terça-feira, 1 de julho de 2014

Clima de pessimismo?

Ao demonstrar satisfação por não terem sido confirmadas as previsões negativas a respeito dos preparativos para a Copa do Mundo, a presidente da República declarou que “Tem um clima de pessimismo criado no Brasil. (…) Teve um processo de instilar o pessimismo em relação à Copa”. Ela se referiu ao prognóstico de que o Maracanã somente ficaria pronto em 2038 (reportagem de 2011 da revista Veja) e aos vaticínios sobre a falta de estádios e de energia (artigos em geral). Não obstante, a presidente não responsabilizou a imprensa pelo “clima de pessimismo”. Ela rebateu o discurso da Fifa sobre os atrasos nas obras e a dificuldade de lidar com o Brasil. “Eles (integrantes da Fifa) fizeram a mesma coisa na África do Sul. A mesma coisa”, tendo assegurado que as obras prometidas para a realização da Copa foram feitas. A presidente foi além indagou: “Eu quero saber o seguinte: o que nós prometemos que nós não entregamos? (…) Não estou vendo a Fifa falar agora. A Fifa tá mudando o discurso. A Fifa e a imprensa. Você me desculpa. Tá todo mundo mudando o discurso.”. O clima de pessimismo a que a presidente faz questão de sublinhar tem origem dentro do próprio governo, ou seja, a culpa pelo caos na administração pública é do governo, que não consegue demonstrar competência para cumprir a contento seus compromissos, em especial as obras da copa, foram concluídas antes do início do evento, mas sob as constantes e agudas cutucadas da Fifa, apontando lentidão no seu cronograma. Embora o governo tente abafar, aproveitando a fase aguda da copa, o enorme pessimismo quanto ao desempenho econômico, onde há espaço para o descontrole das contas públicas, o aumento da inflação, com ameaça à superação do teto estabelecido, as altas taxas de juros, o sofrível desempenho do Produto Interno Bruto, o artificialismo da contabilidade criativa, a disseminação da corrupção da Petrobras, o estouro do orçamento programado para obras, entre outras precariedades que são capazes de robustecer as convicções sobre a deficiência gerencial e administrativa do país. Nos países desenvolvidos, a mídia presta importante contribuição à sociedade, não somente na divulgação das boas notícias, mas também daquelas pertinentes às insuficiências governamentais, que, no país tupiniquim, são cada vez mais acentuadas pela escassez de medidas capazes de reverter as precariedades. As declarações da presidente insinuam que ela está vivendo noutro país, onde a situação econômica difere da brasileira, cujo governo resiste a entender a real precariedade da prestação de serviços públicos, a exemplo de saneamento básico, educação, segurança, saúde etc., que contribuem para colocar o país entre os piores do mundo, no tocante à avaliação dos índices de desenvolvimento humano, em contraste com a sua grandeza econômica, por ser considerado a sétima potência econômica. O clima de pessimismo é atestado não somente pelo povão, mas em especial pelos especialistas da área econômica, que estão calejados de apontar as crônicas mazelas da gestão do país, mas o governo só tem ouvidos para as questões assistencialistas, por se harmonizarem com seus anseios, deixando as causas nacionais em planos secundários, a exemplo das reformas estruturais do Estado. À toda evidência, a presidente do país não tem a menor razão, ao dizer que tem um clima de pessimismo no Brasil, porque, na verdade, não se trata de clima em si, mas sim de fatos concretos e reais, demonstrando que a nação se encontra na contramão da realidade econômica, por não conseguir se desenvolver nas condições vigentes, exatamente por falta de iniciativa e de políticas públicas condizentes com os novos tempos, que exigem modernidade das estruturas administrativas, não correspondidas pelo governo, que já demostrou não ter capacidade para promover as prementes reformulações dos sistemas obsoletos e ultrapassados, as quais são imprescindíveis para que possam ser quebrados os terríveis gargalos que estão emperrando o ideal desempenho da economia, principalmente no que diz respeito aos investimentos privados, que sucumbiram à pesada carga tributária; aos complexos encargos previdenciários; à terrível burocracia; às escorchantes taxas de juros (11% a.a.), enquanto na Comunidade Europeia não passa de 0,15% a.a.; entre outros empecilhos que impedem quaisquer perspectivas favoráveis ao clima de otimismo. É bastante preocupante que essa situação ainda persista no país como o Brasil, por possuir reais potencialidades naturais e econômicas, mas ainda está faltando competência gerencial e administrativa para a implantação de medidas capazes de transformar os recursos materiais e econômicos em instrumentos produtivos, como maneira de fomentar o desenvolvimento do país. Enquanto o governo não vislumbrar que a mesmice, a continuidade dos sistemas ultrapassados e contraproducentes somente para aprofundar a realidade pessimista pela qual grassa no país, não existe a menor possibilidade de o gigante Brasil se despertar dessa eterna letargia. Urge que a sociedade se conscientize, com urgência, sobre a necessidade de o país ser administrado por estadista que tenha condições de vislumbrar as verdadeiras precariedades da nação e de adotar as políticas públicas compatíveis com a sua resolução, de modo a possibilitar o desenvolvimento do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de junho de 2014

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