É
evidente que o Brasil não foi vítima trágica dos deuses do futebol, que jamais
teriam coragem de tramar tamanha crueldade para com quem sempre foi o mais fiel
dos amantes do futebol arte e que nunca deixou de merecer o reconhecimento por
suas bravuras e estripulias em nome dos melhores artistas da bola. Se o futebol
brasileiro não foi brilhante e premiado é porque realmente ele deixou de ser o
melhor, o mais notável entre os melhores, mas a prepotência de alguns pode ter
contribuído para a maior punição já imposta a quem se achava o suprassumo dos
gramados. Trata-se de momento de mediocridade e de incapacidade competitiva, ou
seja, da patente fragilidade, embora insistisse em reconhecer a sucumbência
diante de quem soube se organizar, de forma adequada, para competir com a
eficiência que se exige o futebol moderno e atual, que destoa da prepotência, a
incompetência e a arrogância, demonstradas pela comissão técnica tupiniquim,
que, mesmo antes do início da competição, já tinha a certeza, e isso era
apregoado aos quatro cantos, que o título era favas contadas, em claro menosprezo
aos demais competidores, que, ao contrário, mostraram humildade e competência
durante o desenrolar dos jogos, enquanto a Seleção do Brasil não passou de um
bando de jogadores mal treinados e desorganizados em campo, demonstrando tão
somente uns despreparados e um conjunto de atletas expostos à própria
fragilidade imposta pelos (ir)responsáveis pelo futebol brasileiro. A trágica derrota
para o Uruguai, em 1950 ainda ressoa na consciência até mesmo dos brasileiros
que nem tinham nascidos, mas a patética e humilhante perda do jogo para a
Alemanha terá o condão de gravar no coração e na mente desta geração uma lição
que jamais será esquecida, ficando registrada como a pior vergonha e humilhação
que o povo pode sentir - com o time jogando em casa e apoiado pelos brasileiros
- principalmente para quem sempre incute a fama de que em algum tempo ter sido considerado
o melhor de todos, sendo os outros apenas os outros mesmos, fato que contribui
para que a alma do brasileiro nunca mais tenha paz, pela destruição do orgulho
e da beleza construídos pelos eternos atletas da geração de ouro do futebol
brasileiro, que se eternizaram por sua competência e capacidade de superação
que faltaram aos nossos atuais jogadores, que se perderam em amontoados esquemas
totalmente desatualizados e ultrapassados, que não conseguiram acompanhar a
verdadeira evolução do futebol moderno, de conjunto, praticado noutros
gramados. Não há dúvida de que o fracasso do esquete canarinho acena para a
necessidade de profunda reflexão sobre o estágio do futebol brasileiro, de modo
que o significado das acachapantes derrotas seja motivo de urgente reformulação
dos conceitos sobre a precariedade existente não somente no futebol, mas,
sobretudo, na administração pública do país, que ainda não percebeu que as
políticas públicas estão distanciadas da verdadeira realidade dos brasileiros,
principalmente quanto à suficiência da prestação dos serviços públicos, que
padecem de quantidade e qualidade. O que importa, enfim, é que os desastrosos
resultados da seleção podem contribuir para a conscientização sobre a urgente
necessidade de ser preciso reinventar o Brasil no seu conjunto, compreendendo
reformulação dos conceitos social, político, econômico e também futebolístico,
de modo que seus objetivos de progresso se tornem mais vigorosos e que os projetos
sonhados de otimismo possam se tornar realidade, não somente no futebol, mas
especialmente na vida dos brasileiros, ante as riquezas e potencialidades
econômicas e sociais do país. Convém que se acredite que o Brasil tem condições
e potencialidades capazes de tirar proveito do caos para o soerguimento de seus
objetivos de superação e de conquistas, desde que esteja seguro de que as
derrotas devem ser apenas lição para a edificação do projeto de reconstrução
dos princípios capazes do entendimento sobre as deficiências que levaram à
ruína e às tristezas imprevisíveis. É
verdade que a mediocridade demonstrada pelos políticos, a corrupção pública e
privada, a extinção de critérios de valor, a violência predominante nos centros
urbanos, a desconfiança quanto ao futuro, às incertezas quase generalizadas e
tantas outras precariedades e desesperanças contribuam para que os brasileiros
se conscientizem sobre a necessidade de se avaliar sobre o futuro do país sendo
administrado por políticos que já demonstraram claramente seus objetivos tão
somente sobre a perenidade no poder, não medindo esforços quanto às alianças
espúrias e inescrupulosas, envolvendo a distribuição de cargos públicos dos
ministérios e das empresas estatais, como forma de garantir apoio político,
notadamente com relação a alguns minutos do horário eleitoral, como se isso e
somente isso fosse mais importante do que os interesses da sociedade e do país.
É estranho que, diante da humilhação da Seleção Canarinha nos gramados
brasileiros, a presidente da República demonstre interesse em reformular apenas
o futebol, que diz respeito à iniciativa privada, quando ela deveria se
preocupar essencialmente com a reformulação das estruturas do Estado, tão
carente de reformas, aperfeiçoamento e modernização, como forma de funcionar em
conformidade com os princípios científicos da competência e da eficiência. Compete
aos brasileiros a urgente conscientização de que o país padece dos princípios
fundamentais da dignidade e do respeito à competência e à eficiência, em todos
os segmentos, não importando a sua penetração na prática desportiva ou na
administração do país, que simplesmente patina no lamaçal da incompetência e da
ineficiência da gestão dos recursos públicos, notadamente no diz respeito às ausências
de prioridades das políticas públicas, que não podem se restringir somente à
distribuição de renda, que tem visível viés eleitoreiro, como se os demais
programas de governo não tivessem nenhuma importância para o desenvolvimento da
nação. O legado da Copa do Mundo acena com clareza para urgente necessidade de
reformulação dos conceitos da sociedade, quanto à forma da atuação política e
sobre a necessidade da exigência do atendimento de seus direitos de cidadão e
das estruturas do Estado, compreendendo os sistemas tributário, administrativo,
trabalhista, fiscal, político, previdenciário etc., com passagem no modelo futebolístico, que não pode ficar estático no tempo, como
forma de integração do país à verdadeira modernidade já alcançada pelas nações
desenvolvidas. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de julho de 2014
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