quinta-feira, 5 de março de 2015

Ruinosas práticas políticas

Não importa que o governo se apresente como nova gestão, mas, no PMDB, a história apenas se repete, sempre que a presidente da República mexe nas cadeiras da Esplanada dos Ministérios e das empresas estatais. O mal-estar que se forma no âmbito do partido é notório e indiscutivelmente explícito, tomando conta de suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Não se fala outra coisa na cúpula do partido de que a legenda teria sido excluída do importante processo de divisão de cargos para o segundo mandato da petista, tendo inclusive diminuído o poder que ele havia conquistado no primeiro mandato dela.
Essa insatisfação foi explicitada com bastante clareza aos ministros da Casa Civil, das Comunicações e das Relações Institucionais, com recado duro de que as bancadas não vão deixar barato quanto houver projeto do governo a ser votado no Congresso.
As ameaças, segundo as lideranças peemedebistas, são realmente para valer, uma vez que o partido foi prejudicado e desprestigiado pelo Palácio do Planalto, que não teria levado em conta, na divisão dos cargos, o fiel apoio que o PMDB sempre presta ao governo nos importantes projetos apreciados no Congresso, a exemplo da suspensão da meta fiscal, recentemente aprovado pelo Parlamento, em que a presidente do país ficou desobrigada de cumpri-la, em face da imposição prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Por enquanto, o Palácio do Planalto se faz de mouco quanto aos apelos do seu maior e mais fiel aliado na coalizão de governabilidade, por avaliar, naturalmente, que tanto o governo como o PMDB são peças do mesmo tabuleiro que não conseguem conviver isoladamente, em desarmonia, porque isso seria desastroso para ambos, principalmente porque o poder ainda é a coroa que os une com o mesmo propósito de absoluto domínio da administração do país, para o fim do usufruto das suas benesses.
Não obstante, as ameaças do PMDB ao governo se tornam preocupantes e muito perigosas para o Planalto, que precisa contar, como nunca, com o fortalecido apoio de seu principal aliado, tanto para as votações importantes no Congresso, que são muitas, inclusive o orçamento para 2015, como para digladiar em conjunto contra a oposição quando os resultados da Operação Lava Java já estiverem sendo discutidos no Parlamento, e isso ficou muito evidente com a formação do ministério, com a participação de partidos capazes de se juntar à situação, para se defenderem das terríveis acusações sobre os desvios de recursos da Petrobras.
Não há a menor dúvida de que a presidente brasileira termina cedendo aos apelas do PMDB, com relação aos cargos do segundo escalão, que se encontram na fase de discussão e composição, pois o partido os considera muito importantes para seus planos políticos, com vistas a assegurar empregos relevantes para seus caciques que não conseguiram se eleger no último pleito eleitoral e não podem ficar sem o tutano do osso que os nutrem.
O país que tem o Parlamento que pouco produz e ainda fica se preocupado com o rateio dos cargos públicos, principalmente nos ministérios e nas empresas estatais, como forma de retribuir com o fisiológico ideológico apoio político, não pode aspirar melhores dias, em termos de dignificação dos princípios político e democrático, perdendo-se, com isso, importantes aspirações para o aprimoramento e a modernização das salutares práticas político-administrativas, tão comuns nos países evoluídos social, econômico, político e democrático.
A vergonhosa briga por cargos na administração pública, por inescrupulosos políticos, normalmente para serem ocupados por afilhados e amigos da clientela partidária, sem a menor competência técnica e a devida preparação profissional, não somente compromete a eficiência e a eficácia das atividades primaciais do serviço público, à vista da evidente desqualificação das reais funções políticas do Estado, como desmoraliza completamente a administração do país, ante ao visível desprezo aos princípios da dignidade, legalidade, honestidade e eficiência, que devem sempre imperar na aplicação dos recursos públicos. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 05 de março de 2015

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