terça-feira, 22 de julho de 2014

Sucesso ou ressaca da Copa do Mundo?

O jornal americano "The New York Times" destaca que o Brasil foi um sucesso, menos nos gramados. A reportagem elogia a excelência da organizada do Mundial, que conseguiu superar os temores de que ele seria caótico, diante da possibilidade de violência e de protestos contra os gastos das obras. O jornal ressaltou que o povo brasileiro foi bastante hospitaleiro, tendo contribuído com o êxito do evento. A reportagem afirma que a esperança da equipe em conquistar o hexacampeonato esbarrou na humilhante derrota para a Alemanha na semifinal, que transformou a esperança em estrondosa frustração. O texto diz que, apesar dos pesares, os brasileiros reagiram com bom humor, aproveitando para fazer piadas sobre o insucesso da sua seleção. O artigo também diz que a derrota da Argentina para a Alemanha serviu de "alívio" para os brasileiros, que aplaudiram com veemência o gol da vitória alemã. Já o jornal “Wall Street Journal” lembra que apesar de a seleção brasileira ter sido derrubada nas semifinais, os líderes políticos do país celebram os sucessos, principalmente pelo bom funcionamento dos aeroportos, pela conclusão dos estádios e ainda pelas infundadas preocupações sobre protestos. Mas o texto diz que “Agora chegou a ressaca. O Brasil está passando por provações, incluindo o desafio de uma economia moribunda e eleições que potencialmente provocarão divisões em outubro. O país precisa se preparar para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, outro evento que os organizadores dizem que está atrasado e que mais uma vez provoca críticas sobre as prioridades de gastos do país”. O artigo destaca que um economista responsável por acompanhar o país no Barclays, em Nova York, teria dito: “Durante a Copa, o Brasil estava numa ‘ilha da fantasia’, mas o choque de realidade virá.”, para se referir ao que ele entende sobre as revisões para baixo das previsões de economistas para o resultado do crescimento do PIB do país neste ano, com sofrível expansão de apenas 0,7%, ante previsão anterior de 1,7%. O “WSJ” vai além, afirmando que “Após quatro anos de estagnação, as fábricas estão cortando a produção. Os esforços do Brasil para estimular o crescimento com grandes estímulos federais, crédito ao consumo e ajuda em dinheiro para os pobres parecem já ter corrido seu curso. Enquanto a Copa do Mundo foi um sucesso, ela não forneceu a grande recompensa econômica que o anfitrião estava procurando. Brasil planejava usar o torneio para estimular a construção de trens, metrôs e outras infraestruturas que iria aumentar as suas economias locais. Muitos desses chamados projetos de legado, como um trem de alta velocidade planejada entre São Paulo e Rio [o trem-bala], nunca foram construídos”, lembrando ainda que muitos dos estádios construídos jamais serão tanto usados. Por último, o jornal britânico “The Guardian” descreveu que a Copa do Mundo no Brasil mostrou que “... o Brasil foi um anfitrião inebriante e acolhedor (...) mas a discussão sobre os US$ 13,5 bilhões de dinheiro público investidos no torneio vai continuar por muito tempo, mesmo depois que o circo da Fifa deixar a cidade, particularmente em locais como Manaus e Natal, onde estádios novinhos em folha não têm uso sustentável óbvio” e ainda que o acidente com um viaduto em Belo Horizonte, que matou duas pessoas, foi um “lembrete do custo humano que pode ter uma construção feita de última hora”. Veja-se que os meios de comunicação são unânimes em apontar o sucesso da copa no Brasil, mas também em ressaltar as precariedades que foram naturalmente deixadas de lado pelo governo, como se o Mundial fosse a única e mais importante prioridade da gestão do país, quando, na realidade, se trata de projeto que jamais deveria ter sido imaginado ou idealizado por governantes que desprezam as reais políticas públicas que interessam à sociedade, em termos de resolução das graves pendências sociais, principalmente com relação à infraestrutura, ao saneamento básico, à segurança pública, à saúde pública, à educação, aos transportes e tantos outros gigantescos problemas que foram suplantados pela realização da famigerada Copa do Mundo, que tinha por escopo básico a realização de grandes obras que sequer saíram do papel ou da tabuleta, justamente em razão da incapacidade de realização de obras realmente importantes para a mobilidade urbana, aquelas que seriam o que tanto se falava de maior importância da copa, i.e., o seu legado, que jamais será objeto de discussão, quanto mais de execução, porque agora a prioridade se assenta na plenitude dos objetivos da reeleição e da perenidade no poder, em detrimento de quaisquer projetos e atividades de interesse da sociedade e do país. Compete ao povo eleger as políticas públicas prioritariamente compatíveis com a melhoria das suas condições de vida, com pleno desprezo aos governantes que miram somente a satisfação dos interesses pessoais e partidários, em contraposição às causas da sociedade e do país, com grave ferimento aos princípios republicanos de unidade e desenvolvimento nacionais. Acorda, Brasil!  
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de julho de 2014

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