O presidente da República editou decreto para
proibir que autoridades públicas viagem para o local de residência, permanentemente,
em aviões da Força Aérea Brasileira.
Segundo o Palácio do Planalto, o decreto revogará a norma atual, editada
em 2002, pelo então presidente da República tucano.
De acordo com a norma anterior, autoridades como
vice-presidente da República e os presidentes da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal e do Supremo Tribunal Federal podem usar aviões da FAB, para o seu
deslocamento para o local de residência permanente.
O novo decreto estabelece, basicamente, as
seguintes regras sobre o uso de aeronaves oficiais: I - término, em definitivo,
do uso de aeronaves para deslocamento ao local de residência, ressalvados casos
de segurança e saúde; II - imposição de compartilhamento de aeronaves entre
autoridades, no caso de voos para o mesmo destino, em horários mais ou menos
próximos; III - impossibilidade do uso de aeronave por substitutos de
autoridades ou autoridades que ocupam o cargo como interino; obrigatoriedade da
comprovação, do registro e da divulgação dos motivos que levaram à viagem; IV -
responsabiliza a autoridade usuária pela requisição da aeronave; V - disciplina
o uso de lugares ociosos na aeronave.
Há
informação de que a medida ora adotada atende toda forma de pressão exercida
pela ala militar do governo, que teria sido decisiva para restringir ainda mais
o uso de aviões da Força Aérea Brasileira por ministros e outras autoridades.
É
evidente que tal medida vem em bom momento, principalmente para o governo
mostrar que as autoridades públicas precisam aprender que elas são pessoas normais
que apenas ocupam, momentaneamente, cargos especiais que não devem ter nenhuma
regalia nem prerrogativa como seres extraordinários, diferentes dos demais brasileiros,
que não possam ser transportados em aviões de carreira, sabidamente com custo da
passagem em nível bastante civilizado.
Vejam-se
que os abusos eram tão expressivos que o então secretário-executivo da Casa
Civil da Presidência da República, em substituição ao ministro da pasta, se
deslocou para a Suíça e depois a Índia, em avião oficial, tendo causado enorme contrariedade
no âmbito da cúpula militar do governo.
Diante desse episódio,
o presidente brasileiro chegou a reconhecer que se tratava de ato legal, embora
o tivesse classificado como imoral, diante da enorme repercussão negativa, amplamente
explorada pela imprensa.
Como
visto, o novo decreto proíbe o deslocamento pelas aeronaves oficiais de substitutos
de ministros ou autoridades que ocupam o cargo como interino, constituindo medida
moralizadora que acaba com abusos do dinheiro público.
Outro caso que causou enorme
perplexidade e polêmica diz respeito ao deslocamento do então presidente do
Senado Federal, ocupado por senador de Alagoas, quando ele foi de avião da FAB para
Recife, fazer tratamento capilar, por meio de implante. Diante da repercussão muito
desagradável, o senador teria ressarcido à União, com o valor de R$ 27 mil pelo
questionado deslocamento.
Não
chega a ser novidade que há verdadeira farra no ar, com o uso indevido de aeronaves
oficiais, sob os auspícios dos bestas dos brasileiros, que são obrigados a
arcar com o desperdício de recursos públicos, justamente por quem tem o dever
de dar bons exemplos de austeridade, evitando, ao máximo, abusos como esse do
uso de transporte especial bancado pelo povo.
Não
se sabe se consta do decreto, mas seria importante que constasse nele, de forma
expressa, que as viagens de autoridades que não sejam o presidente da
República, única a ter a prerrogativa de transporte exclusivo, diante da relevância
do cargo que ocupa, devam ser feitas por meio de transporte comercial, para que
fique claríssimo que ministros e outras autoridades são pessoas normais na República
tupiniquim, sem qualquer impedimento para o uso de avião de carreira popular.
Nessa
linha de rigor com os gastos públicos e com a proibição de verdadeiros abusos, o
presidente precisa e com o máximo de urgência fazer espécie de pente fino em
muitos desperdícios bancados pelos sacrificados contribuintes, merecendo
estudos no uso de carros oficiais, entre outras regalias, com abrangência nos
poderes da República, de modo que somente passem a ter direito ao transporte
oficial os titulares dos principais órgãos, obrigando que os demais servidores
públicos se desloquem até o trabalho por meio de seus próprios veículos ou da
maneira que melhor lhes convier, menos com recursos públicos.
Aliás,
medidas nesse sentido já foram adotadas, há muito tempo, nos países sérios,
civilizados e evoluídos, em termos de
respeito aos recursos dos contribuintes, que devem ser gastos somente sob
rigorosa observância de critérios de prioridade quanto à satisfação do
interesse público, em conformidade com as essencialidades das atribuições do
Estado.
Com
inspiração na filosofia de mudanças que se tornaram alvo de luta na campanha
eleitoral e que esse sentimento precisa ser investido fortemente nas ações de governo,
é preciso que o Palácio do Planalto investigue sobre a real necessidade para o
funcionamento do serviço público de muitas atividades do Estado, que até podem
ter sido necessárias no passado, mas se tornaram dispensáveis na atualidade, a
exemplo do uso de carros oficiais, por exemplo, por parlamentares e outros servidores
públicos importantes, cujo desempenho de suas atribuições permanece absolutamente
inalterado com a supressão dessa prerrogativa, com a expressiva diferença na
economia de recursos, que seriam canalizados para áreas realmente prioritárias
e carentes.
Diante
do exposto, é de suma importância que a Presidência da República, levando-se em
conta a essencialidade e a priorização que precisam ser canalizadas para o
atendimento dos serviços de incumbência constitucional do Estado, constitua
comissão de alto nível destinada ao estudo dos gastos públicos, compreendendo
todas as rubricas e dotações constantes do Orçamento da União, com vistas à
avaliação, em grau superior, sobre a sua verdadeira necessidade quanto à sua
inclusão no planejamento governamental, a exemplo da avaliação se o serviço
público se tornará mais precário ainda se somente os titulares dos principais
órgãos públicos forem de carro oficial ao trabalho e assim por diante, com relação
às prerrogativas e aos abusos existentes na República tupiniquim, que são
compulsoriamente custeados e possivelmente de forma desnecessária pelos sobrecarregados
e penalizados contribuintes.
Brasília, em 6 de março de 2020
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