sábado, 7 de março de 2015

A infelicidade administrativa

Ao anunciar o corte das desonerações concedidas pelo governo a algumas empresas, na gestão anterior, o ministro da Fazenda não teve o menor cuidado em poupar os mentores dessa medida, ao criticá-la impiedosamente, chegando a classificá-la como “grosseira e brincadeira, que custaram caro”, além de deixar claro que ela não surtiu os resultados objetivados, a exemplo, em especial, quanto à garantia da manutenção do emprego.
Imediatamente, a presidente da República o repreendeu em público, afirmando que a declaração do ministro foi “infeliz”, reconhecendo o governo que ele teria cometido erro político, por ter sido exageradamente sincero, expondo com clareza a realidade da trapalhada protagonizada por seu antecessor, cujo legado é indiscutivelmente deletério aos interesses do país, à vista dos terríveis resultados econômicos, mostrando que a nação se encontra em profunda crise, que compromete inapelavelmente o seu desenvolvimento.
O "escorregão" do ministro da Fazenda com as palavras, aliás, muito bem adjetivadas, se compara ao do ministro do Planejamento, no início do governo, quando foi anunciado novo cálculo para o salário mínimo, que a presidente, mesmo estando de férias, determinou que ele divulgasse nota repondo as declarações, embora não houvesse discordância de política econômica, mas apenas erro na colocação das palavras. No último episódio, o ministro da Fazenda recebeu críticas diretas da presidente, mas foi dispensado de divulgar nota, poupando-o de vergonhoso vexame perante a opinião pública.
Pelo tamanho do incômodo da presidente, fica evidente que os atos falhos dos ministros do Planejamento e da Fazenda são equiparáveis, em termos de contrariedade do pensamento do governo, mas ela não teve a mesma atitude com o último ministro, quando determinou que o ministro do Planejamento retificasse, imediatamente e por nota, o seu pronunciamento, o que foi atendido prontamente, deixando seu auxiliar em situação de desautorizado e de sem autoridade dentro do governo.
Trata-se de incoerência da presidente, que demonstra o uso de dois pesos e de duas medidas entre os membros do mesmo governo, evidenciando possível temor de que atitude tirana, como a primeira, poderia entornar o caldo de vez. 
Não há a menor dúvida de que a irritação do Planalto é apenas normal, haja vista que falar a verdade para aquelas bandas tem o condão de ferir de morte os brios de quem somente acha que faz a coisa certa e não admite, por qualquer hipótese, as desastrosas ações políticas, principalmente na condução da economia, mesmo quando os indicadores mostram, à luz solar, que a derrocada brasileira é fruto da incompetência e das trapalhadas da equipe econômica.
É evidente que o ministro não teve habilidade para dizer a verdade, posto que ele poderia ter dito tão somente que a desoneração, na atualidade, não constitui medida capaz de solucionar a gravidade da crise pela qual o Brasil precisa enfrentar e debelar, como forma de retomar o ritmo perdido do crescimento, que somente será possível com adoção de medidas coerentes com a realidade da situação econômica, que dá sinal de bastante impotência e de enormes dificuldades que são incompatíveis com as esdrúxulas e prejudiciais desonerações adotadas de forma precipitada pelo governo.
Segundo as afirmações do ministro, as desonerações teriam sido concedidas de forma privilegiada e equivocada para algumas empresas ligadas às autoridades palacianas, em inadmissível detrimento dos interesses das demais empresas do país, que jamais poderiam ficar fora de qualquer benefício fiscal, à luz do princípio constitucional da isonomia, que estabelece tratamento igual para todos.
 Caso trata-se de sistema tributário sério, responsável e competente, o governo jamais teria promovido as questionadas desonerações, objeto das imperfeições de dos erros classificados pela honestidade e pelo excesso de sinceridade do ministro, que teve a coragem de mostrá-las com todas as letras, deixando a presidente do país em verdadeira saia justa e bastante incomodada, conforme explicitação dela, ante a crítica bem colocada por meio da justificativa na ocasião do anúncio da nova medida que procura corrigir o grave e grosseiro desacerto da anterior equipe econômica dela, que teria resultado, à vista de estudos realizados, segundo o ministro, em enormes prejuízos para o erário, ante a indevida e injustificável renúncia de tributos.
Observa-se, à toda evidência, que, de erro em erro, todos revelando desacerto e incorreções das políticas adotadas pela gestão anterior, não seria realmente possível o menor êxito dos resultados da economia, que se encontra em verdadeiro frangalho devido à forma inconsequente das medidas adotadas pela equipe substituída, evidentemente da direta responsabilidade da presidente do país, a demonstrar incompetência e ineficiência administrativas e gerenciais, com imensuráveis prejuízos para o desenvolvimento do país, que, infelizmente, vem crescendo negativamente, com consequências imprevisíveis e assustadoras. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
         
Brasília, em 07 de março de 2015

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