terça-feira, 20 de agosto de 2013

A barbárie da incompetência do Estado

Um o jovem de apenas 19 anos, cognominado o “beijoqueiro”, que forçava universitárias a beijá-lo durante assaltos, foi morto 24h após ter sido liberado da prisão em condicional. Segundo informações da Polícia Militar do Estado do Ceará, a vítima foi atingida com tiro na nuca, disparado dentro de estabelecimento comercial onde procurava refúgio, depois de tentar fazer o proprietário refém. Os registros policiais informam que o “beijoqueiro” foi apreendido diversas vezes quando era adolescente. Certa vez, ele declarou que pretendia ganhar dinheiro no mundo do crime, vendendo os objetos furtados. O rapaz já havia sido preso pela 7ª vez, tendo ficado detido por sete meses e havia sido liberado em condicional na véspera da sua morte. Esse episódio revela que os sistemas de segurança pública estão completamente desmoralizados e falidos, a ponto de ser permitido que o delinquente ficasse transitando entre as delegacias e as ruas, cometendo assaltos e infernizando a tranquilidade das pessoas, em verdadeiro acinte à tolerância da dignidade social. Essa promíscua situação vivida pela sociedade conduz ao absurdo entendimento segundo o qual as pessoas são forçadas, para não serem vitimadas, a cometer justiça com as próprias mãos, em evidente usurpação da competência constitucional do Estado de zelar e cuidar da proteção da sociedade. A falta de combate à violência demonstra total irresponsabilidade das autoridades públicas, permitindo completa transfiguração da indignidade dos princípios humanitários. Trata-se de mais um lamentável caso do noticiário policial, que pode servir de lição para despertar a consciência e a sensibilidade das autoridades que têm a incumbência de cuidar e tratar da segurança pública, do policiamento e, enfim, do combate à criminalidade, no sentido de agir urgentemente na busca de mecanismos capazes de evitar situações semelhantes. Urge que a questão sobre criminalidade seja tratada com extrema responsabilidade, não podendo ser toleradas a inercia e a passividade dos governantes diante da alarmante violência. É inconcebível que, apesar da sensível expansão delinquência, não existe mobilização das autoridades com vistas a estudar e equacionar os problemas cruciais da segurança pública, tendo por mira a reformulação da legislação penal, das estruturas de combate à criminalidade e, em especial, da recuperação dos infratores. Como consequência, o cidadão sente-se na obrigação de fazer justiça com as próprias mãos, por força da incompetência do Estado, que deixa de cumprir seu dever constitucional de proteger a sociedade. O final trágico de um bandido não pode ser motivo de comemoração, pois isso teria sido evitado se houvesse priorização, de forma ampla, das políticas públicas, inclusive no que diz respeito ao combate à violência, que nos últimos anos encontrou terreno fértil para progredir e se banalizar, justamente em decorrência da incapacidade gerencial dos governos, que, erroneamente, priorizam o poder em si. É inconcebível que, em pleno usufruto dos auspiciosos avanços da humanidade, o homem ainda seja obrigado a fazer uso de métodos trogloditas para se livrar da delinquência, quando barbárie similar era considerada normal na idade da pedra lascada, onde não existiam justiça dos homens e organizações de policiamento formalmente instituídas para a proteção da sociedade. Infelizmente, o caso em comento retrata o eterno atraso e a irresponsabilidade do atual sistema de segurança pública, totalmente superado e precário que, nas circunstâncias, obriga o cidadão a fazer as vezes do Estado, porém utilizando métodos irracionais e desumanos. Considerando que os tributos arrecadados também se destinam à manutenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas de segurança pública, que têm sido visivelmente ineficientes, as autoridades públicas devem ser responsabilizadas criminalmente pelo desleixo e pela completa falta de proteção da sociedade. A urgente responsabilização dos governantes em decorrência da omissão e da incompetência gerencial obriga a conscientização sobre a adoção das providências de priorização também das políticas públicas capazes de tornar eficientes e eficazes os mecanismos da segurança pública, evitando a banalização da criminalidade e a generalização das barbaridades. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 19 de agosto de 2013

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