Uma
fotografia descreve com muita propriedade o cenário deplorável da cidade de Uiraúna,
Paraíba, onde aparece um carro-pipa estacionado e logo atrás dele se forma
enorme fila de pessoas, com baldes, latas e outros depósitos, à espera de serem
atendidas na sua vez.
Não
vou estranhar se alguém achar que seja hipocrisia da minha parte de ter deixado
cair lágrimas em me deparar com situação chocante, degradante e extremamente
inadmissível, na atualidade, em que uma cidade inteira seja obrigada a se
submeter ao sacrifício que seria absolutamente evitável, bastando que o poder
público, por meio de seus agentes, tivesse tido os devidos cuidado e zelo pelo
interesse da população.
Era
preciso que houvesse o devido monitoramento sobre a real situação de
deficiência quanto ao depósito da água, cuja evolução seria o indicativo para a
urgente adoção das medidas aconselháveis ao problema, que jamais foram adotadas,
na medida das necessidades saneadoras do problema.
À toda evidência, até
que, nas circunstâncias, não se pode alegar falta de recursos financeiros, porque
eles foram liberados pela União, mas parte deles deixou de ter a aplicação na finalidade
prevista, que era a construção de adutora, ainda que em forma de medida
paliativa.
Mais precisamente, a
adutora é o conjunto de
encanamentos, peças especiais e obras de arte destinados ao transporte da água do sistema do Arroz para a Barragem de Capivara, onde se processaria
o tratamento da água bombeada.
Chego
a imaginar o tamanho do martírio para as pessoas em geral, que precisam se
organizar em fila constante e permanente, sob sol inclemente, para depois
transportar o pesado volume para casa, possivelmente por repetida vez, porque
um só balde é insuficiente para atender às necessidades do dia a dia, inclusive
para lavar roupas, que sempre exige quantidade maior de água.
Não
há a menor dúvida de que o sacrifício já é insuportável e impiedoso para as
pessoas sadias e jovens e o que se dizer no caso das pessoas mais velhas e portadoras
de doença, que serão obrigadas igualmente a entrarem na fila, sob as mesmas condições
insalubres das demais, para pegarem o precioso líquido, sob pena de ficarem sem
ele e passarem privações?
Fico
aqui a imaginar o que realmente se passa nos corações e nas mentes dos homens
públicos que tiveram sob a sua incumbência, o dever legal, enfim, a obrigação
de adotar as necessárias providências para se evitar esse gravíssimo colapso,
mas nada fizeram, conforme mostram os fatos, cujas omissão e irresponsabilidade
foram suficientes para a configuração desta triste realidade, que consiste no
impingimento de severo castigo inclusive aos seus fiéis eleitores, que
continuam bem quietos, cordeirinhos, como se nada de grave e anormal tivesse
acontecido contra a população.
Espero
que o povo de Uiraúna possa aprender bem direitinho essa duríssima lição de
extrema crueldade, para o fim de tirar o máximo de proveito dela, não
permitindo mais que os políticos espertos e profissionais voltem a enganá-la
com a maior tranquilidade e sem a menor obrigatoriedade de se justificar perante
a população.
Aliás,
a propósito, diante da realidade nua e crua, alguém sabe exatamente quais são
as medidas emergenciais que estão sendo tomadas pelas autoridades incumbidas da
solução do desastre da água?
Ou
apenas a única medida emergencial adotada cinge-se à colocação de carros-pipas
nas vias públicas da cidade, porque isso é o mínimo capaz de atender à
dignidade do ser humano submetido a terrível processo de humilhação pública,
como esse caso mostrado pela fotografia publicada em rede social?
O
povo de Uiraúna, por certo, não merece passar por tamanho martírio, sacrificando-se
para levar água para casa e ainda sem a certeza de que o líquido é tratado sob
absoluta segurança de potabilidade, a despeito das conquistas científicas e
tecnológicas, que permitem aos governantes preverem situações de dificuldades,
de modo que a crise como a falta de abastecimento da água poderia muito bem ter
sido contornada há bastante tempo e a população estaria agora confortavelmente
tocando a sua vida, em absoluta normalidade.
Brasília,
em 17 de março de 2020
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