segunda-feira, 9 de março de 2015

Golpe à consciência da sociedade

 
O meu governo tem o maior orgulho por ter alcançado o recorde de ter 56 milhões de pessoas atendidas pelo programa Bolsa Família.”.  Dilma Rousseff, presidente do Brasil

Devemos medir o sucesso dos programas sociais pelo número de pessoas que deixam de recebê-los, e não pelo número de pessoas que são adicionadas.”. Ronald Reagan, ex-presidente dos EUA
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Em consonância com levantamentos oficiais, os programas assistenciais do governo abrangem o universo de 87 milhões de beneficiários inscritos no seu Cadastro Único, incluindo diversos programas, entre os quais o Bolsa Família (distribuição de renda); PRONATEC (qualificação de pessoas); fomento às atividades rurais; educação integral; isenção de taxa em concursos públicos; Brasil alfabetizado; benefícios da previdência; auxílios emergenciais em casos de enchentes; etc.
No caso do Bolsa Família, os valores comprometidos representam 0,4% do Produto Interno Bruto. Apesar das permanentes críticas sobre a eficácia do funcionamento desses programas, por não se permitir a aquilatação quanto à efetividade da sua execução, causa estranheza o fato de os três principais candidatos à Presidência da República mantiveram, nos seus planos de governo, a disposição de promover alterações significativas nos programas sociais em execução no país, mais especificamente mediante ampliação, ajustamentos e oferecimento de mais suporte para que as famílias mais pobres conseguissem vencer as barreiras da miséria, que ainda se mostram distantes das classes mais ricas, mas nenhum deles sequer insinuou acerca da intensão de passar pente fino sobre os beneficiários cadastrados, para a indispensável checagem quanto ao atendimento da admissibilidade deles com relação aos fins institucionalizados da efetiva assistência do Estado.
O governo tucano transferiu para o seu sucessor cadastro incompleto, com 17 milhões de nomes, que foi aperfeiçoado no curso de 12 anos, sendo considerado um dos maiores do mundo, com o total de 87 milhões de pessoas cadastradas (43% da população brasileira) em 18 programas, entre os quais se incluem o Bolsa Família, Bolsa Estiagem, Água para todos, Brasil alfabetizado, Aposentadoria para dona de casa, Assistência técnica e extensão rural, Carta social, Carteira do idoso, Bolsa verde, Programa de erradicação do trabalho infantil, Mais educação, Tarifa social de energia elétrica, Isenção de taxas em concursos públicos etc., todos custeados pelo Orçamento da União, evidentemente com recursos dos contribuintes que deveriam se manifestar sobre a eficiência e a efetividades desses programas.
O elenco dos programas sociais constituem ferramentas invejáveis na estrutura das políticas sociais, que sinalizam com clareza para a sintonia do governo no apoio maciço e prioritário às famílias mais vulneráveis entre as menos protegidas, pelo menos na propaganda do governo, porque, na prática, essa história pode ser bem diferente, ante a precariedade do controle e da fiscalização sobre a execução dos programas oficiais.
À toda evidência, no entendimento dos especialistas da matéria, os programas sociais do governo foram ampliados de forma bastante exagerada e até descontrolada, em consonância com a elasticidade das famílias de maior vulnerabilidade e carentes de proteção do Estado, ou seja, à medida que se aumentava o quadro de pobreza, era concomitantemente ampliado o leque do assistencialismo, sem se atentar para o binômio da eficiência e efetividade da aplicação dos recursos despendidos.
É evidente que o principal programa, entre os dezoito existentes, é o famoso e sempre enaltecido Bolsa Família, que beneficia, na atualidade, 14,1 milhões de famílias com renda per capita mensal inferior a R$ 77,00, no total de mais de 56 milhões de pessoas, comprometendo o montante anual de R$ 26 bilhões, o equivalente a 0,4% do PIB, segundo o Ipea, órgão oficial.
          São inequívocos os efeitos eleitorais do Bolsa Família, à vista do resultado da última eleição presidencial, cujas regiões de maior incidência do pagamento do benefício pertinente deram generosas votações e expressiva maioria à candidata oficial, em percentual escandalosamente superior a 70%, sem que houvesse outro motivo plausível a justificar tamanha preferência por candidato que nada fez, com recursos públicos, para aquelas regiões que foram turbinadas apenas com assistencialismo escrachado e descontrolado, que vem sendo executado sem fiscalização quanto à efetividade do pagamento do benefício às famílias realmente em condições de miserabilidade, nos termos da legislação de regência.
Não há dúvida de que o fato da vinculação eleitoral do programa não condiz com os princípios da moralidade, responsabilidade e dignidade que se exigem na administração de recursos públicos, cujo gestor tem a obrigação de comprovar junto à sociedade a boa e regular aplicação dos dinheiros do contribuinte, fato esse que não vem sendo observado pelo governo, ante a demonstração de desprezo à transparência e à prestação de contas à sociedade sobre o preenchimento dos requisitos exigidos legalmente quanto à comprovação de efetiva pobreza dos 14 milhões de famílias, que de carentes mesmo devem satisfazer no máximo sessenta por cento dos inscritos, o que já constituem exército de pessoas que não produzem nem contribuem para o desenvolvimento da nação.
Por sua vez, não se pode negar que há demonstração de que esses programas contribuíram, de alguma forma, para a redução da miséria e também ajudaram a diminuir a distância entre os mais ricos e os mais pobres, apesar de que o país ainda continua apresentando um dos piores índices de desigualdade do mundo.
