domingo, 6 de julho de 2014

Obras inúteis e irrelevantes

As análises sobre a última pesquisa Datafolha acenam para os principais destaques a superação dos obstáculos contra a realização da Copa do Mundo no Brasil e a constatação do seu sucesso. O governo está plenamente embebecido com a recuperação das intenções de voto da presidente da República, tendo concluído que tanto a imprensa como a oposição erraram ao prever o fracasso do evento. Os números são animadores, por mostrarem sensível melhora da intenção de voto na mandatária do país, na aprovação de seu governo e na expectativa em relação à economia. O resultado dessa pesquisa vai servir de argumento político ao governo para ser usado na campanha eleitoral, em proveito da administração petista, como elemento para robustecer o discurso presidencial de que o pessimismo foi derrotado, como se o governo tivesse investido recursos públicos em empreendimentos de interesse da sociedade, quando é notório que os estádios não têm a menor serventia para a satisfação do interesse público, posto que eles continuem sendo usufruto somente da cartolagem, bastante distanciada da população. Agora causa perplexidade se saber que integrantes da campanha petista avalia acusar a imprensa e a oposição de boicote à copa, com a finalidade de prejudicar o país. No entanto, outra ala governista pretende adotar o tom de otimismo, sob o argumento de que o Brasil foi capaz de se unir para realizar o evento mundial, conquistado no governo do ex-presidente, como forma de demonstrar humildade e angariar a simpatia dos brasileiros. Numa ou noutra forma, é muito estranho que a aprovação da Copa do Mundo possa servir para propiciar alívio e fôlego ao governo, que, nesta altura do campeonato, quando se começa para valer a campanha eleitoral, tem como seu calcanhar de Aquiles o desastroso desempenho da economia, com a inflação em ritmo de alta, as taxas de juros nas alturas, o parque industrial em processo de desaceleração, com a produção perdendo progressiva competitividade, os investimentos estrangeiros dando às costas ao Brasil, ante as dificuldades de enfrentar a pesada carga tributária, os elevados e diversificados encargos previdenciários e trabalhistas, além de outros gargalos que comprimem os sistemas industrial e econômico. A mediocridade político-administrativa tupiniquim não consegue vislumbrar que, com pessimismo ou otimismo na realização da Copa do Mundo, nenhum benefício será demandado para a sociedade depois da sua realização, salvo os assombrosos e astronômicos gastos com os estádios, que já foram incorporados aos ombros dos bestas dos contribuintes, pois o povo vai continuar sendo desrespeitado e menosprezado com a costumeira qualidade de quinta categoria dos serviços públicos prestados pelo governo, que não se digna a aprimorá-los e equipará-los às obras dos estádios, que foram executadas sob as exigências de qualidade padrão Fifa. O governo tem é que se envergonhar de ter gastado tanto dinheiro em obras inúteis e irrelevantes para a sociedade, quando deveria ter destinados os recursos para empreendimentos exclusivamente de interesse público, exigindo que os estádios fossem construídos e reformados com recurso da iniciativa privada, em conformidade com a garantia do governo junto à Fifa, quando da entrega da documentação de candidato a país-sede. É decepcionante que o Estado assuma os gastos que eram da iniciativa privada e depois pretenda se vangloriar de ter realizado a Copa das Copas, com recursos públicos, e ainda manifeste indigna pretensão de se beneficiar eleitoralmente, para mostrar que teve capacidade de cumprir, de forma eficiente, as severas exigências da Fifa. Todavia, o mesmo governo demonstra não ter capacidade de administrar com a mesma eficiência, mesmo sendo cobrado pela população, os programas e as políticas públicas, motivo que o leva a ser desacreditado e criticado pelos economistas nacionais e internacionais, diante da visível incompetência na administração do país, cuja gestão é sinônimo de convivência pacífica com o fisiologismo exacerbado; o inchamento da máquina pública, para o atendimento às alianças espúrias; a corrupção, como no último caso ocorrido na Petrobras; e com tantas precariedades que estão contribuindo para que o país esteja entre os piores países na avaliação dos índices de desenvolvimento humano. Com tantas mazelas no país, os “iluminados” governistas ainda têm a indignidade de se autopromoverem pela realização de copa absolutamente dispensável para a realidade e os padrões de miserabilidade de parcela significativa dos brasileiros, muitos dos quais ainda são beneficiários do principal programa assistencialista do governo, que tem por finalidade contribuir para incentivar o desprezo ao pleno emprego e à produção e para a consolidação de brasileiros cada vez mais dependentes das benesses assistencialistas, sem perspectiva de trabalharem e dignificam o próprio sustento com o seu trabalho, a exemplo do que acontece nos países um pouco evoluído e administrado com competência. Sob a ótica da eficiência administrativa, a realização da copa em si não significativa absolutamente nada para o país, conquanto os serviços públicos permaneçam no mesmo padrão de qualidade brasileiro, ou seja, sem padronização civilizada. Urge que a sociedade se conscientize sobre a necessidade de efetivas mudanças nas mentalidades dos homens públicos, no sentido de capacitá-los a evoluir e compreender que os recursos públicos somente devem ser despendidos em empreendimentos destinados à satisfação do interesse da sociedade e do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 05 de julho de 2014

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