terça-feira, 24 de março de 2015

A insensibilidade político-administrativa

O principal aliado do governo, o preferencial PMDB, pretende pressionar a presidente petista a promover a redução do número de ministérios, conforme ficou decidido pela bancada do partido na Câmara dos Deputados, que anunciou sua prioridade de discutir a diminuição das injustificáveis quase 40 pastas para algo em torno de apenas 20, no máximo – que ainda é considerada quantidade exagerada, em se tratando da imperiosa necessidade de se buscar o atingimento da racionalidade e da eficiência da administrativa pública.
É evidente que a aludida medida se encaixa perfeitamente no anseio da sociedade, que paga um dos mais elevados conjuntos de tributos do planeta, mas ela fere de morte os interesses políticos do Palácio do Planalto, que perderia importantíssima arma capaz de manter sob seus pés o vasto apoio dos congressistas, que se mantêm fiéis ao governo graças aos mimos construídos com a distribuição, de forma fisiológica, dos importantes cargos esparramados na mais cobiçada esplanada do país.
O partido mais próximo do Planalto, que sempre esteve ao lado do governo, por força exatamente da ocupação dos cargos públicos, justifica a sua iniciativa alegando que, se o governo defende maior controle dos gastos públicos, inclusive com reflexo nos direitos dos trabalhadores, nada mais justo e razoável que o corte também incida sobre a própria "carne", no caso específico da máquina pública.
Segundo o líder do PMDB na Câmara, "É fundamental que num momento em que se propõe ao país um ajuste das contas públicas, o poder Executivo dê uma demonstração clara e inequívoca com o compromisso do corte de gastos. Esse seria um sinal para a sociedade sobre a necessidade desse ajuste".
Enquanto isso, os petistas, na voz do seu líder na Câmara, reagiram de imediato à ideia, sob a argumentação de que "Esse assunto não está em discussão. Vamos avançar no pacote anticorrupção".
Ou seja, embora o tema seja de suma importância para o país e a sociedade, porque diz respeito à substancial economia de recursos, sem fazer a menor diferença no funcionamento da sempre e notória emperrada máquina pública, porque a prestação de seus serviços continuará igualmente precária, os petistas se opõem ferrenhamente à medida, em razão da fragilidade imposta ao governo, pela perda de um dos seus principais instrumentos de persuasão e de domínio sobre a classe política dominante, sempre ávida pela participação no usufruto das benesses propiciadas pelo poder.  
Nos países civilizados, evoluídos democraticamente e desenvolvidos social, político e economicamente, têm, como princípio de reconhecida inteligência e competência administrativas, reduzido número de ministérios para a execução eficiente de suas ações e políticas unicamente próprias do Estado, fato que se traduz na sua eficácia e na economia de gastos, que são aplicados de forma racional e em estrita adequação ao atendimento das necessidades essenciais da sociedade, que também tem o ônus do custeio da máquina pública, que existe primacialmente para a satisfação do interesse público.
No caso dos Estados Unidos da América, considerados exemplo de evolução política, econômica e democrática, existem tão somente 12 ministérios, que funcionam com competência e eficácia há uma eternidade e são ocupados, salvo rara exceção, sob o infalível sistema do mérito, por pessoas capacitadas, técnica e administrativamente.
Todavia, nas republiquetas, onde predominam os nefastos princípios da involução e do subdesenvolvimento nas áreas social, cultural, educacional, política, econômica e democrática, os governantes primam pela abundância da quantidade de ministérios, com impressionantes dezenas e dezenas deles, muitos dos quais passam anos e anos de existência sem produzir absolutamente nada para a sociedade.
Não obstante, os ministérios, nos países subdesenvolvidos política e democraticamente, normalmente se destacam por servirem de cabide de empregos para os apaniguados dos partidos aliados do governo, que garantem seu apoio aos projetos governamentais, mantendo firme e próspero o sistema fisiológico instituído no âmbito da administração pública, cujos titulares demonstram desconhecer a mínima ideia sobre o que sejam austeridade e parcimônia com o orçamento público alimentado pelos esforçados contribuintes, que também não estão nem aí para as precariedades e as mazelas imperantes na prestação dos serviços públicos, que têm pouca relevância quando o governo tem como meta primordial o atendimento das causas estranhas ao interesse da sociedade, a fim de assegurar seu principal objetivo de perenidade no poder.
Enquanto continuar se admitindo, de forma soberana, inquestionável e altaneira, as condições essenciais de incivilidade política, com estrito respeito aos princípios retrógrados de preservação dos costumes e da tradição de resistência aos saudáveis pensamentos de modernidade e de aperfeiçoamento das perniciosas estruturas da velha República, que tem como fundamental importância à satisfação das causas pessoas, partidárias e das classes políticas dominantes, inclusive com a defesa do inexplicável inchaço da inoperante, onerosa e pesada máquina pública, mantida a preço de ouro, embora de pouca serventia às causas nacionais, o país certamente continuará dando passos gigantes no rumo do indesejável subdesenvolvimento social, político, econômico e democrático, cujo infortúnio poderia ser evitado com a mudança de mentalidade dos atuais “estadistas”. Acorda, Brasil!       
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de março de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário