terça-feira, 18 de outubro de 2011

Comparação desditosa

Conforme noticia divulgada pelo Estadão, o último ex-presidente da República teria dito, em palestra patrocinada por um banco americano, entre tantas das suas “pérolas”, que “Quando peguei esse país, só tinha miserável. E eu, operário sem um dedo, fiz mais que o Bill Gates, Steve Jobs e esses aí”. Importantes convidados, embora tivessem se divertido com o jeitão do palestrante, que já o tinham ouvido falar em outros recintos sofisticados, não gostaram do repertório do momento, ante o pagamento do valor de R$ 250 mil pelo aludido banco, porque esperavam algo mais além do que escutar declarações como “Wall Street não gosta de mim, mas o chefe deles gosta”, “tem que falar português em aeroporto americano, eles têm que entender o que a gente fala” ou a crítica sobre a farta comemoração dos americanos pela morte de Bin Laden, “coisa de mau gosto”. Além da indelicadeza de ter afirmado que o Brasil só começou no século 21. Não há dúvida de que as recentes comemorações póstumas ao fundador da Apple tocaram no fundo da pouca sensibilidade crítica do ex-presidente, deixando-o morto vivo de inveja, chegando a confundir e ressaltar impropriamente a falta de dedo, como forma de comparação das suas obras com as dos gênios da informática Bill Gates e Steve Jobs. É muita ingenuidade por parte de quem teve sim bastante criatividade, porém no sentido negativo para a humanidade, como, por exemplo, as coligações partidárias espúrias, com o aboletamento dos pelegos nos ministérios e nos órgãos estatais; as relações suspeitas e delicadas com empresários, em benefícios para os seus aliados; a falta de iniciativa para apurar as denúncias de corrupção e punir os culpados, preferindo, mesmo diante das muitas provas, repetir o famoso chavão de que “eu não sabia de nada”, e ainda tinha a cara de pau de acusar a imprensa e a oposição de persegui-lo, como velha e surrada tática para se passar por bom mocinho, dando a entender que teria sido traído; a aproximação com o coronelismo mais arcaico e sem escrúpulo político; o inchamento da máquina pública; a falta de reformas estruturais prometidas; o acobertamento do recebimento ilegal de R$ 5 milhões por um filho seu; e tantas outras práticas que não recomendariam nem de longe a infeliz e indevida comparação das suas nefastas obras com as verdadeiras invenções dos gênios que contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento tecnológico do mundo moderno e a mudança da história da humanidade. Quanto à afirmação de que “Quando peguei esse país, só tinha miserável”, é muito provável que isso se aplique apropriadamente aos petistas, que logo em seguida enriqueceram, sendo que algum multiplicou o seu patrimônio por vinte vezes, em curto período. Não obstante, somente os altíssimos lucros auferidos pelos bancos, que são isentos de tributação, podem justificar pagamento de valor tão absurdo para palestra que nada acrescenta em termos de ensinamento ou de contribuição para o sistema bancário ou financeiro. Como neste mundo tem gosto para tudo, havendo quem queira bancar tamanho disparate e estiver disposto a assistir e aplaudir abobrinhas, o ex-presidente continuará faturando com a ignorância de seus fiéis e apaixonados admiradores. Fatos como os aqui referidos levam a sociedade a lamentar a aproximação de 2014, que se vislumbra logo ali no horizonte, mas até que esse interregno poderia durar uma eternidade... Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 18 de outubro de 2011

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