O
presidente da República dá clara demonstração de que precisa mostrar ao mundo o
seu sentimento antagônico às medidas que estão sendo adotadas, com a liderança
do seu governo, para o combate ao devastador Covid-19, ao desafiar, em caráter
pessoal, embora com a autoridade do poder delegado pelo povo, as medidas
notoriamente impopulares adotadas pelas autoridades incumbidas das execução das
políticas necessárias às prevenções da disseminação das infecções na população.
Provavelmente,
o presidente não se preocupa em ser classificado como marginal na defesa das
aludidas medidas, por evidenciar espontânea manifestação de contrariedade a
elas, talvez por sentir que isso o transpõe para os braços do povão, certamente
a classe que poderá ser bastante prejudicado em caso de agravamento da incidência
do coronavírus, o que poderia causar verdadeira tragédia nacional, em razão de
tresloucada atitude de quem age, decerto até com bons propósitos, mas completamente
em dissonância com as orientações dos órgãos de seu próprio governo, que veem atuando,
corretamente ou não, rigorosamente com base na cartilha aplicável em casos que
tais.
O
presidente demonstra tamanha felicidade com a notoriedade global subitamente
adquirida, na presunção de que isso poderá reverter a sua notória queda de
popularidade, conforme mostraram as recentes pesquisas de opinião pública, e
ainda converter o bom momento em votos, na próxima eleição presidencial,
pasmem, que somente ocorrerá daqui a mais dois.
O
certo é que ele insiste em desafiar aberta e corajosamente as diretrizes da
Organização Mundial da Saúde, adotadas pelo Ministério da Saúde e por
governadores e prefeitos de quase unanimidade, ao promover aglomerações por onde
anda, como forma de demonstrar o seu espalhafatoso jeitão de homem popular.
Em
editorial, o jornal O Estadão, disse que “Bolsonaro, graças a seu
comportamento irresponsável, começa a conquistar um lugar jamais ocupado por um
presidente brasileiro – o de vilão internacional”.
No
mesmo editorial, consta que, verbis: “Nem mesmo o presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, idolatrado por Bolsonaro, persistiu em sua costumeira arrogância
diante do avanço dramático da epidemia, rendendo-se à necessidade de prorrogar
o isolamento social, mesmo ante o colossal custo econômico dessa medida.”. Diante da visível impulsividade do presidente
brasileiro, integrante da Justiça fez alerta a ele de que, “se tentar
flexibilizar as regras de isolamento social por conta do novo coronavírus na
“canetada”, enfrentará uma difícil batalha na Justiça.”.
A
aludida advertência levada ao presidente condiz com o momento de muita preocupação
com o desempenho do coronavírus, que exige, sobretudo, ação coordenada entre o
governo federal, os Estados e os municípios com a finalidade de priorizar tentativa
de controlar o avanço da pandemia no país e, ao mesmo tempo, evitar colapso nos
serviços e atividades essenciais de atendimento da população.
Em
que pesem os severos alertas sobre a necessidade de ponderação e bom senso, o
presidente decidiu sair do Palácio da Alvorada para o que ele chamou de tour
"aleatório" pelo Distrito Federal, onde ele resolveu parar em
várias localidades para simples cumprimento a apoiadores dele.
A
maior gravidade disso é que a visita do presidente a locais com concentração de
pessoas ocorreu menos de 24 horas após o ministro da Saúde ter defendido
rigoroso distanciamento social, neste momento especial, justamente para evitar
um colapso do sistema de saúde, diante da preocupação sobre a evolução do coronavírus
no país.
No
âmbito do Congresso Nacional e do Judiciário, há a avaliação de que o
presidente é “incontrolável” e “incorrigível”, diante do que tem-se
mantido o entendimento sobre a continuidade das ações coordenadas entre a União
e os Estados e os municípios, tendo por base as orientações emanadas pela ciência
da medicina, à vista das experiências sobre pandemia.
De
maneira surpreendentemente, ao retornar de seu périplo distrital ao Palácio da
Alvorada, o presidente teria afirmado a jornalistas estar com vontade de
ampliar o número de atividades que não podem parar durante a crise
epidemiológica.
