quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa das copas na gestão pública

É induvidoso que os possíveis pessimistas que apregoavam o apocalipse no país, por ocasião da Copa do Mundo, deveriam ter se fundamentado na notória precária capacidade do governo na condução das políticas públicas, à vista da decadente prestação dos serviços públicos, evidenciada na educação, que é de péssima qualidade, se comparada aos países desenvolvidos, cujos alunos já ingressaram há muito tempo do ensino com o auxílio da informática e o acesso ao mundo virtual; na saúde pública, que ainda se conforma com as mortes de seres humanos nos corredores dos hospitais, ante o sucateamento dos recursos pessoais e materiais; na segurança pública, com o visível despreparo do policiamento e do disparate do seu armamento em relação aos utilizados pelos criminosos; no gigantesco distanciamento do governo das questões essenciais que afetam a sociedade, causadas justamente pela completa falta de prioridades quanto às políticas públicas; além do desastroso desempenho da equipe econômica, à vista dos pífios resultados obtidos pelo governo. Pode até ser verdade que quem vaticinou o caos perdeu com alguma coisa boa evidenciada na realização da copa, mas certamente houve surpresa pela conclusão dos estádios e não das obras de mobilidade bem em cima do início do evento, graças às ameaças da poderosa Fifa, que prometeu chutar o traseiro do governo e declarou arrependimento por ter escolhido o Brasil para país-sede, tendo ressaltado que o Brasil foi o pior de todos os organizadores da copa, apesar de ter sido o país que teve mais tempo para a realização das obras: sete anos. Embora somente os estádios e pouco mais de cinquenta por cento das obras de mobilidade terem sido concluídas para o empreendimento, a mandatária do país ainda se acha no direito de se vangloriar com o sucesso da “Copa das Copas”, cujas obras de construção e reformas dos estádios deveriam ter sido custeadas com recursos públicos, mas foram assumidas com dinheiro dos bestas dos brasileiros, em evidente demonstração de irresponsabilidade com a gestão de recursos públicos. Nesse particular, conquanto a presidente se arvore em querer se beneficiar do resultado da copa, o povo deveria se mostrar frustrado por não poder contar com os serviços públicos de qualidade que tem direito, à vista dos elevados tributos que ele é obrigado a pagar, além de ter a tristeza de acompanhar o sofrível desempenho da economia nacional, com a inflação em alta, ultrapassando a meta oficial; os juros batendo nas nuvens; as contas públicas asfixiadas pela incontrolável gastança da máquina pública; o desempenho do Produto Interno Bruto – PIB bastante desalentador, em contraste com as potencialidades econômicas do país; a progressiva perda de competitividade dos produtos nacionais; a alarmante dívida pública; a corrupção batendo as portas dos órgãos e das entidades públicos, a exemplo do clamoroso caso da Petrobras, que foi envolvida em operações nada recomendáveis para o que se espera da gestão pública; entre outros casos de notória deficiência da administração do país, que deveria se encontrar em situação bem diferente da atual se a nação estivesse sendo administrada com racionalidade e eficiência, respeitados os princípios essenciais da administração pública. É evidente que os espetáculos da copa e os astronômicos gastos superfaturados com planejamentos, construções, reformar, mobilizações de pessoas e materiais, apoio logístico etc., tudo às custas dos bestas dos contribuintes, não acrescentarão quase nada em benefício da sociedade, ante a montanha de verbas públicas despendidas, que não serão revertidas para a população, a exemplo dos faraônicos e inúteis estádios, que continuam sugando dinheiro dos cofres públicos para a sua manutenção, eis que a iniciativa privada, que terá o privilégio do seu usufruto, não terá condições de arcar com os altos custos para o seu cuidado. Na verdade, o saldo da copa vai servir para mostrar como a irresponsabilidade administrativa é capaz de desperdiçar recursos pelos ralos da incompetência, haja vista que a população com um pouco de discernimento vai perceber logo que a copa não conseguiu contribuir para a melhoria da economia, a diminuição da corrupção e muito menos a prestação dos serviços públicos de qualidade, ou seja, a “Copa das Copas“ não passa de mero engodo, porque não houve melhoria senão nos aeroportos, que estão bastante distanciados dos anseios e das necessidades da população que o Estado tem o dever constitucional de cuidar e zelar pela melhoria das suas condições de vida. A seriedade somente vai aportar neste país quando houver a copa das copas, de verdade, no Sistema de Saúde Pública, em que os hospitais e as unidades de saúde passem a funcionar com efetividade e ninguém mais seja condenado à morte dentro de nosocômios; na educação, de modo que o ensino público seja modelar do conhecimento de qualidade para o mundo; na segurança pública, permitindo que os criminosos fiquem presos e a população sinta-se segura e tenha a certeza da proteção do Estado; nas estradas, onde não haja mais mortes em razão da triste realidade atual de sucateamento da malha viária; enfim, nessa copa das copas a ser realizada, o governo passaria a ter responsabilidade pela execução de políticas públicas verdadeiramente centradas nas suas atribuições constitucionais, em obediência aos estritos princípios de moralização e efetividade da administração pública, com embargo às maquiavélicas medidas destinadas à perenidade no poder, que somente têm contribuído para o subdesenvolvimento da nação. A sociedade precisa se conscientizar, com urgência, sobre a necessidade de o país ser administrado com competência e responsabilidade, respeitados os princípios republicano e democrático, com vistas à estrita satisfação do interesse público e da melhoria do bem comum. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de julho de 2014

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