sábado, 11 de junho de 2011

Tráfego da pesada

Segundo reportagem publicada na edição deste sábado da Folha de S. Paulo, o ex-presidente da República prometeu, sem nenhum constrangimento, ao presidente da empresa Tetra Pak, que o contratou para ministrar palestra, procurar autoridades do governo para ajudá-la à redução de impostos sobre embalagens de leite. Ele disse que iria falar com o ministro da Fazenda, para defender um pleito da multinacional, no sentido de reduzir o ICMS cobrado por alguns Estados sobre as embalagens de leite longa vida. O petista-mor fez a promessa ao término da palestra fechada para convidados daquela empresa, na noite da última quarta-feira, cujo cachê neste tipo de evento é estimado em R$ 200 mil. De promessa em promessa como a referida acima, não há dúvida de que o ilustre palestrante amealhará seus parcos R$ 20 milhões anuais, a exemplo do que fez o seu velho amigo ex-ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República. Agora, caso no futuro houver algum questionamento sobre seu fabuloso enriquecimento, basta ele dizer que tudo foi feito de forma regular, em estrita observância da legislação de regência, que todos os impostos foram recolhidos, que não houve tráfego de influência, que não envolveu órgãos públicos e que, nos contratos, existiam cláusulas que impediam a revelação dos contratantes. Com essas cautelas, certamente, como novidade, todos os seus seguidores partidários, simpatizantes e interessados em seus benefícios hão de acreditar nas suas sinceras palavras, formarão blindagem no Congresso Nacional contra quaisquer apurações dos fatos, o procurador-geral da República dará um parecer atestando a legitimidade dos recursos arrecadados e, ao final de toda encenação patética, o nobre palestrante será aplaudido de pé por todos aqueles que acreditam piamente no seu lícito e inquestionável enriquecimento. Esta poderá ser a história de mais um cidadão honrado que poderá ser novamente presidente da República e prestar relevantes serviços aos brasileiros alistados no programa Bolsa Família, que continuarão sendo beneficiários do salário da miséria e verdadeiros cabos eleitorais garantidores da continuidade do Partido dos Trabalhadores no poder, que, com peculiar desenvoltura, manterá a sua marca indelével de incompetência e de fisiologismo nunca vistos neste país.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 11 de junho de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário