segunda-feira, 23 de março de 2015

A pertinência de cotas médicas

O líder do Democratas no Senado Federal, que é senador por Goiás, ingressou com representação no Ministério Público Federal contra o ministro da Saúde, solicitando punição por ilegalidades praticadas na execução do programa Mais Médicos, sob a alegação de que, segundo gravação veiculada no Jornal da Band, integrantes do governo federal e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) acertaram detalhes do termo de cooperação para, de acordo com a reportagem, mascarar a finalidade primacial do programa de financiar a ditadura cubana.
Na petição, o parlamentar pretende que seja apurada a responsabilidade dos envolvidos na formatação e execução do programa e promovido o ressarcimento ao Tesouro dos recursos aplicados irregularmente.
          Na opinião do senador, “É estarrecedor como acertam o termo de ajuste para fingir que o contrato não seria apenas para Cuba. Não estou relatando encontro de mafiosos e quadrilheiros. Foi uma reunião com integrantes qualificados e credenciados do governo e OPAS. Com essa gravação exposta pela TV Bandeirantes fica clara a manipulação do programa Mais Médicos para transferir dinheiro público à ditadura cubana e usar os médicos daquele país como cabos eleitorais. Médicos que foram tratados como mercadoria e vieram ao Brasil sob condições que desrespeitam as nossas leis e todos os tratados de direitos humanos que o país é signatário”.
O parlamentar suspeita, à vista do aludido detalhamento, sobre a possibilidade de parcela dos recursos repassados à ilha caribenha, que já atinge o aporte de R$ 1,8 bilhão, retorne ao Brasil como caixa 2 de campanha, motivo pelo qual se impõe indispensável investigação em apreço.
Ao ensejo, o partido ressalta que o programa em referência comete graves ilegalidades, a exemplo da contratação dos médicos cubanos por meio de uma “sociedade mercantil”, fato que configura relação de trabalho no Brasil e fere o princípio da lei instituidora do programa em causa.
Na petição, foi mencionado trabalho de fiscalização do Tribunal de Contas da União, onde se questiona o valor da remuneração dos médicos cubanos, que é bem inferior à paga aos demais profissionais do programa. Nessa fiscalização, consta, à vista de dados do próprio governo, que apenas 22% dos recursos foram pagos aos médicos cubanos e o restante foi repassado para o governo de Cuba.
Caso o programa Mais Médicos tivesse o mínimo de legitimidade, os profissionais cubanos teriam sido, pelos menos, submetidos ao exame conhecido por Revalida, que obriga a aplicação de teste pertinente para a confirmação sobre a real capacidade profissional e a seriedade da importação de tantos "médicos" de Cuba, que parece não cuidar de outra ação política senão formar profissionais na área médica.
Causa espécie a vinda para o Brasil de dezena de milhar de profissionais de medicina de forma absolutamente estranha, tanto que várias ações judiciais foram impetradas questionando a forma irregular como eles ingressaram no citado programa, principalmente no que se refere ao descumprimento da legislação de regência, pela flagrante inobservância das normas trabalhistas, em total dissonância com a contratação dos demais profissionais, notadamente no que diz respeito ao vínculo empregatício e à forma de pagamento pelos serviços prestados ao governo brasileiro, onde ficou caracterizado que os médicos contratados regularmente receberiam remuneração de dez mil reais, acrescida de ajuda de moradia e alimentação, com direito a usufruir o convívio com a família e a liberdade de mobilidade no país, enquanto os profissionais cubanos somente recebem pouco mais de três mil reais, estão confinados nas localidades do trabalho e ainda ficaram impedidos de trazer a sua família para o Brasil, em completo regime de segregação social própria dos países comunistas, que ainda não é o caso do país tupiniquim.
Atente-se que quase setenta por cento da remuneração pertinente aos profissionais cubanos são destinadas ao governo da ilha caribenha, sem que este tenha qualquer participação no trabalho desempenhado aqui no Brasil para fazer jus a tal compensação financeira, fato que representa absoluto ferimento às normas do Direito Internacional e trabalhistas pátrias, procedimento esse somente compatível com os regimes tiranos e ditatoriais, onde são normalmente desrespeitados os direitos humanos, com a imposição do trabalho escravo, como se encontra configurado no caso dos médicos cubanos, justamente pela forma ilegal materializada nas suas contratações, que o governo brasileiro deveria ter sensibilidade política para repudiar tal prática e não admitir contratações em dissonância com os princípios da legalidade, moralidade, equidade e responsabilidade administrativa.
Além da gritante anormalidade materializada na importação e contratação dos profissionais cubanos, o governo pratica uma das mais perversas monstruosidade com os brasileiros, por, inexplicavelmente, permitir que o Sistema Único de Saúde ainda funcione completamente em desarmonia com os princípios de modernidade de administração medica e hospitalar, nos moldes da sua instituição, mediante métodos ultrapassados e obsoletos, causando enormes prejuízos tanto para a população, pela precariedade de funcionamento e assistência, quanto pela forma ineficiente de controle e fiscalização da aplicação dos recursos, em clara demonstração de desperdício de não tão escassos recursos destinados ao custeio desse malsinado sistema, que poderia ser extremamente útil e benéfico à população caso seu funcionamento resistisse à prova de eficiência e de pleno atendimento às necessidades médico-hospitalares dos brasileiros.
Alhures, sugeri, em artigo, a criação de cotas médicas, nos moldes das cotas raciais e sociais, com o aumento de 50% de vagas nos cursos existentes nas Faculdades de Medicina das Universidades Federais, tendo por exclusiva finalidade o atendimento médico às regiões interioranas do país, como forma de suprir a carência médica e de propiciar emprego para os brasileiros.
Enquanto não houver sensibilidade do governo federal para a urgente reforma das estruturas do Estado, inclusive no que se refere ao Sistema Único de Saúde, a população continuará padecendo em decorrência das deficiências mentais e gerenciais dos governantes, que estão muito mais preocupados com o satisfatório atendimento da sua clientela constituída pela classe política dominante do país, como forma de possibilitar a continuidade no poder. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de março de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário