sábado, 21 de março de 2015

O marketing do desperdício

Conforme o jornal “O Estado São Paulo”, foi vazado documento reservado do Palácio do Planalto admitindo a adoção, pelo governo, de comunicação "errática" desde a reeleição da presidente petista.
O documento afirma que seus apoiadores estão levando "goleada" da oposição nas redes sociais e acena para a reversão do trágico quadro constatada pós-manifestações de protestos com investimento maciço em publicidade oficial, principalmente em São Paulo, cidade onde se concentra a maior rejeição ao PT. 
O documento foi elaborado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que foi distribuído para ministros, dirigentes do PT e assessores do ex-presidente da República petista, cujo texto cita, entre outras preocupações, em sinal de alerta, pesquisa telefônica promovida pelo Ibope, encomendada pelo Palácio do Planalto, indicando que 32% dos entrevistados disseram que, nos últimos seis meses, mudaram de opinião, para negativa, sobre o desempenho do governo, ou seja, da campanha de outubro até agora. O documento conclui que o país passa por "caos político" e admite: "Não será fácil virar o jogo". 
O documento aborda três temas principais: "Onde estamos", "Como chegamos até aqui" e "Como virar o jogo". Na primeira parte, há diagnóstico sobre o momento, onde o governo admite erros de ação, notadamente nas redes sociais. Lá é citado que "A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há sempre um que aponte 'a culpa é da comunicação'. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso.".
No documento, consta o reconhecimento pelo mea-culpa, mas o governo tenta cotizar o ônus da crise, com a afirmação de que "Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão, enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas.”. 
No segundo item, o autor inventaria os erros acumulados desde a eleição da presidente, em 2010, na tentativa de explicar a atual situação, ao dizer que "O início do primeiro governo Dilma foi de rompimento com a militância digital". Um dos motivos desse rompimento teria sodo a política de defesa dos direitos autorais implementada pela pasta da Cultura e o outro foi causado pelo distanciamento, pela Secretaria de Comunicação, com os blogueiros ditos progressistas.
O documento diz que "O fim do diálogo com os blogs pela Secom gerou um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha eleitoral de 2014". 
O texto deixa claro que a escolha do executivo de banco para o Ministério da Fazenda e as medidas de ajuste fiscal explicam o "movimento impressionante de descolamento entre o governo e sua militância". 
A análise interna do governo concluiu que o movimento foi intensificado a partir do "desastrado" anúncio de corte no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e do aumento do preço da gasolina e energia elétrica, além das investigações dos fatos de corrupção na Petrobras. O texto aborda, de forma crítica, o devastador discurso usado pelo próprio governo e pelo PT.
A lucidez do artigo aponta que "Não adianta falar que a inflação está sob controle, quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso. Assim como um senador tucano na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT".
O documento ressalta "sentimento de abandono e traição" entre os dilmistas e acena para a necessidade de aceitar este sentimento como parte da estratégia de reação, ao afirmar que "É preciso aceitar a mágoa desses eleitores e reconquistá-los.".
O texto ressalta indiscutível isolamento da presidente, desde a eleição até o carnaval, fato que contribuiu para a intensificação da crise. Ali se cobra ação dos parlamentares do PT que, por terem deixado de defender o governo: "Hoje, por exemplo, a página do deputado Jean Wyllys, do PSOL, tem um peso maior que quase toda a bancada federal".
A análise sugere "virar o jogo" com maior exposição da presidente petista e alterações no núcleo de Comunicação Social, concentrando sob a mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas oficiais na internet e a Agência Brasil. 
O trabalho propõe também maior concentração dos investimentos de comunicação em São Paulo, em parceria com o prefeito da cidade, que também sofre com baixos índices de aprovação.
O texto diz "... que não há como recuperar a imagem do governo Dilma no Estado sem ajudar a aumentar a popularidade do prefeito Fernando Haddad. Há uma relação direta entre um e outro.".
A conclusão do documento é encaminhada por meio de metáfora comparativa entre a atual situação do governo e o terremoto que destruiu Lisboa em 1755, deixando 10 mil mortos, com a devastação da capital portuguesa. Na ocasião, o rei Dom José teria sido aconselhado pelo marquês de Alorna para "Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos. Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor enquanto estamos cuidando dos vivos e salvando o que restou".
No discurso, o governo reconhece, por força da pressão da turba, que existem erros na administração do país, porém, ao invés de adotar as medidas saneadoras das deficiências, ele simplesmente acena para investimento maciço com ações voltadas para a sua propaganda, certamente como forma de maquiar a sua gestão e blindar a imagem da presidente, em evidente demonstração de que os problemas do país que explodam.
Essa ideia de investir maciçamente em propaganda e publicidade não passa da confirmação da incapacidade de governo populista, que encobre suas deficiências gerenciais atrás da cortina formada pelo poderoso marketing político, enquanto perdura o caos reinante na administração do país, com os indicadores econômicos beirando as tabelas da recessão e do subdesenvolvimento.
É inacreditável que o governo, ao invés de adotar medidas eficientes para debelar o mau pela raiz, suscita essa maligna ideia de investir maciças verbas na cidade com altíssimo grau de politização, cujo resultado não passará da jogada de dinheiro pelos ralos do desperdício e do recrudescimento do sentimento de insatisfação da sociedade, pela forma irresponsável como o seu dinheiro foi aplicado, com a ridícula finalidade de melhorar a imagem deslustrada pela incapacidade de administração do país, ante a comprovação de ineficiência e imoralidade.
Induvidosamente, no momento atual, a propaganda não conseguirá reverter a imagem negativa e desacreditada da presidente e o seu partido, de vez que o estrago causado pela desastrada gestão petista não será reparado por meio de marketing com recursos públicos, mas sim com ações concretas capazes de restabelecer confiança à população e de conquistar o fortalecimento do Brasil, porquanto as medidas visando apenas à melhoria da imagem do governo condizem tão somente com a consolidação do arraigado projeto de poder, em indiscutível prejuízo aos interesses da sociedade e do país.
A trupe palaciana deixa bastante claro que não entendeu que os apelos “Fora PT”, “Fora Dilma” e “Fora Lula”, expressados pelos manifestantes, significam exatamente isso que está escrito, não sendo o caso de contrapor com propaganda enganosa, a custo de substanciais recursos que devem ter real serventia com sua aplicação na finalidade específica de mais saúde, melhores ensinos públicos, maiores seguranças públicas, excelentes estradas e demais serviços públicos de qualidade, com embargo dessa política infrutífera de marketing político, cujo resultado tem contribuído para a continuidade de governo populista e caudilhista, preocupado apenas em mostrar a imagem distorcida da realidade do país, que cresce negativamente com o desempenho recessivo do Produto Interno Bruto, exemplo da economia que não consegue encontrar o caminho do desenvolvimento com políticas econômicas competentes e eficientes.
Não há a menor dúvida de que o desperdício com propagando somente vai aumentar a insatisfação da população, por ser obrigada a pagar mais pela luz, pelo combustível, pela água, pelos alimentos, por força da crescente inflação e dos reajustes dos preços, muitos dos quais atrelados à disparada do valor do dólar, que encarece os produtos importados, principalmente a farinha de trigo e outros produtos essenciais.
          Diante da falta de competência gerencial e administrativa, tenta-se empregar a maquiavélica técnica que o partido o governo e seu partido dominam com vantagem e ainda com o desperdício do dinheiro do contribuinte, qual seja, o marketing, com propaganda alardeando as inexistentes qualidades que não podem ser mostradas na prática.
É lamentável que, em pleno século XXI, ainda existam, em governo e partido político, pessoas com a mentalidade tão retrógrada e destrutiva dos salutares princípios da economicidade e da austeridade, por não condizer com a modernidade da administração pública e significar real desprezo ao interesse da sociedade e do país, eis que o marketing político, com recursos públicos, representa patente tentativa de reafirmação de causa partidária e da tentativa de perpetuidade no poder. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 21 de marco de 2015

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