domingo, 6 de outubro de 2024

O discurso

 

Em vídeo que circula nas redes sociais, um candidato conservador à prefeitura de grande capital vem a público para enaltecer somente as qualidades mil do último ex-presidente do país, tendo o cuidado de apontar apenas os principais triunfos conquistados por ele, como se o político despontasse como verdadeiro salvador da pátria e fosse modelo de homem público irretocável.

A verdade precisa ser apontada, quando se sabe que ele teria cometido desvios de conduta gravíssimos, na qualidade de estadista, exatamente por ter trilhado por caminhos tortuosos e pedregosos que contribuíram, de forma decisivamente para a condução do Brasil à desgraça que se encontra, na atualidade.  

É preciso se compreender que o discurso do candidato a prefeito foi feito com viés ajustado para agradar, em especial, os bolsonaristas, que só vêm qualidades em político que também tem sim muitos defeitos, que não podem ser expostos justamente para não contrariar os fanáticos que o veneram, na concepção de que ele foi realmente presidente de verdade, quando, se tivesse sido mesmo, dificilmente o Brasil teria sido entregue à banda nefasta da política brasileira.

Caso esse político tivesse sido verdadeiro estadista, ele não teria, entre muitos atos deletérios, contrariado integrantes do Judiciário, que se transformaram no sistema predominante que tudo fez contra a continuidade dele no poder.

Na verdade, a queda dele do poder começou exatamente a partir de quando começaram as críticas agressivas, sem provas, contra o sistema eleitoral brasileiro, em que houve oportunidade de o presidente chamar o presidente do principal órgão eleitoral de filho da (...), configurando o extremo da incivilidade no tratamento entre autoridades públicas, fato que evidenciaram completos desrespeito e desprezo à liturgia aplicável ao estadista consciente da sua responsabilidade funcional.

Diante desse estado de degradação e de desrespeito, foi instituído o sistema dominante, que cuidou de adotar o ato fundamental de considerar, intrinsicamente, o então mandatário de persona non grata, com o veredicto de afastá-lo do poder, na próxima eleição, não importando as medidas a serem implementadas.

O primeiro ato vital foi a escolha do político símbolo da desprezibilidade, em termos de moralidade, para substituí-lo no trono presidencial.

O resto das medidas seguintes todo mundo sabe o que verdadeiramente aconteceu depois da soltura dele e da sua condição de aptidão para o exercício das atividades políticas, mesmo sem ter como ele provar os requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, que são exigências legais na administração pública.

Pois bem, na forma do disposto no artigo 78 da Constituição Federal, competia ao presidente da República “manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis…”.

Nesse caso, o então presidente do país tinha o dever constitucional de questionar imediatamente, interpondo recursos contra todas as decisões inconstitucionais que regeneraram o criminoso, que foi condenado à prisão, justamente por ter praticado atos de improbidade administrativa, para, pasmem, presidir o Brasil, em clara incompatibilidade com os princípios constitucionais e legais, mas que isso contou com a omissão, a incompetência e a irresponsabilidade do então presidente do país, que tinha o dever constitucional de agir contra as arbitrariedades, mas, como visto, nada fez para impedir injustificáveis abusos de poder.

Nesse ponto, impende se ressaltar que as críticas às deficiências à operacionalização das urnas eletrônicas jamais deveriam ter existido, tendo em vista que o então presidente do país tinha o poder, na forma de competência constitucional, de saná-las, por meio de projeto de lei providenciando o devido aperfeiçoamento do sistema eleitoral brasileiro.

Há de se notar ainda que o ex-presidente também não se houve plenamente como verdadeiro estadista, na grandiosa crise referente à pandemia do coronavírus, quando ele entendeu de contrariar as orientações basilares de seu principal órgão responsável pelo combate à doença, quando era da sua competência apenas apoiar as medidas de atribuídas constitucionalmente a esse órgão, em especial que ele não entendia de medicina, que era condição essencial para que ele se habilitasse a se imiscuir nos assuntos relacionados com as medidas inerentes ao tratamento da Covid-19.

A verdade é que a participação do ex-presidente na pandemia do coronavírus foi desastrosa, por ele ter acumulado os títulos de genocida e negacionista, quando tudo isso poderia ter sido evitado se ele tivesse tido a sensibilidade para apenas orientar e apoiar as medidas necessárias ao combate à doença do século, sem precisar tentar ser o protagonista principal, como de fato aconteceu, cujo resultado certamente não poderia ter sido pior com o registro de mais de 700 mil mortes por conta da Covid-19, verdadeiro desastre que poderia ter sido sim muito melhor administrado, por meio do emprego dos princípios de competência e sensibilidade.

Outro fato da maior importância, que contribuiu para consolidar a implantação do regime das trevas, no Brasil, foi a injustificável omissão do ex-presidente de não ter decretado a garantia da lei e da ordem, que tinha o amparo no artigo 142 da Constituição, à vista das inúmeras denúncias de irregularidades na operacionalização do sistema eleitoral brasileiro, cujas suspeitas foram engrossadas pelo sigilo imotivado e injustificado por iniciativa do principal órgão eleitoral.

Nesse caso, o político preferiu se silenciar e se recolher ao conforto palaciano, sem apresentar qualquer justificativa para mais uma omissão sua, deixando de atender aos pedidos de socorro dos brasileiros de bem e, por fim, ele fugiu do Brasil, antes do término do mandato dele, deixando de assumir, como era do seu ver constitucional, os atos derradeiros do seu mandato delegado pelos brasileiros.

Eis aí alguns fatos da maior importância, que têm sim o condão de mostrar alguns defeitos imperdoáveis do político, porque eles são indiscutivelmente injustificáveis e inaceitáveis praticados pelo ex-presidente do país, que se mantém calado, em especial quanto à falta da decretação da garantia da lei e da ordem, que poderia ter contribuído para salvar o Brasil das garras do regime das trevas.

Acredita-se que a realização do contrário desses fatos horrorosos e terríveis o Brasil jamais estaria mergulhado na desgraça atual, sendo governado por criminoso, assim declarado pela Justiça, que foi capaz de praticar atos inerentes à improbidade administrativa, além do império do sistema dominante, que é acusado da prática de decisões abusivas e arbitrárias, causando intranquilidade a brasileiros.

Enfim, os elogios vindos do candidato à prefeitura de grande cidade têm muito com a necessidade de agradar aos eleitores conservadores da capital, para o fim de angariar, por óbvio, a simpatia deles.

Brasília, em 5 de outubro de 2024

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