sexta-feira, 1 de abril de 2016

O submundo da política


A retirada do sigilo de interceptações telefônicas do ex-presidente República petista revela conversas gravadas pela Polícia Federal que demonstram verdadeiro submundo da sujeira, do lamaçal e da pouca-vergonha que campeiam nas interlocuções entre importantes políticos do país.
O juiz afirma que, “pelo teor dos diálogos degravados, constata-se que o ex-Presidente já sabia ou pelo menos desconfiava de que estaria sendo interceptado pela Polícia Federal, comprometendo a espontaneidade e a credibilidade de diversos dos diálogos”.
Ligações feitas pelo petista demonstram gigantesco tráfico de influência, prepotência, baixaria, palavrões e adjetivações muito pouco usual no mundo civilizado, conforme alguns exemplos mostrados a seguir.
Presidente do país para seu antecessor: “Seguinte, eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!”.
Ex-presidente: “Mas viu, querido, ela tá falando dessa reunião, ô Wagner, que queria que você visse agora, falar com ela, já que ela tá aí, falar o negócio da Rosa Weber, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, que sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram”.
O juiz diz que outro ministro também aparece nos diálogos: "Há diálogo que sugere tentativa de se obter alguma intervenção do Exmo. Ministro Ricardo Lewandowski contra imaginária prisão do ex-Presidente, mas sequer o interlocutor logrou obter do referido Magistrado qualquer acesso nesse sentido".
Ex-presidente: "Eu às vezes fico pensando até que o Aragão deveria cumprir um papel de homem naquela porra, porque o Aragão parece nosso amigo, parece, parece, mas tá sempre dizendo 'olha...'.".
Ex-presidente: "Eu, estou dizendo aqui pro PT, Dilma que não tem mais trégua. Não tem que ficar acreditando na luta jurídica. Nós temos que aproveitar a nossa militância e ir pra rua. Eu, sinceramente, que tô querendo me aposentar, eu vou antecipar minha campanha pra 2018. Eu vou acertar de viajar esse país a partir da semana que vem, sabe?! E quero ver o que vai acontecer. É, lamentavelmente, vai ser isso, querida. Eu não vou ficar em casa parado".
Ex-presidente: "Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada. Nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um parlamento totalmente acovardado. Somente nos últimos tempos é que o PT e o PC do B é que acordaram e começaram a brigar. Nós temos um Presidente da Câmara f..., um presidente do Senado f... Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e que vai todo mundo se salvar. Eu, sinceramente, tô  assustado com a 'República de Curitiba'. Porque a partir de um juiz de primeira instância, tudo pode acontecer nesse país".
Ex-presidente: “O juiz Sérgio Moro quis fazer um espetáculo, antes da decisão daquele negócio que tá no Supremo pra decidir, a gente não sabe se é contra ou a favor, mas ele precisava fazer um espetáculo de pirotecnia. As perguntas foram as mesmas que eu já respondi ao MP e a dois delegados da PF".
Ex-presidente: "Sabe porque, eu até tirei um sarro da Clara Ant de ficar procurando o que fazer, faz um movimento das mulheres, contra esse fdp! Ele batia na mulher, levava a mulher no culto religioso, deixava ela sem comer, dava chibatada nela, sabe?! Cadê as “mulher (sic) de g... duro” lá do nosso partido?!".
O juiz da Operação Lava-Jato disse que o “levantamento (do sigilo) propiciará assim não só o exercício da ampla defesa pelos investigados, mas também o saudável escrutínio público sobre a atuação da Administração Pública e da própria Justiça criminal. A democracia em uma sociedade livre exige que os governados saibam o que fazem os governantes, mesmo quando estes buscam agir protegidos pelas sombras”.
O magistrado asseverou que o sigilo também não se justifica em razão de a “prova ser resultante de interceptação telefônica. Sigilo absoluto sobre esta deve ser mantido em relação a diálogos de conteúdo pessoal inadvertidamente interceptados, preservando-se a intimidade, mas jamais, à luz do art. 5º, LX, e art. 93, IX, da Constituição Federal, sobre diálogos relevantes para investigação de supostos crimes contra a Administração Pública”.
Não há dúvida de que os grampos da Polícia Federal, feitos com autorização do juiz federal representaram importante contribuição ao princípio democrático, em especial aquele que deixa claro que a presidente brasileira agiu sim na tentativa de se evitar a prisão do seu antecessor pelo juiz da Lava-Jato, com a nomeação dele para o cargo de ministro da Casa Civil, mostrando os meandros de como funciona a influência dentro do poder, sempre em benefício de pessoas do mesmo grupo político, como nesse caso, em que se concede ao ex-presidente foro privilegiado, no Supremo Tribunal Federal.
As medidas adotadas pela presidente do país deixam muito claro o desprezo à liturgia do cargo de mandatária para assumir, de forma indevida, o de juíza, quando se colocou em defesa do petista, protestando contra as investigações sobre suspeitas de atos irregulares envolvendo seu amigo, quando ela devia cuidar exclusivamente dos assuntos de interesse nacional, com embargo de sua preocupação com questões pessoais que dizem respeito ao próprio acusado e seus advogados.
Conforme evidenciam as conversas grampeadas, o juiz que comanda a Operação Lava-Jato prestou importante contribuição ao país, ao mostrar a forma antidemocrática como o petista-mor costuma tratar, nos bastidores, as autoridades e as pessoas em geral, com bastante truculência, indelicadeza e desprezo aos seus pares, como evidenciam as mensagens tornadas ostensivas.
Os brasileiros precisam se conscientizar sobre a extrema gravidade para o interesse público da existência de homens públicos truculentos, demagogos e prepotentes, à vista da revelação de atos nada condizentes com os termos adequados à dignidade que devem ser ditas no âmbito das autoridades dos poderes da República, que não deveriam ser menosprezadas simplesmente por não atentarem, de forma cuidadosa, para possíveis interesses de pessoas acusadas de envolvimento em atos ilícitos, porque isso denota requinte de extrema demagogia e de antagonismo de personalidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de abril de 2016

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