domingo, 30 de outubro de 2011

Questão de solidariedade

A repentina constatação da terrível doença acometida ao ex-presidente da República apanhou de surpresa a sociedade, que, em sua maioria, desejou sucesso no tratamento que ele será submetido, com apoio à sua cura o mais breve possível, porém, de forma incompreensível e totalmente deselegante, enorme parcela dos brasileiros teve reação bastante estarrecedora, se manifestando de forma exagerada com enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano, augurando os piores resultados para ele, inclusive que o seu tratamento seja realizado num hospital do SUS, como forma de mostrar solidariedade com aqueles menos aquinhoados e quase sempre não conseguem o adequado atendimento nos hospitais do sistema da saúde pública. Tudo isso demonstra algo mais profundo e sinaliza para a existência de muito ódio e grande desprezo contra um ser possuidor de mesma constituição humana, que, em absoluto, não merece, como ninguém, padecer fisicamente por causa de possíveis deslizes praticados na vida, como pessoa pública. Na verdade, como presidente da República, ele pode ter se envolvido em muitas questões, sendo, evidentemente, merecedor de censura e de críticas por tudo de errado que ocorreu no seu governo, principalmente a leniência e conivência com os escandalosos esquemas de corrupção, implantados para pagamento de suborno a congressistas; a criação das espúrias coligações para sustentação da sua base parlamentar; o inchamento da máquina pública, para servir de cabide de emprego; o falecimento dos programas governamentais para a saúde pública, o ensino, os transportes, a segurança pública etc.; a falta das reformas prometidas; entre tantas mazelas que contribuíram para que o país desenvolvesse menos do que devia. Não obstante, nada disso serve de motivo capaz de condená-lo ao sofrimento físico, nem de obrigá-lo a pagar seus pecados de incompetência administrativa. Compete à sociedade se comportar com decência e espírito humanitário, respeitando os valores individuais do seu próximo como igualmente gostaria de ser tratado, jamais podendo confundir esses sentimentos com a necessidade do aperfeiçoamento da escolha dos seus representantes, que deveria ser apenas pela competência e honradez. A tragédia alheia, por sua natureza de infelicidade inata, em qualquer circunstância, incomoda profundamente o ser humano e a forma benfazeja de superá-la deve ser pelo ardente desejo de solidariedade e de apoio àqueles que tiveram o infortúnio de ser acometido por doença grave, que, indistintamente, pode recair sobre qualquer célula da sociedade. Este momento exige sobretudo solidariedade e amor ao próximo...
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de outubro de 2011

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