Contudo, não é possível que essa espécie de assistencialismo a milhões de pessoas, que se tornaram ociosas e improdutivas, graças ao recebimento gracioso de recursos do Estado, sem nenhuma contraprestação, não possa ser substituída por programa com o cunho de dignificação do ser humano, que vem sendo beneficiado apenas por ser pobre, mas, apesar disso, possui plenas condições para trabalhar, produzir e ganhar salário condizente com as suas potencialidades laborais, sem necessidade de ficar à toa, à mercê do benefício estatal, que poderia continuar sendo pago, mas os titulares poderiam ser obrigados a contribuir com algo que demonstrasse condições de servir à sociedade, que paga religiosamente os tributos para custear o programa.
É evidente que a sociedade não se satisfaz com a forma como os programas assistenciais são executados, que poderiam ter maior grau de eficiência, ao serem implementados na busca da valorização dos recursos públicos e, sobretudo, da dignificação dos beneficiários, que deixariam de ser considerados peso morto para a sociedade, ante a inexistência de qualquer existência por parte deles, que sequer são obrigados a frequentar os cursos de capacitação profissional legalmente previsto.
Não há a menor dúvida de que o modelo do Bolsa Família dá claros sinais de esgotamento, em especial diante da redução do crescimento econômico do país, que não permite que se façam gastos em montante tão expressivo em programa com o mínimo ou nenhum retorno econômico, prejudicando sobremodo a formalização do regular mercado de trabalho, que exige dinâmica da mão de obra, mas ele vem encontrando dificuldade para a sua renovação com facilidade nas regiões fomentadas com recursos dos programas sociais, haja vista que o interesse na capacitação é quase nulo.
Dentro desse contexto, existem estudos indicando que os programas de transferência de renda precisam ser acompanhados e submetidos constantes reformas estruturais, de modo a garantir a mobilidade social, ou seja, é aconselhável que as famílias não fiquem cadastradas todo tempo legalmente possível, porque é justamente isso que contribui para o esgotamento da sua finalidade, havendo necessidade da estimulação de profissionalização entre os beneficiários, como forma de desafogo do programa e do atendimento da mão de obra exigida pelo mercado.
Um professor de economia do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP) concluiu que a mobilidade social, com relação às famílias de baixa renda, somente será possível com a melhoria da educação, da saúde, da habitação e do saneamento, a continuidade da política de valorização do salário mínimo e o crescimento econômico elevado e que, nas regiões mais pobres, há necessidade de serem acopladas as políticas de transferência de renda ao incentivo às atividades econômicas de médio porte e ao cooperativismo, ou seja, os beneficiários do Bolsa Família terminam prejudicando o desenvolvimento econômico diante do seu distanciamento do processo produtivo.
Como se vê, a precariedade e o esgotamento do Bolsa Família se materializam exatamente pela ausência de qualquer política ou ação que funcionem como coadjuvantes de estímulo à indispensável mobilidade social.
          O certo é que nenhum outro país do mundo é capaz de manter cadastrado, como beneficiário social, custeado com recursos dos contribuintes, esse monstruoso batalhão de 87 milhões de brasileiros, dos quais 56 milhões estão sob a proteção do Bolsa Família, que são assistidos e sustentados graciosamente com exclusividade pela classe trabalhadora, cujos recursos poderiam ter excelentes aplicações tanto em assistência às famílias carentes, mas na modalidade mais inteligente de geração de emprego para quem realmente tivesse necessitado e quisesse contribuir para a produtividade do país, salvo os casos de comprovada impossibilidade para o trabalho.
Há indignação da sociedade, por não concorda que quase a metade dos brasileiros, ou seja, 43% dependam socialmente das ajudas governamentais, i.e., a outra parcela que produz transfere expressiva parcela da sua produção, via tributos, para muita gente que o governo simplesmente entende que não precisa trabalhar nem produzir, eis que os trabalhadores não se preocupam em arcar com o ônus criado de forma populista e assistencialista, com viés notoriamente eleitoreiro, conforme mostraram os resultados da última eleição presidencial, em que a candidata oficial, entre tantas afirmações inconsistentes e inverossímeis, se respaldou como exclusiva responsável pela maternidade do programa Bolsa Família, sob a propaganda enganosa de que somente ela o manteria em execução, porquanto os demais candidatos o extinguiriam, deixando os beneficiários atordoados com a possibilidade de ficar sem esse importante benefício, que somente deveria ser pago a quem realmente fizesse jus, depois de preenchidos os requisitos legais.
Essa forma de assistencialismo não parece ser a mais justa, principalmente porque a parte que é obrigada a custear os programas governamentais não tem certeza, aliás, nem o governo, de que os beneficiários são realmente pobres e carentes, ante a falta de fiscalização e controle para se aferir essa importantíssima situação, porque certamente muita gente recebe o benefício sem merecer, por não satisfazer o requisito essencial de pobreza absoluta.
Compete à sociedade se mobilizar, à vista da sua responsabilidade cívica, para exigir que os programas assistenciais, principalmente no que diz respeito à distribuição de renda, sejam considerados políticas de Estado, ficando estabelecido que nenhum governo tenha condições de assustar os beneficiários, quando dos pleitos eleitorais, com informações absurdas de que os adversários pretendem eliminar benefício tão importante para as famílias efetivamente pobres e são custeados pelo resto da sociedade que trabalha e contribui para o desenvolvimento da nação. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 09 de março de 2015

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