segunda-feira, 4 de abril de 2016

Tentativa de falsificação da legalidade e da democracia


A presidente da República recebeu, em reunião fechada no Palácio do Planalto, grupo formado por juristas, advogados, promotores e defensores públicos contrários ao processo de impeachment que ela enfrenta na Câmara dos Deputados.
O encontro é intitulado “Em defesa da legalidade e da democracia” e teve a predominância de críticas ao juiz federal que comanda a Operação Lava-Jato, responsável pelas investigações que desbarataram inúmeros casos de esquemas de desvio de dinheiro da Petrobras, pela revelação de atos criminosos praticados por empresários e políticos e pela prisão de muitos empresários e ex-diretores da estatal, todos envolvidos em ladroagem do dinheiro público.
Os considerados “notáveis” foram beijar a mão da presidente com a explícita vontade de se manifestar em contrariedade ao impeachment da presidente, por entenderem que há legalidade e democracia nas reiteradas práticas de infringência das normas de administração financeira e orçamentária, mesmo em contraposição aos limites de ajustes fiscais de que tratam as Leis de Responsabilidade Fiscal e de Diretrizes Orçamentárias.
As práticas das famigeradas pedaladas fiscais representaram crime de responsabilidade fiscal, previsto em lei específica, tendo o balizamento derivado da Constituição Federal para respaldar a decisão adotada pelo Tribunal de Contas da União, que concluiu pela irregularidade das contas da presidente da República, referentes ao exercício de 2014, implicando na recomendação ao Congresso Nacional, nos termos da Carta Magna, que não as aprove, pela constatação de irregularidades graves e insanáveis, uma vez que elas destoam dos princípios da austeridade e legalidade.
Diante desses fatos, com que autoridade esses juristas podem defender a legalidade e a democracia dos atos praticados pela presidente, à vista da patente irregularidade das contas dela? Como explicar que a presidente não teria praticado crime de responsabilidade fiscal, se suas contas foram reprovadas pelo crivo da autoridade máxima do controle externo do país?   
O encontro de notáveis serve para mostrar o nível daqueles que preferem ignorar e fechar os olhos para fatos graves que existiram e são enquadrados na legislação de regência como infringência a princípios constitucional e legal, cuja presença dos juristas ao Palácio do Planalto tem o condão de prestar solidariedade à presidente que teve a insensatez de, mesmo admoestada pelo TCU, continuar na prática da maquiagem das contas públicas, com as reiteradas pedaladas fiscais, cujos valores foram liquidados no apagar das luzes de 2015, com o astronômico dispêndio que superou o importe de R$ 70 bilhões, tendo, em consequência, contribuído para turbinar o endividamento do país e para a reincidência de mais irregularidade, uma vez que o rombo nas contas pertinentes aos juros só aumentou de tamanho, para que os bestas do contribuintes assumissem o ônus da incompetência gerencial do governo.
É evidente que os juristas em defesa da legalidade e da democracia não tiveram o menor pudor de reafirmar que não há "requisitos constitucionais e legais necessários para configurar um eventual crime de responsabilidade cometido por Dilma”, quando as pedaladas fiscais sequer foram citadas por eles, como se elas inexistissem, mas para eles prevalecem o entendimento de pura conveniência política em tudo praticado pela petista, na tentativa da continuidade de governo que não assume a responsabilidade por seus erros, em clara demonstração de que a prepotência não condiz com a realidade dos fatos, uma vez que eles existiram e foram registrados pela própria contabilidade do governo, não podendo ser ignorados, dando a entender, ao contrário, que a presidente é apenas, pasmem, vítima de perseguição política.
Conforme já reconhecido em público pelo principal líder do PT, a dificuldade da atual gestão tem origem nas mentiras disseminadas pela então candidata petista à reeleição, que ganhou o pleito com o voto popular, que pode ter conquistado com base nas promessas que constituíram verdadeiro calote eleitoral, uma vez que elas foram por terra depois de muitos atos contrários às afirmações de que não os praticaria no seu governo, fato que contradiz o salutar princípio democrático da verdade e da honestidade, que foi defendido por notáveis juristas, com a cara mais lisa, diante da pessoa que atropelou as falsas promessas de campanha, dando capotada na verdadeira democracia.
Nos países sérios e desenvolvidos democraticamente, o verbete democracia é antídoto, principalmente de mentiras e corrupção, que os juristas de lá sabem perfeitamente interpretá-lo com maestria e sabedoria no exato termo da sua finalidade, sem desvirtuá-lo um só milímetro, diante da importância da prevalência da sinceridade e da honestidade para com a sociedade, que também não se conforma com a inversão dos valores republicano e democrático.
A presidente poderia, à luz do princípio democrático, se reunir também com juristas favoráveis ao impeachment, para ouvir deles os fundamentos ensejadores do afastamento dela, porque a democracia é a ciência que comporta opiniões divergentes, favoráveis e desfavoráveis, e o vencedor das demandas sempre será o lado onde o povo constitui maioria.
Os brasileiros precisam ter sensibilidade para entender que a defesa da legalidade e da democracia deve se fundamentar em parâmetros sustentáveis nos princípios da dignidade e da honestidade, que jamais podem ser ignorados por questões de conveniência meramente política.
Os fatos precisam ser analisados à luz da verdade, como no caso do impeachment contra a presidente do país, que se processa diante de fatos materiais que não podem ser desprezados, porque eles foram evidenciados nas contas públicas, cabendo à responsável por eles assumir a sua culpa, com embargo da mobilização de juristas que não estão tendo a dignidade de levar em conta a materialização deles, preferindo enaltecer a falsa defesa da legalidade e da democracia, como forma de iludir a opinião pública, que tem sido permanentemente enganada e ludibriada por meio de reiteradas inverdades, em explícito atendimento às conveniências espúrias de toda ordem. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 04 de abril de 2016

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