A
imagem estampada em uma via pública de Uiraúna, Paraíba, onde se enxerga enorme
depósito de água e muitas pessoas juntas dele, em disciplinada fila, com suas vasilhas
postas na ordem de chegada, à espera da sua vez para pegar o valioso líquido, imediatamente
vem à mente o que poderá ser dessas pessoas, no caso da obrigatoriedade de se
manter dentro de casa, para se evitar a infecção com o temível coronavírus?
Por
conta da omissão, da incompetência e, sobretudo, da irresponsabilidade na
gestão da coisa pública, o poder público daquela cidade impingiu à população um
dos maiores castigos, por meio da paralisação do fornecimento de água encanada,
em que pesem as boas chuvas que vêm caindo no Sertão, sendo insuficientes para
a recomposição do reservatório pertinente ao reabastecimento de água à população.
Para
aumentar o martírio do povo daquela cidade, eis que, simultaneamente, surge
outra desgraça de imensurável dimensão, em termos de saúde pública, com o
perfil de um vírus que amedronta, assombra e ameaça exterminar gerações e que
vem vindo com toda força contra as pessoas indefesas.
No
caso, um dos antídotos mais eficazes, seguros e aconselháveis pela saúde pública
contra o coronavírus é precisamente ficar em quarentena em casa, não saindo de
maneira alguma, exatamente para não se manter contato com as pessoas e, por via
de consequência, com o poderoso coronavírus.
Ora,
a falta de água nas torneiras obriga que ela seja disponibilizada nas vias
públicas, onde quem dela precisar terá, necessariamente, que sair de casa e,
inevitavelmente se relacionar com pessoas, eis que as filas são formadas
permanentemente, obrigando que o contato seja inevitável.
Vejam
a que ponto o poder público foi capaz de contribuir para a colocação do povo em
situação extremamente antagônica e acima de tudo delicada, onde, de um lado, há
determinação oficial para que a população seja proibida de sair de casa, para
se evitar contato com pessoas que possam ser portadoras do coronavírus, mas, de
outro, se cumpri-la, o castigo poderá ser bem severo, porque ninguém consegue
sobreviver sem água e somente a tem, na cidade de Uiraúna, quem for buscá-la
fora de casa, ou seja, nas vias públicas, onde foram distribuídos depósitos do
precioso líquido, correndo o perigoso risco do contágio, com possível implicação
de se contrair doença terrível.
A
população de Uiraúna precisa atribuir integral responsabilidade ao poder
público da cidade, em caso de infecção de alguma pessoa com o coronavírus,
exatamente em razão de o seu contágio poder ter por meio de contato com pessoa
portadora do vírus, que esteve concomitantemente pegando água no mesmo
depósito.
Como
corolário, tem-se que a pessoa contaminada não teria sido atingida pelo vírus se
ela se mantivesse em casa, dando exato cumprimento à proibição oficial.
Diante
dessa situação de extrema dramaticidade para a população de Uiraúna, urge que
as autoridades máximas dessa cidade se conscientizem sobre a gravidade do problema
enfrentada pelos uiraunenses e tenham sublime sensibilidade para correr, em incontrolável
disparada, com a maior velocidade possível, superando todos os obstáculos, para
se conseguir, nos ministérios competentes, em Brasília, no governo federal, os
recursos necessários à urgente colocação de água potável, por meio do devido
encanamento, nas casas das pessoas, permitindo que elas se mantenham dentro delas,
com o indispensável conforto, em conformidade com a determinação oficial, evitando
qualquer mal devastador, no caso do contágio com o poderoso coronavírus, que
poderia se traduzir, que Deus não permita, em algo indesejável.
Brasília,
em 21 de março de 2020
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