Conforme o jornal “O Estado São Paulo”, foi vazado
documento reservado do Palácio do Planalto admitindo a adoção, pelo governo, de
comunicação "errática" desde a reeleição da presidente petista.
O documento afirma que seus apoiadores estão levando
"goleada" da oposição nas redes sociais e acena para a reversão do
trágico quadro constatada pós-manifestações de protestos com investimento
maciço em publicidade oficial, principalmente em São Paulo, cidade onde se
concentra a maior rejeição ao PT.
O documento foi elaborado pela Secretaria de
Comunicação da Presidência da República, que foi distribuído para ministros,
dirigentes do PT e assessores do ex-presidente da República petista, cujo texto
cita, entre outras preocupações, em sinal de alerta, pesquisa telefônica promovida pelo Ibope, encomendada
pelo Palácio do Planalto, indicando que 32% dos entrevistados disseram que, nos
últimos seis meses, mudaram de opinião, para negativa, sobre o desempenho do
governo, ou seja, da campanha de outubro até agora. O documento conclui que o país
passa por "caos político" e
admite: "Não será fácil virar o jogo".
O documento aborda três temas principais: "Onde estamos", "Como chegamos até aqui" e "Como virar o jogo". Na primeira parte,
há diagnóstico sobre o momento, onde o governo admite erros de ação,
notadamente nas redes sociais. Lá é citado que "A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há
sempre um que aponte 'a culpa é da comunicação'. Desta vez, não há dúvidas de
que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso.".
No documento, consta o reconhecimento pelo
mea-culpa, mas o governo tenta cotizar o ônus da crise, com a afirmação de que "Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma
e Lula que estão acomodados com o celular na mão, enquanto a oposição bate
panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas.”.
No segundo item, o autor inventaria os erros
acumulados desde a eleição da presidente, em 2010, na tentativa de explicar a
atual situação, ao dizer que "O
início do primeiro governo Dilma foi de rompimento com a militância digital".
Um dos motivos desse rompimento teria sodo a política de defesa dos direitos
autorais implementada pela pasta da Cultura e o outro foi causado pelo
distanciamento, pela Secretaria de Comunicação, com os blogueiros ditos
progressistas.
O documento diz que "O fim do diálogo com os blogs pela Secom gerou um isolamento do governo
federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha
eleitoral de 2014".
O texto deixa claro que a escolha do executivo de
banco para o Ministério da Fazenda e as medidas de ajuste fiscal explicam o
"movimento impressionante de descolamento
entre o governo e sua militância".
A análise interna do governo concluiu que o
movimento foi intensificado a partir do "desastrado" anúncio de corte no Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies) e do aumento do preço da gasolina e energia elétrica, além
das investigações dos fatos de corrupção na Petrobras. O texto aborda, de forma
crítica, o devastador discurso usado pelo próprio governo e pelo PT.
A lucidez do artigo aponta que "Não adianta falar que a inflação está sob
controle, quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá
ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele
sente no bolso. Assim como um senador tucano na lista da Lava Jato não altera o
fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT".
O documento ressalta "sentimento de abandono e traição" entre os dilmistas e acena
para a necessidade de aceitar este sentimento como parte da estratégia de
reação, ao afirmar que "É preciso
aceitar a mágoa desses eleitores e reconquistá-los.".
O texto ressalta indiscutível isolamento da
presidente, desde a eleição até o carnaval, fato que contribuiu para a intensificação
da crise. Ali se cobra ação dos parlamentares do PT que, por terem deixado de
defender o governo: "Hoje, por
exemplo, a página do deputado Jean Wyllys, do PSOL, tem um peso maior que quase
toda a bancada federal".
A análise sugere "virar o jogo" com maior exposição da presidente petista e
alterações no núcleo de Comunicação Social, concentrando sob a mesma
coordenação a Voz do Brasil, as páginas oficiais na internet e a Agência
Brasil.
O trabalho propõe também maior concentração dos
investimentos de comunicação em São Paulo, em parceria com o prefeito da
cidade, que também sofre com baixos índices de aprovação.
O texto diz "... que não há como recuperar a imagem do governo Dilma no Estado sem
ajudar a aumentar a popularidade do prefeito Fernando Haddad. Há uma relação
direta entre um e outro.".
