Felizmente, a tragédia ocorrida com a Seleção verde-amarela
na Copa do Mundo pode ter explicação natural e mais do que plausível, ante a idêntica
situação catastrófica que permeia a administração do país, causada pela notória
precariedade da prestação dos serviços públicos, afetados pela falta de priorização
das políticas públicas e pelo desprezo aos princípios da moralidade, economicidade,
competência, legitimidade e transparência, em evidente desdém aos conceitos de zelo
e responsabilidade do administrador público com a res publica, por haver descumprimento do dever constitucional de
cuidar e agir em consonância com os compromissos assumidos politicamente. Não é
novidade que o governo, mentor do aludido evento, garantidor da sua organização
e responsável pelas reformas e construção dos megalomaníacos estádios, com
recursos públicos, já havia planejado e deliberado, exatamente na fase do seu
nascedouro, que iria usar o sucesso do empreendimento na campanha da reeleição
da candidata petista, como forma de tirar proveito da gloriosa trajetória da Seleção
brasileira, como se o desempenho dela devesse ser atrelado à administração do
país e que a sua contribuição fosse fundamental para as conquistas políticas,
ainda que ambos os casos sejam completamente dissociados. Como foram constatadas
na última pesquisa DataFolha, as intensões de voto para a presidente teriam
sido aumentadas em razão do bom funcionamento da copa e, por conta disso, os
marqueteiros da campanha já contavam como certo que a presidente estava sendo
preparada para aparecer nos programas eleitorais repleta de entusiasmos,
vangloriando-se aos quatro cantos, por ter sido responsável pelo êxito da copa
e das conquistas do esquete nacional. Na verdade, quem conhece o PT, sabe
perfeitamente que a realização desse importante evento tinha por finalidade
justamente mostrar algo que o governo não conseguiu implementar na
administração do país, qual seja, capacidade gerencial à altura das riquezas e
potencialidades do Brasil, por não ter realizado nenhuma reforma sobre as
estruturas do Estado, que são mais do que necessárias, principalmente nos
setores tributário, político, econômico, fiscal, administrativo, trabalhista, tecnológico,
educacional, previdenciário, infraestrutura etc., sem os quais não há como a
nação se desenvolver social, política e economicamente, ante os entraves que
emperram os mecanismos capazes de contribuir para o progresso nacional, que o governo
os ignora e despreza. Não há dúvida de que, caso o governo tivesse conseguido
mostrar competência na administração do país, principalmente com relação à
prestação de serviços públicos de qualidade e à suficiência das necessidades
básicas da população, no que diz respeito à eficiência e à satisfação do
interesse da sociedade, nos programas e nas atividades pertinentes à educação,
à saúde, à segurança, ao saneamento básico, aos transportes etc., não
precisaria se desesperar em busca do possível sucesso da Copa do Mundo e muito
menos do desempenho da Seleção Canarinha para atrelar à sua campanha à
reeleição. Não há dúvida de que a Seleção Alemã, sem perceber ou pretender,
acaba de prestar inestimável contribuição ao povo brasileiro com a vitória
sobre o esquete brasileiro, evidentemente que não precisava tamanho massacre e
ainda com requinte de crueldade, mas o simples afastamento do time do Brasil da
final da copa teve o condão de quebrar o ímpeto do governo brasileiro de se
apropriar indevidamente desse fato para associá-lo à campanha eleitoral da
candidata petista, com o propósito de mostrar uma competência que somente inexiste
no funcionamento da copa e não na gestão do país, a exemplo da situação crítica
e complicada do desempenho da economia, com a inflação em alta, superando a
meta do Banco Central; o descontrole das contas públicas; as taxas de juros nas
nuvens; a incontrolável e altíssima dívida pública; a pesada carga tributária;
o pífio resultado do Produto Interno Bruto – PIB; a continuada perda de
competitividade dos produtos nacionais; a debandada do capital estrangeiro, que
não suporta o famigerado e agressivo custo Brasil; entre outros entraves e
precariedades administrativos que estão contribuindo, de forma preponderante e
decisiva, para o subdesenvolvimento do país, que não merece padecer no
torvelinho da crise de incompetência e ineficiência gerenciais, ante as suas
potencialidades e riquezas de sétima economia mundial que, se aproveitadas com
eficiência e capacidade administrativas, a nação certamente não estaria em
condições tão precárias e sem esperanças de futuro promissor. Os fatos revelam à
saciedade que, não fosse a impiedosa surra aplicada à Seleção Canarinha pelo
eficiente time alemão, a quem os brasileiros têm preito de eterna gratidão por essa
façanha, o país teria enorme possibilidade de mergulhar de vez num processo
trágico de subdesenvolvimento, por consequência de inevitável campanha de
marketing governamental, mediante a apoderação dos benefícios resultantes do
desempenho de outrem para mostrar capacidade que a presidente não conseguiu
imprimir na administração do país, fato esse que denota, com inexorável
clareza, a sua falta de condições para continuar administrando a nação com a grandeza
do Brasil, que não pode depender de fatos inusitados e absurdos como esse da
Copa do Mundo para o seu gerenciamento. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de julho de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário