segunda-feira, 9 de março de 2020

Espetáculo deprimente

O presidente da República tomou atitude bem polêmica e insensata, ao enviar um humorista caracterizado como ele próprio, para entrevista coletiva em nome dele, que terminou desagradando os jornalistas que acompanham as notícias diárias do Palácio do Planalto.
O aludido episódio aconteceu em frente ao Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente do país, quando os profissionais da mídia o aguardavam para comentar o pífio desempenho de apenas 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), que foi bem menor que os de 2017 e 2018, cujos profissionais da imprensa receberam bananas do comediante, em complementação da cena desprezível e desagradável, à luz dos princípios civilizatórios.
Perplexa com a situação, uma jornalista da SBT protestou, com veemência, por meio das redes sociais, tendo afirmado que se trata de “Desrespeito. Não tem limite a falta de compostura, de decoro e de respeito do presidente da República contra os cidadãos. Neste caso, contra os profissionais da imprensa. Ataques contra jornalistas, insinuações de troca de favores sexuais, acusações levianas, linchamento moral nas redes sociais”.
Ela, em tom de indagação, declarou: “E nos perguntávamos se Bolsonaro poderia ir ainda mais longe. Ele foi. Contratar um humorista para distribuir bananas aos jornalistas não tem graça. É uma desgraça ter um presidente que age como um palhaço”.
A jornalista chegou a ponderar que “A imprensa deveria solenemente ignorar esse senhor. Mas, não somos os donos dos veículos em que atuamos. Nossa resposta a esse cidadão deveria ser o desprezo, ‘honraria’ concedida aos vazios de sentimentos, aos destituídos de vergonha e de hombridade”.
Concluindo, a âncora do SBT Brasil disse, de maneira melancólica: “Eis o governo do CIRCO, sem pão…”.
Ao mandar dar bananas aos jornalistas que ficam à espera de notícias frescas vindas do governo, o presidente do país demonstra não somente desprezo a quem ele realmente gostaria de ser deliberadamente indelicado e extremamente incivilizado, porque não tem outro nome para quem menospreza o seu próximo nessas condições de pura agressividade, não importando a forma como ele vem sendo tratado, mas também com relação aos jornalistas que merecem consideração e tratamento digno, fato este da maior injustiça, que pode muito bem ser repensado em nome da decência e do respeito aos profissionais da imprensa, que são considerados o quarto poder da República, pelo primor da divulgação das notícias que são indispensáveis à sociedade moderna.
Possivelmente, o presidente brasileiro, ao se comportar completamente destituído da dignidade de príncipe da República, conforme mais uma vez apronta desprezo à liturgia do relevante cargo que exerce, que precisa, ao contrário, ser honrado com gestos e atitudes de nobreza e dignidade modelares diante dos brasileiros e do mundo, talvez tenha em mente que ele detém o maior e ilimitado poder do Brasil, a ponto de pode fazer o que bem entende, o que parece ser verdade, à vista do que se passa, cotidianamente, no âmbito do seu vibrante circo particular e do que ele vem demonstrando, de maneira visivelmente impensada, indelicada e ridícula, no dia a dia do seu governo, com a vexatória e despreocupante exposição de atitudes levianas, pequenas, insignificantes e desprezíveis, comparáveis até mesmo a quem sequer ocupa cargo público.
É preciso que o ocupante da principal e mais importante cadeira do país tenha lucidez sobre a real dimensão da importância do cargo presidencial e se conscientize, com a máxima urgência, de que ele, com a investidura de estadista, precisa primar não somente para honrar e dignificar os valores republicanos, que fazem parte da tradição dos grandes homens públicos de altíssimo nível de honradez e sensibilidade humana, mas também pela defesa dos princípios capazes de manter a sustentação das estruturas da República como instituição que precisa ser respeitada e valorizada como deve ser da sua grandeza nacional.
Provavelmente nem nas piores republiquetas seus presidentes consigam baixar a tanto o nível da sua autoridade presidencial, permitindo que a sua avaliação se compare à de um palhaço, como tal se permitindo que ele próprio promova momento de muita tristeza representado por palhaço de verdade, como forma de materialização de cena dantesca e de baixo nível, dando a entender, de maneira cristalina, que falta seriedade nas muitas de suas atitudes, porque, na vida real, ao contrário, o trabalho do palhaço é algo de muitas seriedade e responsabilidade, tanto assim é verdade que os legítimos profissionais palhaços são merecedores de respeito e consideração por parte da sociedade, por prestarem trabalho sério, valorizado e construtivo.
Fora de dúvida, é bem merecedor de repúdio o espetáculo bufo protagonizado pela República, com a supervisão cenográfica do presidente do país, certamente custeado com recursos que poderiam ter sido destinos às atividades relacionadas com o interesse público, como forma de valorização do sacrifício dos contribuintes, que anseiam fervorosamente por que os governos sejam mais prudentes na aplicação do escasso dinheiro dos brasileiros, sendo ainda sábios ao evitarem desperdício com o patrocínio de palhaçada completamente dispensável e fora do contexto econômico-financeiro, que exige rigor na realização das despesas públicas.
Os brasileiros anseiam por que as muitas e inúteis lições de palhaçadas já protagonizadas pelo presidente da República se transformem, com muita urgência, em algo muito sério e importante e sirvam de verdadeiro paradigma de aprendizagem para novo estilo de honradez e seriedade, para o fim de enobrecer o espírito de sensatez e sensibilidade que precisa ser incutido no trabalho do estadista brasileiro, de modo que ele possa ser definitivamente travestido dos sentimentos de nobreza próprio do homem público capaz de valorizar os princípios republicano e democrático, de seriedade e responsabilidade capazes de se evitar o baixo nível de atitudes presidenciais, que não condizem com a grandeza dos honrados homens públicos que já dignificaram o relevante cargo.
          Brasília, em 9 de março de 2020 

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