sábado, 22 de dezembro de 2012

Basta de inimputabilidade

Desde a origem das denúncias sobre o mensalão, passando por reiterados escândalos de corrupção, paira sobre a cabeça do ex-presidente da República petista uma poderosa e inexplicável áurea protetora contra a imputabilidade, porquanto nenhuma acusação foi capaz de aderir à sua pessoa. O último episódio aconteceu com a revelação do publicitário operador do mensalão que, em depoimento à Procuradoria Geral da República, disse que o ex-presidente aprovou o esquema de compra de votos de parlamentares e se beneficiou do dinheiro sujo e farto que alimentava a safadeza republicana. Imediatamente, surgem seus defensores, partidários, aliados, políticos governistas, com fortes escudos da blindagem, rechaçando com veemência as suspeitas, por considerá-las absurdas e terem sido emanadas de detrator desqualificado, condenado pelo Supremo Tribunal Federal, por mais de 40 anos de prisão. Isto mesmo, o agora desacreditado e totalmente inútil era o então operador do mensalão, à época, tido por salvador da pátria, valoroso companheiro, por manter o esquema criminoso pungente com a irrigação de dinheiro adquirido de fontes recheadas de impurezas. Em atitude de contraposição aos seus ardorosos defensores, o ex-presidente vem fugindo da imprensa, entrando e saindo dos recintos pelos fundos, deixando de comparecer aos eventos, sob a alegação de indisposição e outras desculpas esfarrapadas, em completa descaracterização daquele homem sempre presente na mídia, para manter a sua popularidade em alta. Enquanto o presidente se esconde, não tendo a dignidade de se apresentar à nação, para fazer a sua defesa, ele usa como porta-voz o secretário-geral da Presidência da República, que se diz "indignado" com a tentativa de envolvê-lo no mensalão. Outros movimentos corporativos se seguiram em solidariedade ao “todo-poderoso”, para fulminar as acusações consideradas injustas contra um homem “tão bom”. Não deixa de ser estranho que o denunciado esconda-se, de forma covarde, evitando prestar contas dos seus atos à sociedade, como forma de transparência inerente aos princípios democráticos. É inacreditável que o ex-presidente prefira o silêncio tumular sobre as acusações em comento, deixando que os seus bajuladores de plantão, naturalmente sem terem conhecimento de causa, se esforcem em total desespero para afirmar que o publicitário teria feito "ataque vil, covarde, irresponsável e criminoso ao ex-mandatário" e "Só quem confia em vigarista dessa ordem quer dar voz a isso.". Na verdade, essa questão está sendo tratada de forma hipócrita, por não se vislumbrar que autoridade do país possa ser investigada, não importando de quem partiu a denúncia, porque a sociedade tem o direito de conhecer a verdade sobre os fatos inquinados de irregulares e somente por meio de profundas apurações será possível ser revelada a honestidade ou não do ex-presidente, que não teve a dignidade de encarar a grave denúncia contra a sua pessoa. A sociedade anseia por que, em harmonia com o Estado Democrático de Direito, os órgãos competentes promovam as devidas investigações sobre os fatos denunciados, não importando de onde eles tenham partido nem a autoridade envolvida, de modo que a injustificável e inadmissível inimputabilidade seja banida definitivamente deste país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de dezembro de 2012

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