quarta-feira, 25 de março de 2015

A contabilização do desperdício

Agora que a Fifa acaba de divulgar balanço sobre as operações pertinentes à Copa do Mundo no Brasil, que teria rendido lucro recorde aproximado de US$ 5 bilhões - cerca de R$ 16 bilhões -, que é considerado o maior resultado financeiro da sua história, convêm ser contabilizados os prejuízos que o evento causaram ao país e aos brasileiros.   
Enquanto a Fifa tem motivos auspiciosos para comemorar o estrondoso superávit que turbinou seus cofres, graças às bondades do governo tupiniquim, que concedeu isenção de impostos justamente a quem não fez em absoluto nada para merecer, visto que não houve nenhum investimento por parte dessa famigerada instituição no Brasil, os brasileiros estão pagando pela incompetência administrativa do governo, com bilhões de reais jogados pelos ralos da soberba e da prepotência de ter realizado megaempreendimento quando o país atravessava grave crise na sua economia.
O resultado da empáfia é o recorde de déficit público, com a construção de elefantes brancos que custaram o olho da cara e agora estão causando enormes gastos com a sua manutenção, sem que eles tenham o mínimo de utilidade para a população, como no caso de Brasília, onde o campeonato de futebol local se encontra quase na fase de encerramento e nenhum jogo foi realizado no Mané Garrincha, justamente pela inviabilidade financeira para bancar as despesas, visto que o público seria ridicularmente pequeno, em contraposição do gigantismo do tamanho do estádio, que exige enormes despesas somente para ser usado.
Além dos desperdícios com a construção dos inúteis estádios e da reforma de outros, cujas despesas deveriam ter sido em harmonia com a austeridade que se recomendaria em razão das carências de obras públicas, como hospitais, escolas, estradas, saneamento básico, infraestrutura etc., que continuaram faltando mesmo depois da copa, muitas obras realizadas não se prestam nem mesmo como os apregoados alegados da capa, visto que muitos empreendimentos ainda não foram concluídos ou sequer tiveram início, em demonstração de completo desprezo à dignidade que deveria existir na administração do país.
Em contraposição, os prejuízos foram repassados para os brasileiros, que contabilizaram muitas despesas, com investimentos em inutilidades e ainda contribuiu para enriquecer as empresas, que faturaram alto com a costumeira corrupção facilitada quando se tem contratação por parte do Estado.  
Na verdade, a Copa do Mundo de 2014 propiciou à instituição controladora do futebol mundial o mais expressivo resultado financeiro de sua história, com a entrada em seus cofres de milhões de dólares bem acima do que era esperado.
Diante desse quadro de visíveis precariedades, o fiasco da Seleção brasileira, além se harmonizar com o desempenho da gestão pública, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o povo brasileiro, que havia sido anestesiado pela classe dominante de que haveria no país a Copa das Copas.
O fracasso nos gramados remete automaticamente para a premente necessidade de reflexão sobre as precariedades da administração do país, que seriam postas de lado com o uso do possível sucesso do esquete canarinho, ou seja, a classe política já tinha tudo estruturado para fazer uso do resultado da copa em nome da eficiência do governo, que foi o mentor desse desastroso evento para a sociedade.
O Brasil tem eterna dívida de gratidão à Seleção Alemã, que foi capaz de interromper as maquiavélicas farsas que seriam protagonizadas pela classe política dominante, em proveito oportunista e político, caso a Seleção do Brasil tivesse representado o país com o brilhantismo e a dignidade esperados por todos.
Com a completa incapacidade de administrar as políticas públicas com a indispensável eficiência, o governo estaria pronto para dizer que o desempenho da seleção era a prova da sua competência, por ter sido o mentor dessa irresponsável Copa do Mundo no Brasil, ante as visíveis mazelas que continuarão atormentando os brasileiros.
A copa deixa muito claro que a sua possível boa organização que, sem nenhuma surpresa, contou com a prioridade governamental, mediante maciços recursos públicos que deixaram de ser aplicados em hospitais, escolas, estradas etc., embora levando bordoadas a todo instante dos cartolas da Fifa, que ameaçaram chutar o traseiro do governo e tirar a copa do país, os estádios foram concluídos a contento, fato que até poderia servir para que o povo exigisse dos gestores públicos que a administração das políticas públicas seja tão igual ou melhor, em qualidade e eficiência, ao empenho e aos recursos alocados para os estádios da copa.
Pelo menos essa copa serviu para mostrar aos brasileiros o quanto as decisões absurdas podem prejudicar os destinos do país e do seu povo, antes os resultados desastrosos computados na conta da sociedade, que contabiliza pouca coisa como legado, citando como exemplos apenas os aeroportos, que já deveriam ter sido melhorados bem antes dela, independentemente da realização de qualquer megaevento, como fazem os países civilizados, cujos governos se preocupam exclusivamente com o bem comum da população e não com a realização de eventos dispendiosos e prejudiciais ao interesse público.
A propósito, não foi somente no futebol que o Brasil foi impiedosamente goleado, porque o país vem levando goleada da criminalidade, da corrupção, do tráfico de drogas, da incompetência administrativa, da impunidade, da politicagem, da cafajestagem, da péssima prestação dos serviços públicos, da prepotência, do desperdício de dinheiros públicos, da má administração dos recursos públicos e de tantas precariedades que contribuem para que o Brasil seja, hoje, um país desacreditado e ridicularizado, em que pese se tratar da sétima potência econômica mundial, mas tem o status de país apequenado pela qualidade da sua administração. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 25 de março de 2015

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