Em
cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente da República fez pronunciamento
à nação sobre a crise provocada pelo novo coronavírus, cujo conteúdo contrariou
tudo o que especialistas e autoridades sanitárias do país e do mundo vêm defendendo
como política pública destinada a se evitar que a temível chaga do século se
espalhe de maneira incontrolável.
O
presidente do país criticou, sobretudo o pedido para que todas as pessoas que
possam fiquem em casa e culpou os meios de comunicação por espalharem, segundo
ele, sensação de "pavor", tendo alegado que, se ele contraísse
o vírus, não pegaria mais do que "gripezinha".
Ele
declarou que, verbis: "O vírus chegou, está sendo enfrentado por
nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser
mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos sim voltar à
normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar
o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de
comércios e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o
grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas?".
O
presidente entende que "raros são os casos fatais de pessoas sãs com
menos de 40 anos de idade. 90% de nós não teremos qualquer manifestação caso se
contamine. Devemos sim é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para
os outros, em especial aos nosso queridos pais e avós, respeitando as
orientações do Ministério da Saúde".
Dando
exemplo pessoal, ele afirmou que, "No meu caso particular, pelo meu
histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me
preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou
resfriadinho, como disse aquele famoso médico daquela famosa televisão.
Enquanto estou falando, o mundo busca um tratamento para a doença.".
O
presidente disse que os meios de comunicação espalharam "pavor"
e provocaram "histeria" no país, porquanto "Grande
parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam exatamente a
sensação de pavor, tendo como carro chefe o anúncio do grande número de vítimas
na Itália. Um país com grande número de idosos e com o clima totalmente
diferente do nosso. O cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma
verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país”.
Ainda
no entendimento do presidente: "percebe-se que, de ontem para hoje,
parte da imprensa mudou seu editorial, pedem calma e tranquilidade. Isso é
muito bom. Parabéns, imprensa brasileira. É essencial que o bom senso e o
equilíbrio prevaleçam entre nós".
Em
princípio, sob o prisma do sentimento de democracia, é preciso se respeitar a posição
explanada em entendimento do mandatário brasileiro, que tem todo direito de
dizer a sua opinião sobre o momento de muita ansiedade por que atravessa o
Brasil, dentro do contexto mundial de crise que abala todas as estruturas
universais, na área da saúde pública.
Agora,
é preciso que a autoridade suprema do país tenha inteligência, em termos de ponderação
e modicidade, para transmitir à nação exatamente o verdadeiro sentido da sua
preocupação, que pode estar centrada também em questões outras, a exemplo da situação
econômica nacional, da produção, da manutenção do emprego etc., porque tudo
isso faz parte do contexto da governança responsável.
Tudo
isso tem muita relevância, no contexto da governabilidade da nação, mas os
fatos relacionados com cada situação precisariam ser explanados de maneira didática
e sistemática, de modo que tudo tenha o mínimo de coerência e racionalidade quanto
à demonstração de preocupação do presidente, sem que o seu pronunciamento
pudesse, que não foi o caso, denotar o menor desconforto possível, em relação
ao tema central da crise envolvendo o coronavírus, que vem sendo conduzida em
estrita harmonia com os objetivos pretendidos de salvamento de vidas humanas.
Ou
seja, o presidente brasileiro poderia, ao invés de dizer que é decididamente contrário
à quarentena na forma como adotada no país, que apenas acompanha o que se faz
em outras nações, ele poderia afirmar que tem entendimento diferente que poderia,
antes, ter sido exposto e discutido com a sociedade, no sentido de ser estudada
a possibilidade da flexibilização do confinamento, de modo que ele seria
aplicado cuidadosamente com relação aos idosos e às pessoas portadoras de deficiência
que precisam merecer tratamento especial de proteção contra a ação do coronavírus.
Com
isso, poder-se-ia se examinar a possibilidade, observadas as experiências de
outros países e as orientações de organismos internacionais de saúde, sobre a
livre movimentação de pessoas com até determinada idade, observadas as cautelas
contra contágios, como assepsia de mãos e distanciamentos etc., de modo que elas
pudessem trabalhar e exercer suas atividades normas, abrangendo as escolas, o
que se permitiria que as atividades produtivas não tivessem solução de continuidade.
Em
síntese, o que se imagina é que o presidente do país tem sim preocupação com a
saúde dos brasileiros, tanto que tem abonado, com regularidade, as medidas de
muita competência e eficiência que o ministro da Saúde vem adotando, que estão
sendo aprovadas pelos especialistas e pela sociedade em geral, a ponto de
hipotecarem os melhores apoios e elogios à sua atuação, nesta importante e
crucial fase preparatória de combate ao coronavírus.
Afora
isso, no geral, tendo-se em conta o pronunciamento limpo e seco, tal como o
presidente teve coragem de expô-lo à nação, sem nenhum polimento político,
especializado ou administrativo, certamente que a sua atuação muito se compara
ao de agente público sem o mínimo de noção ou preparo para o exercício do mais
relevante cargo do país, em razão da maneira tosca e intempestiva que houve o
seu aparecimento na mídia, para plantar ideia completamente diferente do plano
já implantado contra o coronavírus, além de fazer críticas absolutamente dispensáveis,
neste momento tenebroso.
No
discurso, ele reverberou muitas palavras completamente fora do contexto do
momento difícil e crucial que se exige o máximo de bom senso, ponderação, responsabilidade,
maturidade, sensibilidade, sensatez, ao contrário de suas insanas exposições condenando
o conjunto dos esforços das autoridades públicas de saúde e da sociedade brasileira,
devotados no maior empenho na luta e na defesa do mesmo sentimento de salvação de
vidas humanas.
O
presidente do país não teve o menor cuidado de respeitar o sacrifício de cada
um dos brasileiros, que estão se empenhando, conforme mostram os fatos, por
causa que é de todos e da nação, que precisam demonstrar que a salvação de vidas
é extremamente fundamental neste momento de muita dificuldade, principalmente
sob a conscientização de que, em caso de catástrofe, os serviços públicos de saúde
não têm as mínimas condições de atendimento de maneira satisfatória da demanda
dos doentes, o que seria verdadeira tragédia nacional e vergonha para o governo,
que parece falar pelo umbigo sobre assunto da maior importância, sem sopesar os
fatos estritamente como eles são e devem ser analisados, com sobriedade e
competência gestivas.
Não
há a menor dúvida de que o pronunciamento do presidente do país merece os mais
veementes repúdios da sociedade, das autoridades de saúde, das entidades internacionais
de saúde, dos políticos e, enfim, de todos que esperam sensatez e racionalidade
do mandatário da nação para somente se dirigir à população quando for para transmitir
informações e esclarecimentos que condigam com os melhores sentimentos capazes de
contribuir para o bem comum, de forma a satisfazer plenamente ao interesse
público, cujo conteúdo do pronunciamento esteja em perfeita harmonia com as orientações
emanadas pelas entidades com fidedignidade e credibilidade para a proteção dos
direitos das pessoas.
O
desprezível e preocupante pronunciamento presidencial expôs, literalmente, que
o governo se encontra completamente desorganizado, desorientado, desarticulado,
desordenado e pouco acreditado pela sociedade, quando mostra que não tem linha firme
e uniforme de política pública, ao deixar claro que a nação adotou determinada
ação que não tem o respaldo do seu comandante, que entende, depois, que é outro
o caminho que ele trilharia, embora não tivesse competência para oferecer
alternativa satisfatória que melhor atendesse à difícil situação, posto que seria
perfeito desastre não ter qualquer medida de prevenção contra o famigerado
coronavírus.
Tem-se
como atitude presidencial extremamente precipitada, desastrada e absolutamente
inoportuna, nas circunstâncias, em meio à plena execução de plano adotado com a
participação do governo, que, não concordando com ele, poderia ter apresentado,
com a devida antecedência, alternativa que melhor se encaixasse nos propósitos
de combate ao coronavírus e atendesse aos interesses da população e do país,
evitando-se pronunciamento que desagradou à maioria absoluta de quem se
encontra envolvido com a causa em apreço.
Por
derradeiro, penso que o presidente do país comete ato falho ao criticar o desempenho
impecável da imprensa, acusando-a de espalhar “pavor” e provocar “histeria”, quando
a verdade mostra que os meios de comunicação têm sido fiéis aos acontecimentos
e fatos que estão acontecendo além-mar, procurando evidenciar a exata dimensão sobre
a monstruosidade que são os efeitos letais do terrível coronavírus, que precisa
ser contido, controlado e exterminado, com todo empenho e total tenacidade,
inclusive com a importante colaboração da imprensa, que tem sido fundamental nessas
causas de extrema gravidade.
Diante do
momento de crise generalizada, com predominância de intranquilidade e incerteza
no âmbito social, os brasileiros anseiam por que o presidente da República tenha
maturidade e inteligência de autêntico estadista, para somente se dirigir à nação,
em respeito à dignificação representada pelo cargo, quando for para a transmissão
de notícias efetivamente de extremas relevância e motivação tais que realmente
justifiquem as informações pertinentes, especialmente para a satisfação do
interesse público, com embargo de pronunciamentos que servem apenas para a
perturbação de orientações e medidas já acomodadas pela sociedade e pelas
entidades envolvidas, por terem sido consideradas apropriadas ao bem-estar social.
Brasília,
em 25 de março de 2020
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