quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A palavra das urnas

 

A recente eleição para prefeitos pode ter consolidado a inclinação do país à centro-direita e o indiscutível enfraquecimento da esquerda, à vista da expressiva votação para a primeira ala e a diminuta preferência para a segunda.

Ficou muito notório que a direita saiu fortalecida do pleito e mostrou ser muito maior do que o último ex-presidente do país, que até há pouco tempo era tido como o líder maior desse campo político.

Por seu turno, a esquerda provou ser muito menor do que o presidente do país, visto que ele tem sido, há décadas, o centro de gravidade do chamado “campo progressista” e não permitir o surgimento de novas lideranças, obviamente por temer a perda do protagonismo e do domínio sobre o partido.

É possível que o triunfo político do governador de São Paulo tenha sido determinante para a chegada do prefeito de São Paulo ao segundo turno, fato que evidencia que a direita não depende mais da associação explícita à figura do ex-presidente, com vistas à conquista de votos.

A bem da verdade, o candidato à reeleição chegou ao segundo turno a despeito da falta de empenho do ex-presidente, que se mostrou dúbio, por manifestar, em dado momento, apoio mais direto ao outro candidato conservador.

Não há a menor dúvida de que o ex-presidente ainda é capaz de mobilizar multidões de eleitores e obter sucesso em sua empreitada de se conquistar votos, país afora, mantendo a política como o principal meio de ativismo ideológico de seus seguidores.

O certo é que o ex-presidente nem de longe representa aquela onda avassaladora mostrada na campanha eleitoral de 2018.

Já na eleição de 2020, quando ele era o presidente do pais, seu desempenho como cabo eleitoral já dava sinais de fraqueza, em especial, tendo perdido força por conta de tantas mortes causadas pela Covid-19.

A prova disso é que, dos 13 candidatos a prefeito que foram apoiados por ele, 11 foram derrotados, na eleição de agora.

O ex-presidente é incapaz de oferecer substância que em política é tratado como um ativo valiosíssimo, ou seja, perspectiva de poder.

À toda evidência, não há a menor esperança de que o ex-presidente seja candidato em 2026, por mais que ele acredite em virada de mesa que o torne elegível.

O ex-presidente do país agora é apenas um retrato de político e isso parece muito importante para a democracia brasileira, porque a direita pode respirar livremente, sem a interferência de líder sem iniciativa e sem ideias, em que a direita tende a ser mais civilizada e democrática, mais pragmática e menos ideológica, para o bem do Brasil.

Quanto à situação política do poder, está bastante claro que o principal partido da esquerda, sem a presença do seu líder maior, caminhará a passos gigantescos para se tornar partido pequeno, incapaz de eleger mais quase ninguém ou apenas capaz de eleger alguém nas periferias e nos interiores.

Em que pese o líder ter voltado à Presidência do pais, o seu partido conseguiu a proeza de eleger pouco mais de 250 prefeitos, em universo de 5.670 municípios, o que demonstra a sua quase insignificância, mostrada pelo resultado das urnas, em desprestígio comparativo à votação nacional, em notoriedade de partido que perde credibilidade e está em visível decomposição a olhos nus.

Em de conclusão sobre o último pleito eleitoral, pode-se afirmar que a direita se alargueceu, se expandiu, em termos de conquistas políticas, por ter se distanciar visivelmente do ex-presidente do pais, em forma de autonomia, enquanto a esquerda foi encolhida, sem deixar de depender visceralmente do presidente do país, que nem por isso ele  conseguiu vitórias expressivas, nas disputas para cargos de prefeito, em especial.

Parece haver boa tese para se explicar esse terrível fenômeno, de alguma singeleza, qual seja, o fato de que quem já foi governado pela esquerda, sobretudo pelo principal partido socialista, quer se distanciar de governos incompetentes e ineficientes, de pouquíssima otimização nos seus resultados político-administrativos.

A verdade é que, nesta última eleição para prefeito, o povo procurou ser mais prático e cauteloso na hora de votar, tendo o cuidado de votar em candidatos diferentes da esquerda mais radical e isso demonstra mais zelo para com a causa pública, em termos de responsabilidade no emprego dos recursos públicos.

Enfim, as renovadas esperanças são no sentido de os brasileiros possam aprender a votar, somente elegendo os representantes políticos que demonstrem verdadeiro senso de competência, eficiência e responsabilidade na aplicação do dinheiro público, como forma de respeito ao voto e amor a si e ao Brasil.  

Brasília, em 16 de outubro de 2024

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