Desde a origem das denúncias sobre o mensalão, passando
por reiterados escândalos de corrupção, paira sobre a cabeça do ex-presidente
da República petista uma poderosa e inexplicável áurea protetora contra a
imputabilidade, porquanto nenhuma acusação foi capaz de aderir à sua pessoa. O
último episódio aconteceu com a revelação do publicitário operador do mensalão
que, em depoimento à Procuradoria Geral da República, disse que o ex-presidente
aprovou o esquema de compra de votos de parlamentares e se beneficiou do dinheiro
sujo e farto que alimentava a safadeza republicana. Imediatamente, surgem seus
defensores, partidários, aliados, políticos governistas, com fortes escudos da
blindagem, rechaçando com veemência as suspeitas, por considerá-las absurdas e
terem sido emanadas de detrator desqualificado, condenado pelo Supremo Tribunal
Federal, por mais de 40 anos de prisão. Isto mesmo, o agora desacreditado e
totalmente inútil era o então operador do mensalão, à época, tido por salvador
da pátria, valoroso companheiro, por manter o esquema criminoso pungente com a
irrigação de dinheiro adquirido de fontes recheadas de impurezas. Em atitude de
contraposição aos seus ardorosos defensores, o ex-presidente vem fugindo da
imprensa, entrando e saindo dos recintos pelos fundos, deixando de comparecer
aos eventos, sob a alegação de indisposição e outras desculpas esfarrapadas, em
completa descaracterização daquele homem sempre presente na mídia, para manter
a sua popularidade em alta. Enquanto o presidente se esconde, não tendo a
dignidade de se apresentar à nação, para fazer a sua defesa, ele usa como
porta-voz o secretário-geral da Presidência da República, que se diz
"indignado" com a tentativa de envolvê-lo no mensalão. Outros movimentos
corporativos se seguiram em solidariedade ao “todo-poderoso”, para fulminar as
acusações consideradas injustas contra um homem “tão bom”. Não deixa de ser estranho
que o denunciado esconda-se, de forma covarde, evitando prestar contas dos seus
atos à sociedade, como forma de transparência inerente aos princípios democráticos.
É inacreditável que o ex-presidente prefira o silêncio tumular sobre as
acusações em comento, deixando que os seus bajuladores de plantão, naturalmente
sem terem conhecimento de causa, se esforcem em total desespero para afirmar
que o publicitário teria feito "ataque
vil, covarde, irresponsável e criminoso ao ex-mandatário" e "Só quem confia em vigarista dessa ordem quer
dar voz a isso.". Na verdade, essa questão está sendo tratada de forma
hipócrita, por não se vislumbrar que autoridade do país possa ser investigada,
não importando de quem partiu a denúncia, porque a sociedade tem o direito de
conhecer a verdade sobre os fatos inquinados de irregulares e somente por meio
de profundas apurações será possível ser revelada a honestidade ou não do
ex-presidente, que não teve a dignidade de encarar a grave denúncia contra a sua
pessoa. A sociedade anseia por que, em harmonia com o Estado Democrático de
Direito, os órgãos competentes promovam as devidas investigações sobre os fatos
denunciados, não importando de onde eles tenham partido nem a autoridade envolvida,
de modo que a injustificável e inadmissível inimputabilidade seja banida definitivamente
deste país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de dezembro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário