domingo, 9 de outubro de 2011

A psiquiatria explica

 A respeito das manifestações e críticas emitidas intempestivas e inadequadamente pela presidente da República do Brasil, por ocasião de sua visita à Europa, especificamente quanto à crise europeia, ao reafirmar que é contra as políticas fiscais rígidas e monetárias expansionistas, o Financial Times acaba de fazer duras, apropriadas e acertadas colocações em artigo, tendo sentenciado, em suma, que: "O país ranqueado em 152º pelo Banco Mundial por seu pesado sistema tributário está aconselhando contra impostos restritivos", "Políticos brasileiros recentemente têm tomado a si a resolução da crise financeira internacional, distribuindo conselhos" e "sugestão de que o Brasil deveria resgatar países [...] cujo PIB per capita é três vezes maior do que o seu próprio". O artigo aponta ainda o ministro da Fazenda como "pioneiro" nessa prática, após ter feito discursos inflamados acerca da guerra cambial e propor, em setembro, um pacote de resgate ao euro vindo dos Brics. Com toda razão, o artigo diz que a posição do Brasil é irrealista e hipócrita e conclui: "Dilma recentemente falou sobre a necessidade de combater o protecionismo apenas uma semana após aumentar impostos sobre carros estrangeiros em colossais 30 pontos percentuais.". Não resta a menor dúvida de que, além de irreal e contraditória a ingerência da mandatária do país em negócios de nações desenvolvidas, que estão momentaneamente passando por algumas turbulências econômicas, as suas críticas são infundadas e contraditórias, porque partem da premissa de que as finanças desses países estão fora de controle e aqui a nossa economia funciona como verdadeiro mar de rosas, com o dragão da inflação totalmente domado; as taxas de juros em nível suportável; o PIB explodindo nas alturas; o parque industrial produzindo além das necessidades internas; a carga tributária bem levezinha; a máquina pública enxuta e sem corrupção, entre outros indicadores de que o Brasil seria o país das mil maravilhas e poderia perfeitamente dar lição a quem já se encontra em estágio bastante superior e diferenciado do nosso, em termos de democracia e desenvolvimento econômico e social. Na verdade, a presidente do Brasil perdeu excelente e preciosa oportunidade para ficar calada, para evitar dizer algo espantoso e extemporâneo e para se expor ao ridículo de ser imediatamente contestada por especialistas pelas suas infundadas e graciosas opiniões. É bem provável que as suas desastrosas críticas sejam explicadas pela psiquiatria, segundo a qual a vaidade humana pode ter vínculo hereditário, isto é, passa naturalmente de pai para filho ou de pai para filha. Nem tudo está perdido, convém que a presidente da República aproveite esse lamentável episódio como verdadeira e sábia lição, para, em consonância com os princípios diplomáticos de não interferência nos negócios e interesses dos Estados amigos, apresentar retratação formal, o quanto antes, pelas indevidas e infelizes censuras aos controles das finanças que não dizem respeito à sua alçada e, nas próximas excursões de trabalho e lazer, evitar opinar sobre algo sem que para tanto tenha sido consultada ou criticar acerca de matérias sobre as quais o Brasil ainda tem muito que aprender com os países desenvolvidos. Acorda, Brasil!


ANTONIO ADALMIR FERNANDES


Brasília, em 08 de outubro de 2011

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