quinta-feira, 19 de março de 2015

Rebelião contra os políticos?

O vice-presidente da República concedeu entrevista para a um repórter da GloboNews, na qual foram abordados temas sobre as manifestações de protestos contra o governo e a corrupção, as investigações da Operação Lava-Jato, a reforma política, o ajuste fiscal e a relação dele com a presidente do país e o PT, entre outros assuntos.
Na ocasião, ele disse que "O que é preciso, quando se tem movimento de rua, é ouvi-lo" e que é “impensável” o impeachment da presidente da República, em que pese a prática de improbidade administrativa, pela forma deletéria como o país vem sendo administrado, notadamente quanto à terrível condução das políticas econômicas, cujos indicadores sinalizam para forte quadro de recessão, com dificuldades para a produção, o emprego, a arrecadação de tributos, os investimentos em obras públicas, enfim, para o desenvolvimento do país.
Com relação à última pesquisa Datafolha, mostrando que o governo petista tem somente 13% de aprovação e 62% de desaprovação por 2.858 entrevistados, o vice-presidente simplesmente disse que "É uma rebelião, digamos assim,  contra a classe política.".
É inacreditável que o político classifique nítidas repulsa e insatisfação da sociedade contra o desgoverno do país e a corrupção de mera rebelião, em claro e completo menosprezo à inteligência da multidão que foi às ruas protestar contra o que de pior vem acontecendo contra o interesse público, mas o pemedebista estaria acenando no sentido de que o povo deveria ser condescendente com as precariedades, em aceitação dos atos nocivos, como a fazem os políticos como ele.
O vice-presidente da República perdeu excelente oportunidade para se firmar como político sério, competente e honesto, mas a desperdiçou em nome da sua fidelidade à presidente da República, alvo da desaprovação e da insatisfação da sociedade, em razão da maneira desastrosa como vem administrando o país, exatamente com o adjunto desse político e de seu partido, que se associam incondicionalmente à mandatária brasileira, respaldando a condução deletéria dos interesses da nação.
É bastante lamentável que o vice-presidente entenda como rebelião se pretender que o país seja governado com competência, moralidade, dignidade e honestidade, princípios que sempre devem imperar na administração pública, como se isso não fosse indispensável.
A declaração do pemedebista de considerar a manifestação legítima da sociedade de rebelião contra a classe política representa verdadeiros retrocesso político e deboche ao sentimento do povo, por haver nisso incompreensão sobre a real situação calamitosa pela qual se encontra o país, cujo governo acha-se atolado até a medula no maior lamaçal da incompetência administrativa e da corrupção que grassam nas práticas político-administrativas.
Trata-se de político que tem coragem de assumir que é normalidade brasileira a primazia pela incompetência da governança do país e a convivência com a tragédia da corrupção, que têm o condão de contribuir para o subdesenvolvimento da nação.   
A afirmação de que a insatisfação da sociedade é rebelião contra a classe política tem algo de insensato e impensado, além da demonstração da exata dimensão da compreensão dos políticos tupiniquins sobre a incompetência administrativa e as irregularidades com recursos públicos, por tratarem esse fato como sendo absolutamente normal, que a sociedade deveria conviver pacificamente com a situação caótica.
O certo é que os maus políticos nunca vão se curvar à realidade da tragédia administrativa do país, que vem de longa data, mesmo que os fatos prejudiciais sejam cristalinos e incontestáveis, mostrando a desgraça que abate sobre as políticas econômicas e o ineficiente combate à corrupção.
Na verdade, enquanto houver políticos com mentalidade dissociada da realidade dos fatos incontestáveis, com capacidade para ignorá-los por completo, como os que grassam atualmente na administração pública, este país não passará de desprezível republiqueta, por indiscutível desrespeito aos princípios da sinceridade, dignidade, moralidade e honestidade. Acorda, Brasil!
                              
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 19 de março de 2015

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