sexta-feira, 3 de junho de 2011

A vulnerabilidade do poder

Por enquanto, são somente ladainhas e “blá, blá, blá” na política brasileira e nada de mudança de comportamento por parte daqueles que, em princípio, têm a obrigação de contribuir para a construção do Brasil novo e diferente, com a exclusiva postura de trabalho com vistas ao desenvolvimento das instituições democráticas e do país, sobretudo com responsabilidades e compromissos em defesa dos interesses nacionais. O nebuloso episódio que insiste em não sair da mídia, tendo como pivô o “primeiro-ministro” da República, além de insólito pelo que representa, tem causado perplexidade e graves desdobramentos na governabilidade dos negócios públicos, já bastante desgastada com a crise emanada pela desavergonhada sanha por cargos, pressionada pelo maior partido de sustentação do governo. É evidente que não se pode propugnar, desde logo, pela culpabilidade de alguém por irregularidades no assombroso enriquecimento em causa, que, por certo, será objeto da melhor elucidação, porém o demorado silêncio foi mais do que suficiente para gerar consequências terríveis para debilitar o governo e as instituições, que deram irrestrito apoio à blindagem ao caso, cuja crise poderá findar se houver esclarecimentos abrangentes sobre os fatos e se eles forem convincentes. Na verdade, os aliados são co-responsáveis pela evolução desastrosa do caso, pela tentativa do seu deliberado abafamento, considerando-o normal e regular, obviamente por envolver pessoa poderosa, que pode tudo e se julga acima de todos e da lei, merecendo a complacência dos amigos e das instituições, que, de modo patético e uníssono, não tiveram o cuidado de avaliar os aspectos relacionados à pessoa envolvida, que teve participação simultânea como deputado federal, principal coordenador da campanha da candidata petista à Presidência da República e contratado para prestar importantes serviços de assessoria para empresas que viriam a celebrar contratos com empresas estatais, o que, no mínimo, exigiriam maior cautela para se concluir pela legitimidade dos fatos, sem antes serem conhecidos seus pormenores. É certo que ninguém pode ser considerado culpado antes do julgamento, mas, num país onde o Estado Democrático de Direito deve ser assegurado igualmente aos cidadãos, poderosos ou não, convém que seja comprovada a inocência de quem quer que seja, em respeito do primado da dignidade e da decência, quanto mais, no caso,  tratando-se de figura célebre da República, que já se envolveu em inexplicável quebra de sigilo bancário de um caseiro. Até prova em contrário, a República permanece balançando, devido o peso das dúvidas e suspeitas que recaem sobre os fatos atribuídos a quem tem a obrigação de afastar do poder a vulnerabilidade dos seus atos e mostrar, motu proprio, a lisura da sua vida de pessoa pública, permitindo que a governabilidade do país volte à normalidade.
                                              
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 03 de junho de 2011

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