sexta-feira, 4 de julho de 2014

Desprezo ao obsoletismo político

Os recentes escândalos deflagrados na Petrobras, a maior empresa brasileira, suscitaram discussões nada inusitadas sobre a necessidade de investigação, pelo Congresso Nacional, acerca dos fatos denunciados. Segundo o entendimento dos brasileiros, na sua maioria, a gravidade das irregularidades exige imediatas e profundas apurações, como forma de se levantar o montante do prejuízo causado à estatal, atribuir responsabilidades e promover os devidos ressarcimentos aos cofres da empresa. Não obstante, causa enorme estranheza e até perplexidade se verificar que, apesar de serem palpáveis e incontestáveis os danos causados ao patrimônio da estatal, os parlamentares, principalmente governistas e da sua base de sustentação, resistem às apurações, porque elas são absolutamente desfavoráveis aos interesses do Palácio do Planalto, em especial por se tratar de ano eleitoral, em que a presidente da República, principal citada nos escândalos, por ter participado da autorização da compra, a preços superfaturados, da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos da América, e contribuído com a forte ingerência nos negócios da estatal, principalmente com o seu aparelhamento, mediante o loteamento de seus cargos de direção entre aliados da sustentação do governo, em troca de apoio político. Também é injustificável e inadmissível que, apesar da existência de grande cobrança e até de pressão dos eleitores no sentido de que seus representantes no Congresso sejam favoráveis às investigações, as coalizões espúrias de governabilidade e o medo de perder as benesses junto ao Executivo impedem o apoio dos parlamentares às apurações das irregularidades na estatal, sob o vil argumento de que elas teriam o condão de dar palanque à oposição. Na verdade, o cerne da questão, o que se encontra em jogo, é se promover não somente a necessária faxina na sujeira gerencial da Petrobras, mas também reparar os notórios danos causados ao seu patrimônio, como forma de moralização não apenas dela, mas da administração do país, que não tem o direito de impedir que a esculhambação continue predominando impunimente no Brasil nem se permitir que a incompetência e a omissão sejam aceitas como modelo de seu gerenciamento. Em consonância com os princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, assegurados na Carta Magna, é absolutamente inaceitável que homens públicos desprezem, com desculpas fajutas e estapafúrdias, a imperiosa vontade da população e do regramento jurídico sobre as investigações das irregularidades e dos escândalos, como esse da Petrobras, por se revelarem da maior gravidade, dados os enormes prejuízos ao seu patrimônio. Nos países desenvolvidos política e democraticamente, não existe essa espécie de politicagem praticada no país tupiniquim, em que a ideologia predominante é o exclusivo fisiologismo indecoroso e prejudicial ao interesse da sociedade, tendo por primacial fundamento a satisfação dos objetivos pessoais, em detrimento das causas nacionais e da população, fato esse que não é novidade para ninguém, ante o arraigado sentimento de desprezo às reais e intrínsecas finalidades da Ciência Política, que é exatamente a consecução do bem comum da sociedade. A forma espúria como a política é exercida no Brasil sequer existe nas republiquetas, por terem percebido que a humanidade se evoluiu e se desenvolveu, em harmonia com os avanços científicos e tecnológicos, que influenciaram a modernização e o aperfeiçoamento da política e da democracia, como forma essencial para a obtenção dos benefícios capazes de melhorar as condições de vida da sociedade. Enquanto a mentalidade política tupiniquim se mantiver no nível da mediocridade atual, a nação permanecerá padecendo no mundo do obsoletismo e anacronismo, compatível apenas com o eterno subdesenvolvimento social, econômico e político. Nos países com um pouco de evolução política e democrática, os casos de corrupção e de irregularidades, o próprio sistema institucional conduz aos apropriados procedimentos de investigação e de esclarecimentos dos fatos, sem a menor resistência, de modo que a transparência e a verdade cuidam de prevalecer sobre as mentes pouco inteligentes das autoridades envolvidas e as suas pretensões político-eleitoreiras, posto que as razões de Estado estão acima dos interesses individuais, diferentemente do que vem acontecendo, de forma consolidada e injustificável, no país que ainda resiste em se modernizar e se desenvolver política, administrativa e democraticamente. Convém que a sociedade tenha consciência sobre os reais prejuízos causados ao país pelos homens públicos que se opõem à salutar observância dos princípios constitucional, republicano e democrático, ao resistirem às investigações das irregularidades com recursos públicos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 03 de julho de 2014

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