quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A farra no "Segundo Tempo"

Conforme documentos apresentados pelo delator de esquemas de desvios no Ministério do Esporte, há agora evidência material de que o titular da pasta reduziu as contrapartidas de valores para que fosse implementado novo convênio com a ONG do acusador, em que pese já ser do seu conhecimento que o primeiro projeto continha irregularidade na sua execução, constatada mediante visita de equipe técnica do órgão, tendo concluído que as impropriedades não tornavam “inviável” o programa, nestes termos: "Entende-se pela inviabilidade de concessão de novo prazo de vigência, por não se vislumbrar possiblidade concreta de saneamento das impropriedades identificadas e do atendimento integral do objeto pactuado". Em seguida, houve a aprovação do parecer técnico e a efetivação da parceria, ou seja, o ministério já sabia que o delator havia desviado recursos, ante a fata de prestação de contas, quando o ministro reduziu as exigências para que ele conseguisse o segundo convênio. Com a revelação do aludido documento, estabelece-se clara ligação direta entre o ministro e o seu acusador de comandar um esquema de desvio de dinheiros públicos para alimentar o caixa do PC do B. Além disso, o delator disse que entregou à Polícia Federal áudios gravados numa reunião que fez com servidores da pasta, objetivando resolver problemas com a prestação de contas de um de seus convênios, na qual participaram ao menos 20 dirigentes de ONGs, que poderiam perfeitamente confirmar o esquema de corrupção instalado na pasta. Mesmo que o ministro tenha sido blindado pelo aparato palaciano, com o apoio dos aliados congressistas, a opinião pública já tem firme convicção de que realmente o desvio de recursos públicos do programa Segundo Tempo, que visa incentivar a prática esportiva entre crianças e adolescentes, já não é mais mera suposição, mas sim uma pura realidade, que virá facilmente à lume, caso sejam aprofundadas as apurações nos convênios pertinentes. Falar mentiras pode ser uma armadilha para o seu autor, porque a sua revelação é sempre desastrosa até para o mentiroso que já acreditava nelas. Aliás, é muito comum que a pessoa que mente tanto termine acreditando nas próprias mentiras, confirmando a velha máxima de que “quem conta um conto, aumenta um ponto”, não tendo graça alguma se a história não for aumentada, a ponta de nela se emaranhar e contribuir para piorar a situação. No caso do Ministério do Esporte, parece que o aumento foi por demais exagerado e nem o seu protagonista resistiu a tanta enganação, por permitir que a sua história tenha final melancólico, agora com a obrigatória entrega do bastão. A sociedade brasileira espera que os governantes sejam mais enérgicos com as denúncias de irregularidades nos ministérios, providenciando a imediata apuração dos fatos pertinentes, com o afastamento dos seus donatários, como forma de moralização da administração pública, que não suporta mais tanta leniência com as falcatruas com dinheiros públicos. Acorda, Brasil!      
  
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 26 de outubro de 2011

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