quarta-feira, 2 de julho de 2014

O extremo da incoerência

A personalidade dos homens públicos pode ser avaliada, sem muito esforço, por meio de suas atividades e seus procedimentos na vida pública. No caso específico do petista, ex-presidente da República, há abundância de acontecimentos e fatos que, à luz das conveniências políticas, evidenciam o seu exclusivo caráter de fazer política com a finalidade de tirar proveito das situações, a exemplo dos episódios descritos abaixo, demonstrando completa ausência do nobre sentimento do pudor ou da responsabilidade política, em evidente falta de compromisso com a verdade e a decência, que jamais poderiam se afastar de quem tem a obrigação de observar com fidelidade os princípios da ética, moral, lisura e, em especial, da dignidade. Não obstante, isso não tem sido uma constante na sua vida política, a exemplo da forma como ele enxergava a situação do programa Bolsa Família, sob a ótica que melhor atendia aos seus projetos políticos, em cristalino sentimento de explícita hipocrisia e contrassenso. Veja-se que nos idos de 2000, quando ele ainda se apresentava desesperadamente como eterno candidato à Presidência da República, declarou em alto e bom som seu entendimento sobre o que representava para ele o Bolsa Família, exatamente nestes termos: “Olhe, lamentavelmente, no Brasil, o voto não é ideológico. Lamentavelmente, as pessoas não votam, não votam, partidariamente. E, lamentavelmente, você tem uma parte da sociedade, pelo alto grau de empobrecimento, que é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica. É por isso que se distribui tanto tíquete de leite, porque isso, na verdade, é uma peça de troca, em época de eleição. E assim você despolitiza o processo eleitoral. Você trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os índios quando chegou ao Brasil, tentando distribuir bijuteria, espelho pra ganhar os índios. Ele distribui alimentos. Você tem como lógica manter política de dominação, que é secular no Brasil.”. Anos depois, desta feita já em pleno exercício no cargo de presidente da República, ele não se conteve e rebateu com veemência as críticas que se faziam ao repaginado programa Bolsa Família, tendo declarado, in verbis: “Alguns imbecis: o Bolsa Família é uma esmola. O Bolsa Família é assistencialista. O Bolsa Família é demagogia e vai por aí afora. Tem gente tão imbecil, tão ignorante, que ainda fala o Bolsa Família é pra gente preguiçosa, porque quem recebe o Bolsa Família não quer trabalhar.”. Comparando os discursos acima, verifica-se, com absoluta convicção, que o ex-presidente não é pessoa de palavra, porque a sua maneira de proceder se harmoniza com a situação falseada de momento que melhor se amolde aos seus propósitos e às suas conveniências políticas, sublimando fatos que sensibilizam profundamente o sentimento do povo, tendo por finalidade se beneficiar eleitoralmente, fato que demonstra grave pobreza de honestidade no exercício de atividades políticas, em desfavor da pureza do interesse público. Embora o petista não tenha percebido, as lamentáveis e patéticas situações encenadas acima evidenciam verdadeira farsa condenável, por não condizerem com a dignidade que se espera dos homens públicos. Os aludidos episódios e muitas ações políticas protagonizadas pelo ex-presidente são a marca representativa do mau exemplo para o país, em virtude de patentear cristalino desprezo ao sentimento da verdade. A esses casos se associam outros não menos graves, em que o petista demonstrou tibieza quanto ao apego aos princípios da honorabilidade, a exemplo dos casos de corrupção na administração pública, quando, sem exceção, ele foi bastante claro e incisivo em recomendar aos correligionários acusados que resistissem e negassem os fatos denunciados, como forma de não “aceitar as pressões da mídia”, em supremacia ao interesse público, apesar de robustas provas, ou seja, são casos de manifesta prepotência e desrespeito aos preceitos da legitimidade e honestidade inarredáveis no trato da res publica. Os fatos acima podem explicar a parte típica do petista, que elegeu o poder como valor supremo, havendo necessidade da observância dos princípios da ética e moralidade somente nos casos que não contrariem os interesses pessoais ou partidários, porquanto a sua vontade é simplesmente imposta sobre as pessoas e os princípios, cujo resultado disso é o que está aí, em que o país passa por descrédito, tanto nacional como internacionalmente, e o seu crescimento é desalentador, com o desempenho da economia empurrando as esperanças do povo para o espaço. À toda evidência, o petista é chegado a contradições e a polêmicas, tendo como vocação política a antítese do que deve ser ideal, politicamente, para a satisfação do interesse público, que tem sido menosprezado pelo instinto voraz do valor supremo do poder. Os discursos acima são capazes de comprovar arraigado pendor pela demagogia e hipocrisia, usados, no primeiro caso, para tentar desmoralizar seu opositor político e, no segundo, para exaltação como massa de manobra, muito apropriado aos sindicalistas, na tentativa de defesa dos oprimidos e desvalidos, mas em ambos as situações não há o menor sentimento de sinceridade humanitária, por ficar evidenciado o caráter artístico, maquiavélico e oportunista, totalmente repudiável e execrável se ele tivesse sido originário num país sério e desenvolvido, quanto aos parâmetros de sociabilidade, economia, política e democracia, onde os aproveitadores são completamente desprezados e considerados seres inúteis para os interesses nacionais. Resta à sociedade avaliar, com competência e responsabilidade, se ainda vale a pena prestigiar os homens públicos que se aproveitam do poder para se beneficiar pessoal e politicamente, mesmo que em clara demonstração de nocividade aos interesses da sociedade e do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de julho de 2014

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