A última pesquisa realizada pelo DataFolha, quanto
à preferência à corrida presidencial, mostra que as pessoas ouvidas, pelo menos
63%, estão satisfeitas e felizes com a Copa do Mundo no Brasil, mas existe um
fator interessante nisso que é a atribuição desse excepcional avanço à
competência do governo, como se a realização de evento dessa natureza e magnitude
fosse prerrogativa ou atribuição de administração pública competente e responsável.
Não se pode desconhecer que é absolutamente ilegítima a aplicação de recursos
públicos em obras exclusivamente de interesse privado, como é o caso da insensibilidade
política da construção e das reformas de estádios de futebol para a copa, a
exemplo dos gastos realizados pelo Estado brasileiro, por meio de
financiamentos do BNDES. Não há a menor dúvida de que o povo demonstra não ter
o mínimo de racionalidade ao opinar sobre a copa, quando antes deveria
se manifestar acerca das “maravilhas” das políticas públicas do governo com
relação aos “excelentes” sistemas da saúde pública, onde as pessoas são
pessimamente atendidas, quando são; do ensino público, cuja qualidade situa-se
entre os piores países do planeta; da segurança púbica, que funciona tão
precariamente que a criminalidade impera com absoluta desenvoltura nunca vista;
dos transportes, pelo sucateamento das estradas, completamente esburacadas e
mal sinalizadas; do saneamento básico, onde a maioria das cidades, inclusive as
metrópoles, tem esgotos à céu aberto; entre outras precariedades que deveriam
ser analisadas com a maior prioridade, mostrando ao governo que a Copa do Mundo
poderia até ser realizada no país, desde que sob os auspícios financeiros do
empresariado, ou seja, da iniciativa privado, enquanto ao governo caberia
apenas cuidar das políticas públicas da sua obrigação constitucional e legal,
em harmonia privativa com a satisfação do interesse da sociedade. É lamentável
que parcela significativa da população seja pouco ou totalmente despolitizada,
não permitindo que ela tenha condições de avaliar o desempenho do governo na
sua plenitude e na esfera da sua competência constitucional, não somente quanto
à realização da copa, que tem sido agora o foco principal dele, como objeto de
discussão, inclusive com reiteradas acusações de que os pessimistas foram
derrotados, à vista do êxito do evento. Na verdade, nem a imprensa e muito
menos a oposição estão percebendo que interessa ao governo explorar o tema da
copa, ressaltando amiudamente seu sucesso, justamente tendo a finalidade de
empurrar os holofotes da mídia para terreno diferente de onde está acontecendo
terremoto de enorme repercussão negativa nos planos da reeleição da presidente,
qual seja o desastroso desempenho da economia, cujos fatores evidenciam que as
contas públicas continuam incontroláveis; a inflação em escalada ascendente e
ultrapassando a meta oficial; os juros nas alturas; a carga tributária sendo das
mais pesadas do mundo; a máquina pública comandada por políticos cooptados pelo
sistema fisiológico; a precariedade da prestação dos serviços públicos, a
exemplo de saúde, educação, segurança, transportes, infraestrutura, saneamento
básico; aliados ao rosário de deficiências e incompetências que contribuem para
o subdesenvolvimento do país e que o assunto pertinente à simples realização da
copa, em termos de administração da nação, torna-se insignificante como tema de
avaliação do desempenho da presidente do país, que fica muito a dever no que
diz respeito às questões verdadeiramente capitais da sua administração. Percebe-se, com facilidade, a
dificuldade de avaliação dos eleitores, que, além de ignorar as questões
primordiais passíveis de suas considerações, a exemplo da precária
situação econômica do país e execução das políticas públicas, também não devem
ter sido lembrados por eles os escândalos envolvendo o gerenciamento da
Petrobras, com a aquisição da sucateada refinaria de Pasadena, nos EUA, por
preço superfaturado, e a ingerência palaciana nas operações e nos negócios da
estatal, com notórios prejuízos ao seu patrimônio, cujos fatos conspiram contra
o desempenho da presidente, à vista da instalação de Comissões Parlamentares de
Inquérito no Congresso Nacional, o que já demonstra a gravidade das
irregularidades apontadas. O certo é que as pesquisas são falhas, por não
abrangerem à realidade dos fatos político-administrativos relacionados aos
envolvidos, mas elas refletem o momento de cada ou a situação enfocada, como no
caso da Copa do Mundo, em prejuízo de casos relevantes que deveriam interferir
no seu resultado, evidenciando momento de exclusiva conveniência política do
governo. Convém que os institutos de pesquisa esclareçam aos eleitores pesquisados
sobre os fatos de interesse da avaliação de desempenho das pessoas envolvidas,
a exemplo das questões acima enfocadas e explanadas, como forma de legitimar os
resultados objetivados, em sintonia com o aperfeiçoamento dos princípios
republicano e democrático. Acorda Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de julho de 2014
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