Ao demonstrar satisfação por não terem
sido confirmadas as previsões negativas a respeito dos preparativos para a Copa
do Mundo, a presidente da República declarou que “Tem um clima de pessimismo criado no Brasil. (…) Teve um processo de instilar o pessimismo em
relação à Copa”. Ela se referiu ao prognóstico de que o Maracanã somente ficaria
pronto em 2038 (reportagem de 2011 da revista Veja) e aos vaticínios sobre a falta de estádios e de energia
(artigos em geral). Não obstante, a presidente não responsabilizou a imprensa
pelo “clima de pessimismo”. Ela rebateu
o discurso da Fifa sobre os atrasos nas obras e a dificuldade de lidar com o
Brasil. “Eles (integrantes da Fifa) fizeram a mesma coisa na África do Sul. A
mesma coisa”, tendo assegurado que as obras prometidas para a realização da
Copa foram feitas. A presidente foi além indagou: “Eu quero saber o seguinte: o que nós prometemos que nós não entregamos?
(…) Não estou vendo a Fifa falar
agora. A Fifa tá mudando o discurso. A Fifa e a imprensa. Você me desculpa. Tá
todo mundo mudando o discurso.”. O clima de pessimismo a que a presidente
faz questão de sublinhar tem origem dentro do próprio governo, ou seja, a culpa
pelo caos na administração pública é do governo, que não consegue demonstrar
competência para cumprir a contento seus compromissos, em especial as obras da
copa, foram concluídas antes do início do evento, mas sob as constantes e
agudas cutucadas da Fifa, apontando lentidão no seu cronograma. Embora o
governo tente abafar, aproveitando a fase aguda da copa, o enorme pessimismo
quanto ao desempenho econômico, onde há espaço para o descontrole das contas
públicas, o aumento da inflação, com ameaça à superação do teto estabelecido,
as altas taxas de juros, o sofrível desempenho do Produto Interno Bruto, o
artificialismo da contabilidade criativa, a disseminação da corrupção da
Petrobras, o estouro do orçamento programado para obras, entre outras
precariedades que são capazes de robustecer as convicções sobre a deficiência
gerencial e administrativa do país. Nos países desenvolvidos, a mídia presta
importante contribuição à sociedade, não somente na divulgação das boas notícias, mas também daquelas pertinentes às
insuficiências governamentais, que, no país tupiniquim, são cada vez mais acentuadas pela escassez de
medidas capazes de reverter as precariedades. As declarações da presidente
insinuam que ela está vivendo noutro país, onde a situação econômica difere da
brasileira, cujo governo resiste a entender a real precariedade da prestação de
serviços públicos, a exemplo de saneamento básico, educação, segurança, saúde
etc., que contribuem para colocar o país entre os piores do mundo, no tocante à
avaliação dos índices de desenvolvimento humano, em contraste com a sua
grandeza econômica, por ser considerado a sétima potência econômica. O clima de
pessimismo é atestado não somente pelo povão, mas em especial pelos
especialistas da área econômica, que estão calejados de apontar as crônicas
mazelas da gestão do país, mas o governo só tem ouvidos para as questões
assistencialistas, por se harmonizarem com seus anseios, deixando as causas
nacionais em planos secundários, a exemplo das reformas estruturais do Estado.
À toda evidência, a presidente do país não tem a menor razão, ao dizer
que tem um clima de pessimismo no Brasil, porque, na verdade, não se trata de
clima em si, mas sim de fatos concretos e reais, demonstrando que a nação se
encontra na contramão da realidade econômica, por não conseguir se desenvolver nas
condições vigentes, exatamente por falta de iniciativa e de políticas públicas condizentes
com os novos tempos, que exigem modernidade das estruturas administrativas, não
correspondidas pelo governo, que já demostrou não ter capacidade para promover
as prementes reformulações dos sistemas obsoletos e ultrapassados, as quais são
imprescindíveis para que possam ser quebrados os terríveis gargalos que estão
emperrando o ideal desempenho da economia, principalmente no que diz respeito
aos investimentos privados, que sucumbiram à pesada carga tributária; aos
complexos encargos previdenciários; à terrível burocracia; às escorchantes
taxas de juros (11% a.a.), enquanto na Comunidade Europeia não passa de 0,15%
a.a.; entre outros empecilhos que impedem quaisquer perspectivas favoráveis ao
clima de otimismo. É bastante preocupante que essa situação ainda persista no
país como o Brasil, por possuir reais potencialidades naturais e econômicas,
mas ainda está faltando competência gerencial e administrativa para a
implantação de medidas capazes de transformar os recursos materiais e
econômicos em instrumentos produtivos, como maneira de fomentar o
desenvolvimento do país. Enquanto o governo não vislumbrar que a mesmice, a
continuidade dos sistemas ultrapassados e contraproducentes somente para
aprofundar a realidade pessimista pela qual grassa no país, não existe a menor
possibilidade de o gigante Brasil se despertar dessa eterna letargia. Urge que
a sociedade se conscientize, com urgência, sobre a necessidade de o país ser
administrado por estadista que tenha condições de vislumbrar as verdadeiras
precariedades da nação e de adotar as políticas públicas compatíveis com a sua resolução,
de modo a possibilitar o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de junho de 2014
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