaça à autonomia e competência constitucionais de quem tem o poder final para interpretar os comandos normativos da Carta Magna. Na verdade, não se trata de inovação que liderança petista se insurja contra ações envolvendo seus “cumpanheiros”, antecipando-se com opiniões sobre o que deve ser feito para adequar-se à sua vontade, sem que nada possa prejudicar a sua ideologia fisiológica e autoritária. Teria sido estranho se o presidente da Câmara tivesse declarado pacificamente que estava preparado para acatar prontamente e sem questionamentos as decisões emanadas do Poder Judiciário, uma vez que a marca imperante dos governistas é de ostentação, independência e soberania sobre qualquer ação que contrarie seus interesses, que estão sempre acima de todos e da própria lei. Essa forma de pura rebeldia contribui decisivamente para que o país seja exemplo de desrespeito à ordem constitucional, ao ordenamento jurídico e aos princípios éticos e morais. Felizmente, a maioria dos ministros do Supremo, liderados pelo relator do mensalão, vem demonstrando absoluto isolamento às absurdas queixas e ameaças oriundas daqueles que infringiram os princípios da honestidade e estão sendo condenados pela prática de graves irregularidades. A sociedade tem que se conscientizar com urgência sobre a limpeza ética e moral da política, de modo que sejam respeitadas e acatadas as decisões soberanas dos Poderes da República, como forma de fortalecer e consolidar os princípios democráticos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de dezembro de 2012

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