O jornal americano
"The New York Times" destaca que o Brasil foi um sucesso, menos nos
gramados. A reportagem elogia a excelência da organizada do Mundial, que
conseguiu superar os temores de que ele seria caótico, diante da possibilidade
de violência e de protestos contra os gastos das obras. O jornal ressaltou que
o povo brasileiro foi bastante hospitaleiro, tendo contribuído com o êxito do
evento. A reportagem afirma que a esperança da equipe em conquistar o
hexacampeonato esbarrou na humilhante derrota para a Alemanha na semifinal, que
transformou a esperança em estrondosa frustração. O texto diz que, apesar dos
pesares, os brasileiros reagiram com bom humor, aproveitando para fazer piadas sobre
o insucesso da sua seleção. O artigo também diz que a derrota da Argentina para
a Alemanha serviu de "alívio" para os brasileiros, que aplaudiram com
veemência o gol da vitória alemã. Já o jornal “Wall Street
Journal” lembra
que apesar de a seleção brasileira ter sido derrubada nas semifinais, os
líderes políticos do país celebram os sucessos, principalmente pelo bom
funcionamento dos aeroportos, pela conclusão dos estádios e ainda pelas
infundadas preocupações sobre protestos. Mas o texto diz que “Agora chegou a ressaca. O Brasil está passando por provações,
incluindo o desafio de uma economia moribunda e eleições que potencialmente
provocarão divisões em outubro. O país precisa se preparar para os Jogos
Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, outro evento que os organizadores dizem
que está atrasado e que mais uma vez provoca críticas sobre as prioridades de
gastos do país”. O artigo destaca que um economista responsável por
acompanhar o país no Barclays, em Nova York, teria dito: “Durante a Copa, o Brasil estava numa ‘ilha da fantasia’, mas o choque
de realidade virá.”, para se referir ao que ele entende sobre as revisões
para baixo das previsões de economistas para o resultado do crescimento do PIB
do país neste ano, com sofrível expansão de apenas 0,7%, ante previsão anterior
de 1,7%. O “WSJ” vai além, afirmando que “Após
quatro anos de estagnação, as fábricas estão cortando a produção. Os esforços
do Brasil para estimular o crescimento com grandes estímulos federais, crédito
ao consumo e ajuda em dinheiro para os pobres parecem já ter corrido seu curso.
Enquanto a Copa do Mundo foi um sucesso,
ela não forneceu a grande recompensa econômica que o anfitrião estava
procurando. Brasil planejava usar o torneio para estimular a construção de
trens, metrôs e outras infraestruturas que iria aumentar as suas economias
locais. Muitos desses chamados projetos de legado, como um trem de alta velocidade
planejada entre São Paulo e Rio [o trem-bala], nunca foram construídos”,
lembrando ainda que muitos dos estádios construídos jamais serão tanto usados.
Por último, o jornal britânico “The Guardian” descreveu que a Copa do Mundo no
Brasil mostrou que “... o Brasil foi um
anfitrião inebriante e acolhedor (...) mas a discussão sobre os US$ 13,5
bilhões de dinheiro público investidos no torneio vai continuar por muito
tempo, mesmo depois que o circo da Fifa deixar a cidade, particularmente em
locais como Manaus e Natal, onde estádios novinhos em folha não têm uso
sustentável óbvio” e ainda que o acidente com um viaduto em Belo Horizonte,
que matou duas pessoas, foi um “lembrete
do custo humano que pode ter uma construção feita de última hora”. Veja-se
que os meios de comunicação são unânimes em apontar o sucesso da copa no
Brasil, mas também em ressaltar as precariedades que foram naturalmente
deixadas de lado pelo governo, como se o Mundial fosse a única e mais
importante prioridade da gestão do país, quando, na realidade, se trata de projeto
que jamais deveria ter sido imaginado ou idealizado por governantes que
desprezam as reais políticas públicas que interessam à sociedade, em termos de
resolução das graves pendências sociais, principalmente com relação à
infraestrutura, ao saneamento básico, à segurança pública, à saúde pública, à
educação, aos transportes e tantos outros gigantescos problemas que foram
suplantados pela realização da famigerada Copa do Mundo, que tinha por escopo
básico a realização de grandes obras que sequer saíram do papel ou da tabuleta,
justamente em razão da incapacidade de realização de obras realmente
importantes para a mobilidade urbana, aquelas que seriam o que tanto se falava
de maior importância da copa, i.e., o seu legado, que jamais será objeto de
discussão, quanto mais de execução, porque agora a prioridade se assenta na
plenitude dos objetivos da reeleição e da perenidade no poder, em detrimento de
quaisquer projetos e atividades de interesse da sociedade e do país. Compete ao
povo eleger as políticas públicas prioritariamente compatíveis com a melhoria
das suas condições de vida, com pleno desprezo aos governantes que miram
somente a satisfação dos interesses pessoais e partidários, em contraposição às
causas da sociedade e do país, com grave ferimento aos princípios republicanos
de unidade e desenvolvimento nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de julho de 2014
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