sábado, 28 de março de 2015

Comunicação errática e caos político

O Palácio do Planalto informou que o ministro da Comunicação Social – Secom pediu exoneração à presidente do país, que foi aceito de pronto.
O citado órgão tem a incumbência de promover a interlocução do governo com a imprensa, inclusive o gerenciamento das estratégias de comunicação dos ministérios e a definição da aplicação das verbas publicitárias governamentais nos veículos de comunicação.
A Secom é ainda responsável pelo gerenciamento das redes sociais da Presidência da República, integradas, atualmente, com perfis em Twitter, Facebook, Instagram e Vine da presidente do país e do Palácio do Planalto, cujos conteúdos publicados nessas páginas passam pelo crivo do órgão em referência.
Certamente que a demissão em apreço tenha relação com as pressões sobre o titular da pasta em comento, que teria sido responsável pela elaboração do documento interno divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", que continha conteúdo apontando situação de “caos político” no país e “comunicação errática” do governo e necessidade de mais investimentos em propaganda na cidade de São Paulo, tendo a finalidade de melhorar a imagem da presidente da República e do prefeito daquela cidade, com vistas à reversão da alarmante desaprovação dos petistas.
Diante da revelação desse documento, comissões da Câmara dos Deputados e do Senado Federal aprovaram convite para o ministro esclarecer aos parlamentares os estranhos conteúdos do documento.
Na atualidade, o sentimento que impera no seio dos petistas é o de posse plena, legítima e definitiva do país, como patrimônio do partido e, em razão disso, tudo deve girar em torno de seus objetivos, fato esse que dificulta as negociações indispensáveis à administração da crise político-econômica, tendo em vista que as atenções ficam circunscritas aos interesses pessoais e partidários, em detrimento das verdadeiras causas que são pertinentes ao país.
Ao invés do suscitar de ideias pertinentes ao equacionamento das questões relacionadas à crise que afetam a nação e à condução das medidas para debelá-las, o documento interno vazado da Secretaria de Comunicação, a par de reconhecer o caos político e a precariedade da comunicação oficial, sugere, pasmem, a aplicação de maciças verbas em propaganda, inclusive com recomendação de mais investimentos nos blogs sujos – aqueles pagos com dinheiro público para difamar adversários – e nos “guerrilheiros” (sic) virtuais, tudo confirmando a forma errática da aplicação de recursos públicos, que deveriam se destinar exclusiva e estritamente para programas pertinentes à satisfação das necessidades da população.
O documento, que não era para ter se tornado ostensivo, apenas revela a forma transversa como se dá a aplicação de verbas públicas, no caso, com escopa de limpar a imagem de petistas cujas administrações são malvistas pela população, cujos gastos contrariam visivelmente as normas da administração pública, que tem por função fundamental apenas o atendimento e a satisfação do interesse público.
Nos países evoluídos político e democraticamente, há rigoroso controle sobre os gastos públicos, que somente são aplicados em programas institucionais, tendo por objetivo informar, instruir ou orientar a sociedade sobre determinado assunto estritamente de interesse público, ficando absolutamente impedida a destinação de recursos ou de investimentos para atividades de cunho promocional de pessoas, partidos ou políticos, com a finalidade de mostrar inverdades e algo que não correspondem à satisfação dos fins sociais.
Nesses países, os gestores públicos são punidos com a perda do cargo, além de serem obrigados ao ressarcimento dos valores aplicados em atividades irregulares, justamente pela dissonância da sua verdadeira finalidade.
          O documento em questão, conforme texto divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", não somente pode ter sido a causa da demissão em apreço, por haver nele a revelação de situações de precariedades e de desaprovação do desempenho da mandatária do país e a indicação de gastos que não se harmonizam com a realidade brasileira, ante as carências e as precariedades da prestação dos serviços públicos.
A propaganda em São Paulo ou em qualquer parte do país, com a finalidade de reverter a cáustica e desgastante desaprovação de governos petistas, corresponde indiscutível irresponsabilidade administrativa, punível com, no mínimo, a obrigação de ressarcimento dos valores pertinentes.
 Nos países desenvolvidos político, econômico e democraticamente, os investimentos são legitimados exclusivamente para fins institucionais e jamais para marketing tendente à melhoria da imagem da incompetência, cuja medida não se harmoniza com a dignidade e a seriedade que exigem dos governantes responsáveis e cônscios das suas funções constitucionais e legais.
Compete à sociedade, jungido ao seu nobre dever cívico-patriótico, repudiar os gastos do governo com marketing, propaganda e publicidade com cunho exclusivamente pessoal, partidário e político, visto que a sua ilegitimidade se configura por não haver presente no ato o atendimento das necessidades estritamente públicas. Acorda, Brasil!
 
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 28 de março de 2015

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