A conclusão do documento é encaminhada por meio de metáfora
comparativa entre a atual situação do governo e o terremoto que destruiu Lisboa
em 1755, deixando 10 mil mortos, com a devastação da capital portuguesa. Na
ocasião, o rei Dom José teria sido aconselhado pelo marquês de Alorna para "Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e
fechar os portos. Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor
enquanto estamos cuidando dos vivos e salvando o que restou".
No discurso, o governo reconhece, por força da
pressão da turba, que existem erros na administração do país, porém, ao invés
de adotar as medidas saneadoras das deficiências, ele simplesmente acena para
investimento maciço com ações voltadas para a sua propaganda, certamente como
forma de maquiar a sua gestão e blindar a imagem da presidente, em evidente
demonstração de que os problemas do país que explodam.
Essa ideia de investir maciçamente em propaganda e
publicidade não passa da confirmação da incapacidade de governo populista, que
encobre suas deficiências gerenciais atrás da cortina formada pelo poderoso marketing
político, enquanto perdura o caos reinante na administração do país, com os
indicadores econômicos beirando as tabelas da recessão e do subdesenvolvimento.
É inacreditável que o governo, ao invés de adotar
medidas eficientes para debelar o mau pela raiz, suscita essa maligna ideia de
investir maciças verbas na cidade com altíssimo grau de politização, cujo
resultado não passará da jogada de dinheiro pelos ralos do desperdício e do recrudescimento
do sentimento de insatisfação da sociedade, pela forma irresponsável como o seu
dinheiro foi aplicado, com a ridícula finalidade de melhorar a imagem
deslustrada pela incapacidade de administração do país, ante a comprovação de
ineficiência e imoralidade.
Induvidosamente, no momento atual, a propaganda não
conseguirá reverter a imagem negativa e desacreditada da presidente e o seu partido,
de vez que o estrago causado pela desastrada gestão petista não será reparado
por meio de marketing com recursos públicos, mas sim com ações concretas
capazes de restabelecer confiança à população e de conquistar o fortalecimento
do Brasil, porquanto as medidas visando apenas à melhoria da imagem do governo
condizem tão somente com a consolidação do arraigado projeto de poder, em
indiscutível prejuízo aos interesses da sociedade e do país.
A trupe palaciana deixa bastante claro que não
entendeu que os apelos “Fora PT”, “Fora Dilma” e “Fora Lula”, expressados pelos manifestantes, significam exatamente isso
que está escrito, não sendo o caso de contrapor com propaganda enganosa, a
custo de substanciais recursos que devem ter real serventia com sua aplicação
na finalidade específica de mais saúde, melhores ensinos públicos, maiores
seguranças públicas, excelentes estradas e demais serviços públicos de
qualidade, com embargo dessa política infrutífera de marketing político, cujo
resultado tem contribuído para a continuidade de governo populista e caudilhista,
preocupado apenas em mostrar a imagem distorcida da realidade do país, que
cresce negativamente com o desempenho recessivo do Produto Interno Bruto,
exemplo da economia que não consegue encontrar o caminho do desenvolvimento com
políticas econômicas competentes e eficientes.
Não há a menor dúvida de que o desperdício com
propagando somente vai aumentar a insatisfação da população, por ser obrigada a
pagar mais pela luz, pelo combustível, pela água, pelos alimentos, por força da
crescente inflação e dos reajustes dos preços, muitos dos quais atrelados à
disparada do valor do dólar, que encarece os produtos importados,
principalmente a farinha de trigo e outros produtos essenciais.
Diante
da falta de competência gerencial e administrativa, tenta-se empregar a maquiavélica
técnica que o partido o governo e seu partido dominam com vantagem e ainda com
o desperdício do dinheiro do contribuinte, qual seja, o marketing, com
propaganda alardeando as inexistentes qualidades que não podem ser mostradas na
prática.
É lamentável que, em pleno século XXI, ainda existam,
em governo e partido político, pessoas com a mentalidade tão retrógrada e
destrutiva dos salutares princípios da economicidade e da austeridade, por não
condizer com a modernidade da administração pública e significar real desprezo
ao interesse da sociedade e do país, eis que o marketing político, com recursos
públicos, representa patente tentativa de reafirmação de causa partidária e da tentativa
de perpetuidade no poder. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 21 de marco de 2015
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