Agora
que a Fifa acaba de divulgar balanço sobre as operações pertinentes à Copa do
Mundo no Brasil, que teria rendido lucro recorde
aproximado de US$ 5 bilhões - cerca de R$ 16 bilhões -, que é considerado o
maior resultado financeiro da sua história, convêm ser contabilizados os
prejuízos que o evento causaram ao país e aos brasileiros.
Enquanto a Fifa tem motivos auspiciosos para
comemorar o estrondoso superávit que turbinou seus cofres, graças às bondades
do governo tupiniquim, que concedeu isenção de impostos justamente a quem não
fez em absoluto nada para merecer, visto que não houve nenhum investimento por
parte dessa famigerada instituição no Brasil, os brasileiros estão pagando pela
incompetência administrativa do governo, com bilhões de reais jogados pelos
ralos da soberba e da prepotência de ter realizado megaempreendimento quando o
país atravessava grave crise na sua economia.
O resultado da empáfia é o recorde de déficit
público, com a construção de elefantes brancos que custaram o olho da cara e
agora estão causando enormes gastos com a sua manutenção, sem que eles tenham o
mínimo de utilidade para a população, como no caso de Brasília, onde o campeonato
de futebol local se encontra quase na fase de encerramento e nenhum jogo foi
realizado no Mané Garrincha, justamente pela inviabilidade financeira para
bancar as despesas, visto que o público seria ridicularmente pequeno, em
contraposição do gigantismo do tamanho do estádio, que exige enormes despesas
somente para ser usado.
Além dos desperdícios com a construção dos inúteis
estádios e da reforma de outros, cujas despesas deveriam ter sido em harmonia
com a austeridade que se recomendaria em razão das carências de obras públicas,
como hospitais, escolas, estradas, saneamento básico, infraestrutura etc., que
continuaram faltando mesmo depois da copa, muitas obras realizadas não se
prestam nem mesmo como os apregoados alegados da capa, visto que muitos
empreendimentos ainda não foram concluídos ou sequer tiveram início, em demonstração
de completo desprezo à dignidade que deveria existir na administração do país.
Em contraposição, os prejuízos foram repassados
para os brasileiros, que contabilizaram muitas despesas, com investimentos em
inutilidades e ainda contribuiu para enriquecer as empresas, que faturaram alto
com a costumeira corrupção facilitada quando se tem contratação por parte do
Estado.
Na verdade, a Copa do Mundo de 2014 propiciou à
instituição controladora do futebol mundial o mais expressivo resultado
financeiro de sua história, com a entrada em seus cofres de milhões de dólares
bem acima do que era esperado.
Diante desse quadro de visíveis precariedades, o
fiasco da Seleção brasileira, além se harmonizar com o desempenho da gestão
pública, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o povo brasileiro,
que havia sido anestesiado pela classe dominante de que haveria no país a Copa
das Copas.
O fracasso nos gramados remete automaticamente para
a premente necessidade de reflexão sobre as precariedades da administração do
país, que seriam postas de lado com o uso do possível sucesso do esquete
canarinho, ou seja, a classe política já tinha tudo estruturado para fazer uso
do resultado da copa em nome da eficiência do governo, que foi o mentor desse
desastroso evento para a sociedade.
O Brasil tem eterna dívida de gratidão à Seleção
Alemã, que foi capaz de interromper as maquiavélicas farsas que seriam
protagonizadas pela classe política dominante, em proveito oportunista e
político, caso a Seleção do Brasil tivesse representado o país com o brilhantismo
e a dignidade esperados por todos.
Com a completa incapacidade de administrar as
políticas públicas com a indispensável eficiência, o governo estaria pronto
para dizer que o desempenho da seleção era a prova da sua competência, por ter
sido o mentor dessa irresponsável Copa do Mundo no Brasil, ante as visíveis
mazelas que continuarão atormentando os brasileiros.
A copa deixa muito claro que a sua possível boa
organização que, sem nenhuma surpresa, contou com a prioridade governamental,
mediante maciços recursos públicos que deixaram de ser aplicados em hospitais,
escolas, estradas etc., embora levando bordoadas a todo instante dos cartolas
da Fifa, que ameaçaram chutar o traseiro do governo e tirar a copa do país, os
estádios foram concluídos a contento, fato que até poderia servir para que o
povo exigisse dos gestores públicos que a administração das políticas públicas
seja tão igual ou melhor, em qualidade e eficiência, ao empenho e aos recursos
alocados para os estádios da copa.
Pelo menos essa copa serviu para mostrar aos
brasileiros o quanto as decisões absurdas podem prejudicar os destinos do país
e do seu povo, antes os resultados desastrosos computados na conta da
sociedade, que contabiliza pouca coisa como legado, citando como exemplos apenas
os aeroportos, que já deveriam ter sido melhorados bem antes dela,
independentemente da realização de qualquer megaevento, como fazem os países
civilizados, cujos governos se preocupam exclusivamente com o bem comum da
população e não com a realização de eventos dispendiosos e prejudiciais ao interesse
público.
A
propósito, não foi somente no futebol que o Brasil foi impiedosamente goleado,
porque o país vem levando goleada da criminalidade, da corrupção, do tráfico de
drogas, da incompetência administrativa, da impunidade, da politicagem, da cafajestagem,
da péssima prestação dos serviços públicos, da prepotência, do desperdício de
dinheiros públicos, da má administração dos recursos públicos e de tantas
precariedades que contribuem para que o Brasil seja, hoje, um país
desacreditado e ridicularizado, em que pese se tratar da sétima potência
econômica mundial, mas tem o status de país apequenado pela qualidade da sua
administração. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de março de 2015
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