sábado, 22 de outubro de 2011

Cartolagem e política

No meio das controvérsias e discussões sobre as definições legais para regular o funcionamento da Copa de 2014, a Fifa apresentou a sua proposta para o projeto de lei que lhe dá amplos poderes para mudar regras e procedimentos dos municípios e estados brasileiros. Entre os absurdos da interferência dessa entidade nos valores, negócios e interesses nacionais encontra-se a mudança do nome de estádios de futebol. É do seu desejo a criação, em flagrante contrariedade às instituições do país, de uma corte especial de Justiça, para decidir sobre os casos ocorridos no período da copa. Outro fato estranho é a liberação dos vistos diplomáticos para os membros da delegação da entidade e os torcedores que possuam ingressos para os jogos da copa. A Fifa também não quer permitir isenção ou redução dos valores dos ingressos, contrariando a legislação pátria que já assegura o direito a essa concessão para estudantes e idosos. Outro ponto importante diz respeito à liberação do comércio de bebidas alcoólicas nos estádios somente da marca escolhida pela entidade, mesmo que isso já seja objeto de proibição pelas leis brasileiras. As prefeituras deverão criar uma zona de 2 km no entorno dos estádios, para exclusiva exploração de atividades comerciais e de publicidade dos parceiros indicados pela Fifa. Salvo se autorizados por órgãos competentes, nenhum evento poderá haver em paralelo à realização da copa, com ela associado, para fins da obtenção de vantagem econômica, comercial e de imagem. Tudo isso e muito mais são caprichos e exigências exagerados e estapafúrdios de quem não cede absolutamente em nada e também jamais aceita ser contrariada nos seus propósitos econômicos e financeiros. A verdade é que o mundo se modernizou, evoluiu e se tornou globalizado, no meio de um processo irreversível de crescimento e de oportunidades para a humanidade, porém a mentalidade dos dirigentes do futebol mundial permanece imutável, vidrada apenas nas mudanças que viabilizem maior arrecadação para seus cofres, indiferentemente da soberania, da tradição e das normas legais já consolidas dos países sedes das copas. A Fifa demonstra tratar a copa não como finalidade desportiva, mas sobretudo como instrumento monopolizador lucrativo, fazendo questão de mostrar para o mundo que o espetáculo que organiza se assemelha a mero brinquedo, cujo dispositivo de controle permanece em regime de ameaça de desligamento, a depender do atendimento ou não das suas exigências birrentas. Por questão de coerência, objetivando facilitar os procedimentos da cartolagem e especialmente para o sucesso da realização dos eventos, sobretudo assegurar a eficiência e a lucratividade pretendidas, seria de bom alvitre a decretação, desde logo, da passagem do comando do Brasil, excepcionalmente no período da Copa de 2014, para a competente delegação da Federação Internacional de Futebol, acabando de vez com as descaradas e vergonhosas divergências de interesses políticos de econômicos instaladas e em pleno processamento, sem data para conclusão definitiva. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de outubro de 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário