segunda-feira, 25 de abril de 2016

Insensibilidade política


Segundo a imprensa, a Procuradoria Geral da República vai analisar as mais de 17 mil manifestações contrárias ao discurso do deputado que teria feito apologia à tortura no regime militar, ao enaltecer a figura de militar que comandou o Doi-Codi, órgão de repressão, e teria sido considerado torturador perante a Justiça brasileira.
O Instituto Vladmir Herzog também se manifestou contra as declarações do deputado, afirmando, entre outras coisas, que “Nossa Constituição é plena de razões explícitas, desde seus Princípios Fundamentais, para se impedir que Jair Bolsonaro continue a ofender e envergonhar o Brasil com sua apologia à tortura por agentes do Estado e incitação ao crime, em plena Câmara dos Deputados – pelo que deveria inclusive ser responsabilizado criminalmente. (...) O Instituto Vladimir Herzog, pela decisão unânime de seus conselheiros, manifesta sua indignação contra essa abominável pregação pelo mais vil aspecto de qualquer ditadura, já por si execrável. Conclamamos todos os cidadãos que, como nós, exaltam a democracia como valor fundamental a pressionarem os deputados federais, o STF – guardião da Constituição – todos, enfim, a livrar nosso Congresso dessa figura ignóbil que se jacta publicamente de ser criminosa.”.
Nessa mesma linha, a OAB-RJ entrou com processo na Justiça, pedido a cassação do deputado, por entender que ele teria atentado contra o decoro parlamentar.
Conviria que o deputado fosse mais pé no chão, equilibrado, sensato, ponderado e que tivesse pouco mais de racionalidade para transmitir seu pensamento como homem público, porque a forma como ele age pode até agradar parcela expressiva da caserna, onde existe a sua base de simpatizantes, mas, sinceramente, o seu comportamento como parlamentar desagrada muita gente que tem pouco mais senso de equilíbrio e pensa em termos de Brasil.
Impressiona que o deputado, com seu instinto um tanto agressivo sobre causa que é completamente destoante da atualidade, não perceba que o homem público precisa raciocinar de modo construtivo e agir com equilíbrio suficientemente capaz de contribuir para o aperfeiçoamento da democracia, sem necessidade de ressuscitar temas que fazem parte do passado, porque é do seu  dever pensar tão somente no presente e no futuro, salvo se for provocado sobre a sua honra e a sua dignidade, o que não têm sido exatamente os casos que ele vem se envolvendo.
No caso específico da votação do impeachment, ele simplesmente suscitou assunto absolutamente espinhoso, desnecessário e de extrema provocação para determinado segmento da sociedade, o qual não condizia com a importância do evento, quando ele certamente seria apenas aplaudido se dissesse apenas "sim", sem precisar aparecer como defensor de causa que todos já sabem que ele tem forte ligação.
Convém que o parlamentar, que tem importantes pretensões políticas, evitasse se envolver em situações desagradáveis, como essa da baixaria em plena solenidade especial da votação do impeachment da presidente da República, sendo preferível que ele se mantivesse defendendo causas que digam respeito aos interesses nacionais, voltadas para o presente e o futuro, porque o passado deve pertencer exclusivamente aos museus, que servem apenas como importante guardião dos registros sobre a história.
Se o deputado continuar na tentativa de aparecer e agradar os militares, certamente vai perder simpatia e votos de civis, que têm outra mentalidade sobre brasilidade, bem diferente dessa ideia de corporativismo, sempre considerado pernicioso para os interesses nacionais.
Trata-se de opção dele, mas, à toda evidência, o estadista deve pensar exclusivamente no país, de maneira republicana, sem tomar partido para determinada causa ou partido, porque isso foge da normalidade democrática e dos princípios republicanos.
Não há dúvida de que pensamento sobre o Brasil deve levar em conta apenas a defesa dos interesses dos brasileiros, como forma de servir como contribuição para a plataforma de qualquer candidato, porque os homens públicos devem ter maturidade suficiente para se comportar de forma exemplar, sem necessidade de provocação ou de acirramento absolutamente desnecessários.
Infelizmente, diante da inegável deterioração dos princípios ético e moral, o nível cultural dos políticos passa por terrível deterioração, como forma de satisfazer a igualmente pobreza cultural dos eleitores, que, em parcela significativa, demonstra plena desinformação e desconhecimento da realidade sobre a origem das falcatruas e da depravação da moralidade que permite que os principais políticos entendam que a corrupção é normal, porque seus antecessores ou adversários políticos também se beneficiado dos esquemas ilícitos, como se as irregularidades praticadas por alguém pudessem respaldar ilegitimidades semelhantes.
O deputado poderia conquistar a simpatia não somente daqueles que ainda estão com pensamento voltado para o regime militar, mas também dos demais brasileiros, por meio de atitude que não leve a erros políticos graças à exaltação de fatos que podem muito bem ficar gravados apenas na história do país.
O Brasil precisa de urgentes mudanças que exijam tão somente projeção de olhares tanto para o presente como para o futuro, de modo que os brasileiros possam acreditar em propostas renovadoras, sem essa de ficar enaltecendo a imagem de quem precisa descansar em paz, no caso dos atos protagonizados no regime militar.
As mentalidades retrógradas apenas demonstram retrocesso e por causa disso o país se encontra completamente atolado em profundas crises ética, moral, política e administrativa, sem precedentes, fato que suscita a premência do surgimento de homens públicos sensatos, equilibrados, ponderados e acima tudo com capacidade para influenciar de forma positiva e entender que os brasileiros precisam acreditar em político que possa contribuir para a união, a pacificação, a compreensão e o entendimento, em todas as suas formas de concepção do Estado brasileiro. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de abril de 2016

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