Em cadeia de rádio e
televisão, a presidente da República, aproveitando o ensejo do Dia
Internacional da Mulher, fez pronunciamento à nação, no qual admitiu que o país
passa por dificuldades, mas a culpa foi atribuída à crise financeira mundial e à
"maior seca da história".
Na ocasião, ela pediu paciência aos brasileiros, argumentando que o governo
absorveu, até o ano passado, os efeitos negativos da crise, porém, agora, o
esforço para a recuperação econômica tem que ser dividido “... com todos os setores da sociedade".
Ela disse que "Entre muitos efeitos graves, esta seca tem
trazido aumentos temporários no custo da energia e de alguns alimentos. Tudo
isso, eu sei, traz reflexos na sua vida. Você tem todo direito de se irritar e
de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é
passageira. Absorvemos a carga
negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte deste esforço com
todos os setores da sociedade. É por isso que estamos fazendo correções e
ajustes na economia... Precisamos
transformar dificuldades em soluções. Problemas temporários em avanços permanentes.
O Brasil é maior do que tudo isso e já mostrou muitas vezes ao mundo como fazer
melhor e diferente".
A presidente afirmou que já
houve, por parte do governo, a absorção dos efeitos negativos da crise, com
reduções de impostos para estimular a atividade e o emprego, sendo agora obrigado
a "mudar de método e buscar soluções
mais adequadas ao atual momento. Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios
temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo".
Ela disse que as medidas de ajustes são necessárias para "sanear as
nossas contas e, assim, dar continuidade ao processo de crescimento com
distribuição de renda, de modo mais seguro, mais rápido e mais sustentável. O
esforço fiscal (implementado por meio da alta de tributos e corte de gastos) não é um fim em si mesmo. É apenas a
travessia para um tempo melhor, que vai chegar rápido e de forma ainda mais
duradoura".
Na visão da presidente, tudo
está sendo feito de "forma realista
e da maneira mais justa, transparente e equilibrada possível. As medidas estão
sendo aplicadas de forma que as pessoas, as empresas e a economia as suportem.
Como é preciso ter equidade, cada um tem que fazer a sua parte. Mas de acordo
com as suas condições. Foi por isso, que começamos cortando os gastos do
governo, sem afetar fortemente os investimentos prioritários e os programas
sociais".
Com relação à Petrobras, a
presidente disse que, “com coragem e até
sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos
mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os
corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e
rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras".
A petista disse que o
governo está "fazendo tudo com
equilíbrio, de forma que tenhamos o máximo possível de correção com o mínimo
possível de sacrifício".
Diante da falta de
objetividade e da generalização demonstradas no discurso, a presidente mostra sérias
dificuldades para encontrar o rumo do equilíbrio em busca da solução das
questões que afligem seriamente seu governo, ante a pujança dos problemas
conjunturais, a começar pelo descontrole da inflação, o desequilíbrio fiscal, a
derrocada da economia, a corrupção estratosférica, a desordem social com avanço
desenfreado da criminalidade e da violência, a descrença da população nas
instituições cooptadas e corrompidas pela estrutura criminosa de políticos e
empresários, a desarmonia preponderante entre Executivo e Legislativo, entre
tantas mazelas que infestam de forma malévola a desgastada gestão, que reluta
em enxergar a realidade dos fatos, que estão bem distantes daqueles pintados
pela presidente com tintas claras e alegres.
A petista teria sido muito
mais simpática e receptiva se a generalização do seu discurso com informações
nada sinceros não tivesse desagradado os telespectadores, que preferiram
saudá-lo com panelaço e ainda sob vaias, para alguns devidos e justos e impertinentes
para aqueles que resistem às mudanças das estruturas ultrapassadas e obsoletas
do Estado, preferindo o status quo,
mesmo que isso contribua para emperrar o progresso do país, justamente pela
falta de aperfeiçoamento e modernidade do seu arcabouço, notadamente quanto aos
sistemas tributário, político, trabalhista, previdenciário, administrativo,
entre outros que possibilitem verdadeira revolução com vistas à liberação das
amarras e dos gargalos que tanto impedem o desenvolvimento da nação.
Não há a menor dúvida de
que a presidente da República perdeu excelente oportunidade para passar o Dia
Internacional da Mulher calada, em pleno silêncio, como forma de ter evitado
transmitir aos brasileiros muitas inverdades sobre o Brasil que ela demonstrou
desconhecer, em especial a sua real situação político-administrativa.
Na concepção dela, o país
se encontra tão somente atravessando "marolinha", motivo pelo qual a
sociedade deve ser compreensível para aceitar os ajustes absurdos e extorsivos
adotados pelo governo, como se o caos na administração do país não tivesse nada
com a incompetência e a precariedade das políticas públicas, notadamente no que
diz respeito à condução da economia, que simplesmente se encontra no fundo do
poço, com os indicadores econômicos evidenciando a pior situação que se poderia
imaginar para o desempenho econômico, com inflação nas alturas; o Produto
Interno Bruto patinando melancolicamente na recessão; as taxas de juros sendo
uma das mais altas do mundo; as contas públicas seguindo o ritmo do descontrole
- a exemplo da inobservância do cumprimento da meta fiscal, que foi ignorada
por meio de medida legislativa proposta pela petista -; as dívidas públicas
solvendo montanhas de dinheiros somente para pagamento de juros; a falta de
recursos para investimentos públicos em obras de impacto; a prestação dos
serviços públicos em verdadeiro frangalho, à vista do ridículo e precário
atendimento da saúde, onde as pessoas se amontoam sem assistência nos
corredores dos hospitais, do terrível ensino público, da inexistência de
segurança pública, da precária infraestrutura, do primário saneamento básico;
e, enfim, das mazelas incompatíveis com a potência considerada pela presidente
como a sétima economia mundial.
Não obstante, o país se
encontra posicionado entre as piores nações na avaliação do Índice de
Desenvolvimento Humano, que compete e perde para países de pouca ou nenhuma
significância econômica, em vergonhosa demonstração de incompetência e de
desvalorização dos seres humanos.
Na verdade, o discurso da
presidente, por citar fatos inverossímeis com relação à administração do país,
tem o condão de prejudicar ainda mais a situação de descrédito do governo, que deveria
ter a sensibilidade de reconhecer seu fracassado projeto administrativo e a sua
fragilidade com relação ao poder de reação, com vistas à adoção de medidas
capazes de possibilitar a retomada do crescimento econômico.
Diante da insatisfação de
significativa parcela da sociedade, que entende competir exclusivamente à
mandatária do país encontrar, com a devida urgência, os instrumentos capazes de
contribuir para a saída da crise pela qual passa o país, de modo que não
suscitem maiores traumas prejudiciais aos direitos adquiridos dos brasileiros, convém
que o governo promova, com a máxima urgência, ao invés de pedir mais sacrifício
da população, profundas e radicais reformas nas estruturas do Estado, como
forma de viabilizar real e efetiva adaptação do país à modernidade dos
processos produtivos, evidentemente com diminuição da pesada carga tributária e
eliminação de outros gargalos que possibilitem o vislumbre do pleno aproveitamento
da competitividade da produção nacional e do crescimento econômico do país. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de março de
2015
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