quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Crítica infundada

A presidente da República criticou, com sua peculiar veemência, a ingerência do Fundo Monetário Internacional - FMI sobre os investimentos do governo brasileiro durante os anos 1980 a 1990, quando o país passava por forte crise econômica, tendo salientado que "Nós sabemos o quanto nós perdemos de oportunidades nas duas décadas em que estivemos sob a ingerência do FMI". Na oportunidade, ela aproveitou também para comparar a situação de então com a atual crise dos países europeus e dos EUA, afirmando que "O Brasil passou por momento muito difícil em 1982, com a crise da dívida soberana. A Europa passa por algo similar". No seu entendimento, falta "uma convicção política uniforme" aos líderes internacionais sobre como lidar com a atual crise econômica. "Nós já vimos uma parte desse filme. Nós sabemos o que é a supervisão do FMI. Nós sabemos o que é proibir que o país faça investimentos.". A presidente criticou a limitação dos investimentos federais imposta pelo FMI, e disse que o Brasil só voltou a crescer quando começou a investir e a incluir mais pessoas na classe média, tendo concluído que "É isso que nos torna fortes; esse mercado interno da proporção que nós temos.". Realmente, o FMI tinha e ainda tem cartilha versando sobre doutrina de procedimentos rigorosos, obrigando os países que recebem financiamentos para o saneamento das suas questões econômicas, porém a juros baixíssimos de 1% a.a. No caso em comento, a crítica brasileira é absolutamente injusta, inoportuna e até desrespeitosa contra uma instituição financeira mundial de reconhecida competência, porquanto a crise pela qual o país tupiniquim passava era decorrente da bagunça, da desorganização e principalmente da insurgência aos ditames do FMI, que dificilmente cumpria de forma integral as determinações impostas por ele. Esse fato incomodava e muito os então governantes, que consideravam indevida a ingerência daquela instituição nos negócios do país. Diante disso, tão logo tomou posse na Presidência da República, o petista cuidou de quitar a dívida externa junto ao FMI, para que o seu governo ficasse livre e solto para adotar as suas próprias regras de nada ter que seguir para cumprir coisa nenhuma, em termos de controle rígido dos gastos públicos. À época, houve comemorações ufanistas, justamente pela conquista da carta de alforria do FMI. De fato, a ideia pareceu brilhante demais, tendo inclusive ajudado a conquistar eleições, ante a monstruosa “genialidade” petista, não fosse a omissão mesquinha de não informar aos brasileiros sobre o fato de que, para quitar a dívida externa, que tinha custo juros anuais de tão somente 1%, a “esperteza” e a incompetência do governo brasileiro obrigaram-no ao pagamento de juros de 12% a.a. pelo empréstimo concedido pelos bancos da casa, em correspondente valor ao da então dívida externa. Hoje, esta dívida, que ressurgiu, mais a dívida interna já se aproximam de dois trilhões de reais e se tornam impagáveis, haja vista que, paradoxalmente, os altíssimos juros mantidos às alturas pelo próprio governo alimentam o seu vertiginoso crescimento. Com certeza, a fórmula ortodoxa do FMI, embora impusesse sacrifício para o povo brasileiro, mesmo assim teria evitado que parcela expressiva do que se arrecada não fosse destinada ao pagamento dos extorsivos juros da dívida interna. A grande decepção da sociedade é ter a certeza de que o governo omitiu a verdade sobre fatos de suma importância para os destinos dos brasileiros, a exemplo da barbaridade cometida com a operacionalização da dívida do país, e ainda ficar agora criticando, sem fundamento, quem trabalha com competência e seriedade, objetivando o saneamento da crise econômico-financeira dos seus países membros. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de outubro de 2011

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