Com a finalidade de prestar solidariedade ao
ex-presidente da República petista, oito governadores de estados e do Distrito
Federal reuniram-se com ele, como forma de defendê-lo da “injusta” tentativa de
estender-lhe a investigação sobre o escândalo do mensalão. Um governador do
partido tucano disse que não se envergonhava de estar ali porque era amigo do
político e o seu estado lhe é muito grato pela sua postura republicana e
solidária, além da parceria na construção de obras de infraestrutura e nas
ações sociais, como se não fosse obrigação constitucional de a União atender as
necessidades dos estados. A atitude do tucano contraria a vontade de partidos
de oposição, inclusive o seu, da imediata investigação das denúncias da lavra
do operador do mensalão de que o ex-presidente tinha conhecimento da existência
desse esquema criminoso e ainda se beneficiou de dinheiro sujo para o pagamento
de despesas pessoais. O tucano disse que, independentemente de ideologia: "Não é uma denúncia de Marcos Valério que vai
desmanchar o trabalho que foi feito". Outro político disse que "Lula é um homem público muito querido e
muito respeitado pelo povo brasileiro" e "Viemos dizer que estamos indignados. Isso não é respeitoso à figura de
um ex-presidente". Outros governadores falavam em prestação de
carinho, de repúdio às tentativas de ataque e de desconstituição da imagem de
um presidente que tem um grande carinho do povo. Não faltou quem dissesse que
existe deliberado movimento para desmontar a popularidade do ex-presidente, que
merece respeito de todos. Parece haver enorme dificuldade desses alucinados
políticos de vislumbrar a premente necessidade de fatos denunciados poderem ser
apurados e elucidados, em atenção às boas regras democráticas da transparência.
Nesses casos de denúncia grave, pouco importa o cargo público desempenhado pelo
envolvido, nem mesmo que tenha sido o de presidente da República. No caso, o
homenageado e bajulado não teve a dignidade, conforme esclarecido pelos
governadores, de sequer mencionar o mensalão e muito menos ainda de justificar a
acusação sobre a sua pessoa diante daqueles que compareceram à sua presença
para beijar-lhe às mãos e fazer-lhe afago, em claro ato humilhante e de
submissão totalmente dispensável. A mentalidade tacanha de se entender que o ex-presidente
ou ocupante de cargo importante são intocáveis, isentos de suspeitas, de
investigação sobre seus atos, demonstra verdadeiro desserviço ao país,
porquanto suscita a impressão ruim e desleixada de que, quem exerceu cargo de
destaque na República, pode praticar atos desonestos e contrários ao interesse
público, ficando dispensados de mostrar à nação a veracidade sobre os fatos
objeto da denúncia, ao contrário do que fazem, com a maior naturalidade, os
países evoluídos, cujos políticos têm a dignidade de se autodenunciarem a bem
das causas nacionais. Caso o ex-presidente petista tivesse sido grande
estadista, como apregoam os bajuladores de plantão, ele teria a dignidade de se
apresentar à nação para contradizer os fatos irregulares cuja autoria lhe é
atribuída, evitando que as pessoas de bem permaneçam em eterna dúvida quanto à sua
reputação em muitos episódios do seu governo. A sociedade anseia por que os
homens públicos sejam obrigados a prestar contas dos seus atos, a qualquer
tempo, como forma da fiel observância aos salutares princípios da administração
pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 18 de dezembro de 2012
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