quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Desvio de conduta

 

Um pastor, muito próximo ao ex-presidente do país, em momento sincero desabafo, não poupou críticas à suposta omissão do líder da extrema direita brasileira, durante as eleições municipais em São Paulo.

O líder religioso, visivelmente desapontado, disse que o ex-presidente estava muito mais preocupado com a possibilidade da derrota do outro candidato conservador do que na defesa de seus aliados, tendo questionado: “Que porcaria de líder é esse?”.

 O pastor fez crítica à falta de apoio a aliados e a indecisão do ex-presidente, nos momentos cruciais da campanha, ao afirmar, aos brados,  que “Bolsonaro foi covarde, omisso. Para ficar bem sabe com quem? Com seguidores.”.

O religioso esclareceu que teria enviado mais de 30 mensagens “duríssimas” ao ex-presidente, expressando a sua insatisfação, além de ter lembrado de momento em que o ex-presidente, em uma ligação angustiante, chorou por cinco minutos, temendo ser preso.

Em outro momento da conversa com jornalistas, o pastor fez elogio ao governador de São Paulo, afirmando que pretende apoiá-lo na corrida presidencial, caso o ex-presidente permaneça inelegível, até 2026.

Por seu turno, em comentário com jornalistas, o ex-presidente preferiu não comentar nem responder às críticas do aliado.

Não obstante, o filho primogênito do ex-presidente fez a réplica aos duros ataques do pastor, dizendo que: “Roupa suja se lava em casa. O Silas expôs intimidade das nossas conversas, e é esse tipo de atuação que encolhe o nosso campo.”.

Vê-se, nas contundentes críticas de religioso, que o ex-presidente teria falhado quanto ao compromisso de apoio ao candidato da coligação partidária, ao chamá-lo de porcaria de líder, covarde e omisso, no que se pode intuir pela clara demonstração de desprezo à importância de aliados políticos.

Todo o duríssimo desabafo do pastor se torna ainda mais preocupante, envolvendo liderança política, porque o ex-presidente foi incapaz de respondê-lo à altura, aproveitando para justificar precisamente os motivos pelos quais ele teria sido interpretado como covarde, porcaria e omisso.

De maneira alguma, isso não condiz com a grandeza de líder minimamente de respeito, embora, em se tratando de político brasileiro, isso é o mínimo que se pode esperar de quem pratica atividade política.

Mesmo que o religioso tenha se desculpado com o seu líder, a verdade é que os fatos realmente aconteceram, diante da interpretação de que o candidato não teve o apoio necessário do ex-presidente, fato este que teria prejudicado o desempenho dele.

Ou seja, os pronunciados predicativos negativos não são apagados com o pedido de perdão em si, uma vez que são fatos distintos de o ex-presidente ter errado perante o dever de liderança política e o de o pastor ter sido pródigo em soltar o verbo.  

Agora, é preciso se notar que a participação no episódio do filho do ex-presidente torna a situação bastante emblemática, porque ele reconhece implicitamente a validade das críticas que foram feitas ao pai dele, quando afirma textualmente que “Roupa suja se lava em casa” e ainda admite que isso “encolhe o nosso campo”, ou seja, seria preferido que o pastor não tivesse lavado a sujeira para as ruas, porque ninguém ficaria sabendo que o ex-presidente tem muitas deficiências, que precisam ser jogadas para baixo do tapete, evidentemente para o “bem” da política podre brasileira.

Por via de consequência, entende-se que as duras palavras do pastor não foram contestadas, mas sim reconhecidas como acertadas, quando se reconhece que a roupa ficou suja e entende-se que essa sujeira tem origem na covardia, na porcaria e na omissão protagonizadas pelo ex-presidente que não teve dignidade para contestar as incisivas acusações, o que vale dizer que ele admite a sua fraqueza, tal qual como exposto pelo corajoso religioso.

Causa perplexidade que político com tais predicativos vacilantes e prejudicais às atividades proativas da política possa ainda merecer a admiração e o carinho dos verdadeiros brasileiros, ficando mais do que demonstrado que essa maneira de tratamento dispensada aos políticos ajuda a se compreender os motivos pelos quais o Brasil se encontra atolado no abismo profundo da precariedade generalizada, tendo por rumo o contrário do que gostariam os brasileiros de verdade.

Em conclusão, pode-se concluir que as contundentes críticas do pastor ao principal líder da oposição brasileira, por sua validade não contestada, têm o condão de mostrar exatamente que o povo tem os representantes políticos que bem merece, na compreensão de que ambos estão na mesma sintonia de mentalidade política, todos plenamente satisfeitos com a mediocridade de suas consciências.       

Brasília, em 9 de outubro de 2024

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