terça-feira, 3 de março de 2015

A renúncia como remédio institucional?

Um notável colunista do “Direto da Redação”, analisando a situação político-administrativa do país, concluiu pela hipótese de renúncia da presidente da República, ensejando a realização de imediatas eleições, por ser medida menos traumática do que o demorado e desgastante processo de impeachment, em razão dos reflexos das relações diplomáticas brasileiras, que seriam seriamente afetadas, em prejuízo dos interesses do país.
Ele disse que “A situação política brasileira assumiu feições de crise grave, no fim-de-semana, com a denúncia do advogado Modesto Carvalhosa, de que a presidenta Dilma e seu governo tentam proteger as empreiteiras envolvidas na corrupção e delitos revelados pela Operação Lava Jato. Quase ao mesmo tempo, o ex-secretário de imprensa durante a presidência de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho no seu blog, num texto virulento pergunta se o governo Dilma está no fundo do poço ou se esse poço é sem fundo, depois de já ter escrito estar o governo Dilma caminhando para a autodestruição. Diante desse clima que se deteriora, agravado pela tendência da bancada petista de rejeitar os ajustes fiscais propostos pela presidenta, o sociólogo Demétrio Magnoli se pronuncia contra o impeachment, prejudicial para a imagem do Brasil, e defende uma renúncia da presidenta e do vice-presidente para serem realizadas novas eleições. Seria a oportunidade do retorno de Lula, mesmo porque na atual situação ninguém pode imaginar como se chegará até 2018.”.
Nessa mesma linha de pensamento, outro experiente articulista também defende a renúncia da presidente, por não vislumbrar a menor possibilidade de defesa de governo que, à toda evidência, já demonstra completa falta de controle da situação do país e está em processo de irremediável transe de progressiva degeneração, conforme sinalizam os indicadores econômicos e os resultados das políticas adotadas por ele.
O articulista rechaça o impedimento, por enxergar nesse processo enorme retrocedendo político, que não se coaduna com a modernidade democrática e também porque, “na nossa democracia, a hipótese de impeachment só se aplica quando há culpa e dolo”, mas ele percebe os perigos que o país corre caso ele continue submetido ao “dilmismo, essa mistura exótica de arrogância ideológica, incompetência e inoperância, que o país não suportará mais quatro anos”.
O articulista lança, como alternativa, que, ao invés da pregação do impeachment, os descontentes e insatisfeitos com a governança do país proponham à petista o repto: “Governe para todos — ou renuncie”.
Ele sentencia: No atual estágio de deterioração de seu governo, a saída realista para Dilma é extrair as consequências do fracasso, desligando-se do lulopetismo e convidando a parcela responsável do Congresso a compor um governo transitório de união nacional. O Brasil precisa enfrentar a crise econômica, definir a moldura de regras para um novo ciclo de investimentos, restaurar a credibilidade da Petrobras, resgatar a administração pública das quadrilhas político-empresariais que a sequestraram. É um programa e tanto, mas também a plataforma de um consenso possível… Se a presidente, cega e surda, prefere persistir no erro, resta apontar-lhe, e a seu vice, a alternativa da renúncia, o que abriria as portas à antecipação das eleições.
Um importante historiador, coincidentemente fiel aos pensamentos supracitados, após analisar os contornos da crise brasileira, concluiu sua explanação afirmando que “O Brasil caminha para uma grave crise institucional, sem qualquer paralelo na nossa história. Dilma é uma presidente zumbi, Por incrível que pareça, apesar dos 54 milhões de votos recebidos a pouco mais de quatro meses, é uma espectadora de tudo o que está ocorrendo. Na área econômica tenta consertar estragos que produziu no seu primeiro mandato, sem que tenha resultados a apresentar no curto prazo. A corrupção escorre por todas as áreas do governo. Politicamente, é um fantoche. Serve a Lula fielmente, pois sequer tem condições de traí-lo. Nada faria sozinha. Assistiremos à lenta agonia do petismo. O custo será alto. É agora que efetivamente testaremos se funciona o Estado Democrático de Direito. É agora que veremos se existe uma oposição parlamentar. É agora que devemos ocupar as ruas. É agora que teremos de enfrentar definitivamente o dilema: ou o Brasil acaba politicamente com o petismo, ou o petismo destrói o Brasil.”.
Os entendidos de política e os especialistas em administração pública estão se manifestando, quase à unanimidade, no sentido de que o governo brasileiro teria entrado numa terrível e dramática encruzilhada que o levou a rumos surpreendentes, que nem ele sabe para onde deve seguir agora, haja vista que a crise arquitetada, criada e nutrida por ele a ajudou a se perder no emaranhado dos fatos basicamente de difícil saneamento, ante a demonstração de total abatimento e incapacidade de reação para a recolocação do país nos rumos da normalidade política, econômica e administrativa.
Os brasileiros precisam se conscientizar, com responsabilidade cívica, sobre a gravidade da crise institucional instalada no país, em razão da degeneração da governança, que demonstra impotência para debelar a crise na condução das políticas públicas, notadamente evidenciadas nas ações econômicas e administrativas, com o país caminhando a passos largos para a inevitável recessão, à vista do crescimento da inflação; do aumento das taxas de juros; da falta de recursos para investimentos públicos e privados; da desindustrialização em ritmo incontrolável, devido à desconfiança do empresariado quanto às ações governamentais; da resistência do governo às reformas estruturais do Estado, que têm sido responsáveis pela estagnação dos processos capazes de contribuir para o desenvolvimento econômico; da precariedade na prestação dos serviços públicos, à vista da indiscutível falência dos sistemas de saúde, educação, transportes, segurança pública, infraestrutura, saneamento básico; e tantas deficiências que contribuem para o caos da administração do país.
Na realidade, o governo integrado por partidos cultores do idealismo fisiológico, como forma de garantia de apoio político, não consegue se desvencilhar de suas amarras, justamente por ter permitido que a incompetência e a ineficiência na condução das atividades político-administrativas e dos princípios da moralidade e da probidade, a exemplo do descomunal escândalo na Petrobras, objeto das investigações da Operação Lava Jato, imperassem tranquila e intensamente no seio da administração do país.
O certo é que a nação passa por sérias e graves dificuldades econômicas, combinadas com os fatos irregulares de corrupção endêmica e sistêmica, que prejudicam seriamente a credibilidade do país no concerto das nações e as perspectivas são as piores possíveis, conforme sinalizam as abalizadas opiniões dos entendidos de política e de administração pública.  
Urge que a sociedade, atenta à sua responsabilidade patriótica, conscientize-se sobre a gravidade da situação político-administrativa do momento e se posicione com vistas à busca de medidas capazes de contribuir para a sua solução, de modo que o país possa retomar o processo de desenvolvimento, ante as suas potencialidades econômicas, que não estão sendo efetiva e adequadamente aproveitadas em benefício da nação e do seu povo, em razão, principalmente, pela incapacidade gerencial de se perceber que as estruturas do Estado faleceram graças à persistência das práticas retrógradas, obsoletas e contrárias ao aperfeiçoamento, à modernidade e à eficiência do funcionamento da administração do país, que, além das precariedades das políticas públicas, privilegia, inexplicavelmente, o idealismo fisiológico como forma de sustentabilidade da coalizão de governabilidade, visivelmente prejudiciais aos interesses nacionais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de março de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário