quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Egocentrismo

Os estádios brasileiros custarão, segundo os orçamentos da Copa de 2014, mais do que o dobro dos sul-africanos, cujos valores poderão atingir a cifra de R$ 7 bilhões, contra R$ 2,85 bilhões deles. Questionado acerca desse fato, o secretário-geral da Fifa negou que foram feitas exigências extraordinárias ao país, em relação à última copa, que justifiquem aumento dessa magnitude nos gastos atuais. Segundo ele, as demandas da entidade não cresceram em relação ao evento anterior e os estádios de Copa do Mundo são iguais entre si.  As explicações para isso podem ser os custos e a intenção dos organizadores de fazerem estádios mais sofisticados. E foi além, dizendo que: “... não estamos pedindo mais, mais especificidades nos estádios do que na África do Sul. No final, um estádio é um estádio. Estádio, campo, salas, salas técnicas... Não pedimos para botar ouro nos banheiros ou diamantes nas salas. Não pedimos um esquema especial de som ou vídeo diferente da África do Sul. É verdade que quando você vai usar a TV HD pode precisar de mais luz. Mas já fizemos na África do Sul. Infelizmente no Brasil, o custo de concreto, de aço, cimento é mais caro e, quando paga em dólar, quando a cotação não é boa, embora a do Brasil não seja ruim.” (sublinhou-se). É lamentável que esse pessoal da Fifa não tenha um mínimo de sinceridade, aparecendo agora como bom moço, com a alegação de que não é responsável nem também tem culpa pelos gastos astronômicos das obras dos estádios. Na verdade, não houve e jamais poderia haver exigência no sentido de revestir os banheiros com ouro, quando o país implora pelo mínimo de assistência governamental, que sempre chega tarde demais, quando tem. Sem dúvida, seria o cúmulo dos exageros e da insensatez se houvesse exigência nesse sentido, embora não seja nenhuma novidade que os cadernos de especificação das obras e reformas destinadas à realização da copa estipulem exigências e condições estapafúrdias e incompatíveis com a realidade econômico-social dos brasileiros, cuja penúria de suas necessidades básicas vai certamente se agravar em razão do desvio de dinheiros dos hospitais, das estradas, do ensino, da segurança pública etc. para o atendimento das descaradas, descabidas e injustificáveis imposições fifenses, cuja manutenção dos monumentos, muitos inutilizáveis após os eventos, se tornará herança maldita desse empreendimento totalmente dispensável para o povo brasileiro. O certo é que a Fifa não tem despesa com nada e, no final de tudo, dá aquele adeusinho, indo embora com os bolsos, diga-se, com as malas abarrotadas de dólares, ficando o país com as dívidas e as dificuldades financeiras de sempre. Urge que os governantes brasileiros despertem dessa letargia de incompetência gerencial e tenham bom-senso, sensibilidade e inteligência suficientes para priorizar as verdadeiras necessidades da sociedade, ante a capacidade contributiva do seu povo, evitando loucuras e absurdos apenas para a satisfação egocêntrica de quem imagina ter o rei na barriga. Acorda, Brasil!

 ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de outubro de 2011

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