sexta-feira, 18 de outubro de 2024

O rebate

 

O último ex-presidente do país afirmou que é o candidato da direita para a Presidência da República, em 2026, em claro desprezo à atual situação dele de inelegível até 2030, ou seja, ele está inapto ao registro como candidato.

A declaração do ex-presidente veio em forma de rebate ao que disse o presidente do partido dele, que os primeiros da fila para a disputa ao Palácio do Planalto são o governador de São Paulo e o filho do ex-presidente, que é deputado federal.

O presidente do partido disse ainda que acredita que o ex-presidente poderá ser candidato em 2026, caso seja aprovado projeto legislativo que trata  de anistiá-lo, cuja medida tem o apoio do seu partido.

O ex-presidente do país se mostra perplexo pelo fato de ter sido declarado inelegível, por oito anos, tão somente por ter se reunido com embaixadores estrangeiros.

Nas circunstâncias atuais, não assiste razão alguma ao ex-presidente do país em afirmar que ele será candidato ao cargo de presidente da República, em 2026, porque ele se encontra inelegível e sequer poderá registrar o seu nome junto ao órgão eleitoral.

Sim, ele poderá se candidatar caso o Congresso Nacional aprove a anistia dele, evidentemente a depender ainda do consentimento do sistema dominante, que poderá não aceitar medida nesse sentido, uma vez que há precedente em caso de anistia, quando o ex-presidente estava no cargo e ele concedeu a graça a um deputado condenado pela corte maior do país.

Outro ponto que precisa ser mais bem esclarecido, diz respeito ao motivo que deu causa à inelegibilidade do ex-presidente, que não teria sido somente por ele ter se reunido com embaixadores estrangeiros, mas sim por ele aproveitar o encontro com representantes de outros países para discutir assuntos internos exclusivamente de interesse do Brasil, como o sistema eleitoral, que fora colocado sob suspeita por ele, embora ele não houvesse qualquer  prova sobre os fatos denunciados.

Nessa reunião, o então presidente do país denunciou fragilidades sobre a operacionalização do sistema eleitoral brasileiro, com destaque acerca das urnas eletrônicas, quando ele não dispunha de nenhuma de absolutamente nada, em termos de fraude que ele denunciava.

Não é de bom tom que a principal autoridade do país se encarregue de fazer denúncia sobre deficiência do Brasil, quando ela era inexistente, fato este que demonstra promiscuidade perante a obrigatoriedade de ser fiel à integridade sobre o sigilo dos assuntos de interesse do país.

À toda evidência, a denúncia feita pelo então presidente do país teve por finalidade tão somente tentar desmoralizar o sistema eleitoral brasileiro, também ficando muito claro que a denúncia aos embaixadores estrangeiros não teria nenhuma serventia ao saneamento de possíveis falhas no citado sistema, porque eles não teriam qualquer ingerência nos assuntos internos brasileiros.

O certo é que a reunião com embaixadores tinha objetivo definido pelo então presidente do país, que era mostrar a sua insatisfação com autoridades que comandavam o órgão eleitoral brasileiro, mesmo sabendo que aquilo não adiantaria absolutamente nada, salvo para mostrar desvio de conduta que deveria ter sido evitado, em respeito à liturgia prevista na cartilha do verdadeiro estadista.

Ressalte ainda que a reunião em comento aconteceu em dependência pública, para tratar de assunto estranho ao serviço público, na qual foram utilizados bens igualmente públicos.

É evidente que mesmo considerado grave o desvio de conduta do então presidente do país, ao se reunir com embaixadores estrangeiros, para denunciar algo inexiste, a inelegibilidade dele não encontra a mínima justificativa, principalmente porque não ficou caracterizado qualquer prejuízo às relações diplomáticas brasileiras, por conta dessa maldita reunião, ou seja, não houve interrupção nem descontinuidade no relacionamento com os países que participaram de estranha reunião.

Não fosse a questão ideológica, que implica severa oposição de pensamento político, certamente que os fatos que causaram a inelegibilidade do ex-presidente do país não ensejariam nada mais do que mera advertência ou algo no sentido de se informar a ele que não é aconselhável reunião de presidente do país com representantes de países amigos, para o fim de se denunciar algo inexistente, não havendo o menor cabimento qualquer forma de penalidade, quanto mais tão exagerada como foi.

Enfim, os brasileiros até admitem, se for para o bem do Brasil, que o ex-presidente do país possa se candidatar, no próximo pleito eleitoral, ao cargo de presidente da República, mas na condição de que ele tenha a dignidade para assumir os seus atos, tal e qual como eles aconteceram.

Brasília, em 17 de outubro de 2024

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