segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Incapacidade administrada

Não faz muito tempo que parcela significativa dos brasileiros e especialmente a cúpula governamental comemoraram com efusão o fato de o Brasil ter conseguido a primazia de sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, graças às promessas e garantias da plena capacidade de realizar, obedecidos os figurinos e as exigências das entidades organizadoras, os dois mais importantes eventos esportivos do mundo. No momento histórico, até parecia que a seleção canarinha tinha conquistado o campeonato mundial e o hexacampeonato de futebol. Passada a euforia, veio à tona a lamentável lembrança sobre a enxurrada dos problemas ocorridos nos Jogos Pan-Americanos, com a constatação de desperdícios de dinheiros públicos, decorrentes das contratações urgentes e sem a indispensável fiscalização, causando danos incalculáveis ao Tesouro. No caso da copa, à data do seu anúncio, o tempo era mais do que suficiente para a implementação das obrigações prometidas, porém algumas obras estão apenas começando, com a convicção de que muitas não serão finalizadas antes dos eventos. No início de tudo, havia a garantia de que não entrariam recursos públicos para as obras e as reformas dos estádios, que seriam executadas apenas com dinheiro privado. Agora, o que se constata é que tudo vai ser feito com recursos dos contribuintes, como no caso dos estádios, dos transportes (aeroportos, vias terrestres etc.) e demais infraestruturas. E o pior de tudo isso é que, nessa altura do campeonato, nada foi adiantado e obras importantes sequer começaram, para desespero das entidades organizadoras dos eventos, que temem possível fracasso da copa, por falta da necessária estrutura básica. Ninguém ouve falar em obras destinadas à mobilidade urbana, mecanismo facilitador dos acessos eficientes entre aeroportos, hotéis e estádios e vice-versa. Naturalmente que muita coisa ainda poderá ser feita, de forma parcial, porém em regime de toque de caixa, com provável desmoralização do país junto à comunidade internacional, por tamanho vexame gerencial. Outro aspecto que suscita gravidade é a falta da necessária transparência dos procedimentos quanto aos gastos, contrariando os princípios da administração pública, que deveriam estar presentes em casos que tais, para possibilitar a certificação da sua regularidade. Não há a menor dúvida de que o fracasso gerencial com os assuntos da Copa do Mundo demonstra, até o presente, clara confissão de incapacidade administrativa do governo de realizar condignamente os eventos pertinentes. A sociedade exige que os governantes do país sejam mais zelosos e responsáveis quando assumirem compromissos com organismos internacionais, para a realização de eventos de repercussão mundial, não permitindo que demagogia, vaidades pessoais, falhas operacionais ou imprecisões diversas comprometam a imagem da nação. Acorda, Brasil!  

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de outubro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário