terça-feira, 10 de março de 2015

Basta de tanto sacrifício!

Em cadeia de rádio e televisão, a presidente da República, aproveitando o ensejo do Dia Internacional da Mulher, fez pronunciamento à nação, no qual admitiu que o país passa por dificuldades, mas a culpa foi atribuída à crise financeira mundial e à "maior seca da história". Na ocasião, ela pediu paciência aos brasileiros, argumentando que o governo absorveu, até o ano passado, os efeitos negativos da crise, porém, agora, o esforço para a recuperação econômica tem que ser dividido “... com todos os setores da sociedade".
Ela disse que "Entre muitos efeitos graves, esta seca tem trazido aumentos temporários no custo da energia e de alguns alimentos. Tudo isso, eu sei, traz reflexos na sua vida. Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira. Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade. É por isso que estamos fazendo correções e ajustes na economia... Precisamos transformar dificuldades em soluções. Problemas temporários em avanços permanentes. O Brasil é maior do que tudo isso e já mostrou muitas vezes ao mundo como fazer melhor e diferente".
A presidente afirmou que já houve, por parte do governo, a absorção dos efeitos negativos da crise, com reduções de impostos para estimular a atividade e o emprego, sendo agora obrigado a "mudar de método e buscar soluções mais adequadas ao atual momento. Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo".
Ela disse que as medidas de ajustes são necessárias para "sanear as nossas contas e, assim, dar continuidade ao processo de crescimento com distribuição de renda, de modo mais seguro, mais rápido e mais sustentável. O esforço fiscal (implementado por meio da alta de tributos e corte de gastos) não é um fim em si mesmo. É apenas a travessia para um tempo melhor, que vai chegar rápido e de forma ainda mais duradoura".
Na visão da presidente, tudo está sendo feito de "forma realista e da maneira mais justa, transparente e equilibrada possível. As medidas estão sendo aplicadas de forma que as pessoas, as empresas e a economia as suportem. Como é preciso ter equidade, cada um tem que fazer a sua parte. Mas de acordo com as suas condições. Foi por isso, que começamos cortando os gastos do governo, sem afetar fortemente os investimentos prioritários e os programas sociais".
Com relação à Petrobras, a presidente disse que, “com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras".
A petista disse que o governo está "fazendo tudo com equilíbrio, de forma que tenhamos o máximo possível de correção com o mínimo possível de sacrifício".
Diante da falta de objetividade e da generalização demonstradas no discurso, a presidente mostra sérias dificuldades para encontrar o rumo do equilíbrio em busca da solução das questões que afligem seriamente seu governo, ante a pujança dos problemas conjunturais, a começar pelo descontrole da inflação, o desequilíbrio fiscal, a derrocada da economia, a corrupção estratosférica, a desordem social com avanço desenfreado da criminalidade e da violência, a descrença da população nas instituições cooptadas e corrompidas pela estrutura criminosa de políticos e empresários, a desarmonia preponderante entre Executivo e Legislativo, entre tantas mazelas que infestam de forma malévola a desgastada gestão, que reluta em enxergar a realidade dos fatos, que estão bem distantes daqueles pintados pela presidente com tintas claras e alegres.
A petista teria sido muito mais simpática e receptiva se a generalização do seu discurso com informações nada sinceros não tivesse desagradado os telespectadores, que preferiram saudá-lo com panelaço e ainda sob vaias, para alguns devidos e justos e impertinentes para aqueles que resistem às mudanças das estruturas ultrapassadas e obsoletas do Estado, preferindo o status quo, mesmo que isso contribua para emperrar o progresso do país, justamente pela falta de aperfeiçoamento e modernidade do seu arcabouço, notadamente quanto aos sistemas tributário, político, trabalhista, previdenciário, administrativo, entre outros que possibilitem verdadeira revolução com vistas à liberação das amarras e dos gargalos que tanto impedem o desenvolvimento da nação.
Não há a menor dúvida de que a presidente da República perdeu excelente oportunidade para passar o Dia Internacional da Mulher calada, em pleno silêncio, como forma de ter evitado transmitir aos brasileiros muitas inverdades sobre o Brasil que ela demonstrou desconhecer, em especial a sua real situação político-administrativa.
Na concepção dela, o país se encontra tão somente atravessando "marolinha", motivo pelo qual a sociedade deve ser compreensível para aceitar os ajustes absurdos e extorsivos adotados pelo governo, como se o caos na administração do país não tivesse nada com a incompetência e a precariedade das políticas públicas, notadamente no que diz respeito à condução da economia, que simplesmente se encontra no fundo do poço, com os indicadores econômicos evidenciando a pior situação que se poderia imaginar para o desempenho econômico, com inflação nas alturas; o Produto Interno Bruto patinando melancolicamente na recessão; as taxas de juros sendo uma das mais altas do mundo; as contas públicas seguindo o ritmo do descontrole - a exemplo da inobservância do cumprimento da meta fiscal, que foi ignorada por meio de medida legislativa proposta pela petista -; as dívidas públicas solvendo montanhas de dinheiros somente para pagamento de juros; a falta de recursos para investimentos públicos em obras de impacto; a prestação dos serviços públicos em verdadeiro frangalho, à vista do ridículo e precário atendimento da saúde, onde as pessoas se amontoam sem assistência nos corredores dos hospitais, do terrível ensino público, da inexistência de segurança pública, da precária infraestrutura, do primário saneamento básico; e, enfim, das mazelas incompatíveis com a potência considerada pela presidente como a sétima economia mundial.
Não obstante, o país se encontra posicionado entre as piores nações na avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano, que compete e perde para países de pouca ou nenhuma significância econômica, em vergonhosa demonstração de incompetência e de desvalorização dos seres humanos.
Na verdade, o discurso da presidente, por citar fatos inverossímeis com relação à administração do país, tem o condão de prejudicar ainda mais a situação de descrédito do governo, que deveria ter a sensibilidade de reconhecer seu fracassado projeto administrativo e a sua fragilidade com relação ao poder de reação, com vistas à adoção de medidas capazes de possibilitar a retomada do crescimento econômico.
Diante da insatisfação de significativa parcela da sociedade, que entende competir exclusivamente à mandatária do país encontrar, com a devida urgência, os instrumentos capazes de contribuir para a saída da crise pela qual passa o país, de modo que não suscitem maiores traumas prejudiciais aos direitos adquiridos dos brasileiros, convém que o governo promova, com a máxima urgência, ao invés de pedir mais sacrifício da população, profundas e radicais reformas nas estruturas do Estado, como forma de viabilizar real e efetiva adaptação do país à modernidade dos processos produtivos, evidentemente com diminuição da pesada carga tributária e eliminação de outros gargalos que possibilitem o vislumbre do pleno aproveitamento da competitividade da produção nacional e do crescimento econômico do país. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 10 de março de 2015

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