Ele
afirmou que, verbis: “Eu estou com vontade, tenho como fazer, estou
com vontade: baixar um decreto amanhã. Toda e qualquer profissão, legalmente,
existente ou aquela que é voltada para a informalidade, se for necessária para
o sustento dos seus filhos, levar o leite dos seus filhos, arroz e feijão para
sua casa, vai poder trabalhar. Me deu um insight, me deu uma ideia aqui agora e
falei que estou pensando em fazer um decreto desses, para ver se cabe. Acho que
ajuda um decreto desses. O cara vai cortar grama. Se não cortar grama, não tem
dinheiro para comprar o leite, arroz e feijão para as crianças, ele vai cortar
grama.”.
Alguns
governadores se rebelaram contra o desejo do decreto presidencial, inclusive com
ameaça de irem à Justiça para a impugnação das medidas por ele adotadas nesse
documento, contrariamente ao entendimento correto vigente, em continuidade às
recomendações do Ministério da Saúde, que têm respaldo na Organização Mundial
da Saúde, sob o argumento de que os Estados e municípios são os entes da federação
que vão sustentar o batente, quando a crise se intensificar, se realmente ela se
tornar realidade.
À
toda evidência, a intenção de magnanimidade do presidente pode até ter respaldo
nos seus projetos políticos, em termos da mera credibilidade popular, como
fazem normalmente os políticos inescrupulosos e hipócritas, mas ela encontra extrema
resistência no que diz respeito ao sentimento humanitário, quando é preciso
priorizar o valor da vida humana, sob quaisquer que sejam os pretextos, por
mais nobres que sejam.
O
desprezo às medidas cogitadas como sendo essencial à preservação da maior
quantidade possível de vidas humanas valem qualquer sacrifício da nação, em benefício
de seu povo, que é a célula máter do Brasil, que precisa ser honrada, em
especial pelo seu líder maior, que foi investido no poder supremo do país exatamente
para lutar e defender os interesses do seu povo, tanto nos momentos de glória e
bonança como na hora da tragédia que poderá se abater ou vir a atingi-lo,
enquanto, nesse ínterim, ainda se vislumbram caminhos possíveis para que
somente haja uníssono sentimento de solidariedade e ajuntamento de ações e propósitos
no combate ao terrível mal invisível, mas de enorme poder agressivo à saúde do homem,
motivo de muita preocupação para a humanidade, que precisa se conscientizar, o
quanto antes, para que a insanidade irresponsável não prevaleça sobre a
racionalidade e os princípios de amor ao ser humano.
Não
tem o menor cabimento que o desejo de incerteza possa triunfar sobre os
interesses maiores da população, que, na sua absoluta maioria, defende o isolamento
social, como importante protocolo que pode evitar catástrofe na saúde pública,
porque, ao contrário disso, é preciso que os defensores do isolamentos somente
dos idosos e de outras pessoas de risco assumam a responsabilidade por possíveis
montanhas de mortos, caso a situação fique fora do controle, como tem
acontecido em outros países, onde a perda de vidas acontece às centenas, em
escala aterrorizadora, sob ângulo do sentimento de amor à vida humana.
É
evidente que não vai resolver, por completo, o caos decorrente do confinamento
social, com as pessoas obrigadas a se isolarem e ainda serem submetidas ao
sofrimento da privação de alimentos e demais produtos de primeira necessidade,
mas a inteligência humana vislumbra saídas maravilhosas, com capacidade para amenizar
as dificuldades e tranquilizar a população, conforme o plano que mostro a
seguir, que será a medida plausível e plena racionalidade.
O
governo com o mínimo de capacidade de gestão administrativa pode criar programa
especial de assistência social, no sentido de distribuir para a população carente
cestas completas, contendo os principais componentes capazes de saciar às
necessidades básicas da família, nos moldes da criação dos recursos, no valor
de R$ 600,00, para as pessoas da informalidade, enquanto o país não voltasse à
normalidade, inclusive aproveitando, por outro flanco, para subsidiar os pequenos
empresários, no momento de dificuldades causadas pela crise, que é mundial,
onde se justifica o endividamento da nação por boa causa, porque a economia se
recupera com o tempo, mas, à toda evidência, as vidas preciosas humanas perdidas,
além de muito doloroso, não tem como haver restabelecimento, lamentavelmente...
Brasília,
em 31 de março de 2020