domingo, 4 de agosto de 2013

Modernização e moralização na política

No calor das manifestações populares, que invadiram as ruas, um senador defendeu que o povo tem direito de revogar os mandatos de políticos eleitos. O parlamentar entende que a "revogação popular de mandatos" se processaria mediante consulta à população, que teria o poder de decidir pela permanência ou não no cargo de algum ocupante de mandato eletivo. Na sua proposta, não foram detalhadas a forma e em que ocasiões a medida poderá ser adotada, mas defendeu que a ideia seja inserida na reforma político-eleitoral em discussão no Congresso Nacional, por iniciativa do governo. O senador também se mostrou favorável à instituição do financiamento exclusivamente público, defendida pelo PT. A proposta de "revogação popular de mandatos" peca pela imprecisão e por ser ideia vaga, ante a falta de caracterização das situações em que se impõe a aplicação da penalidade por ela aventada. Trata-se de proposição que reflete a falta tanto de objetividade como de efetividade da atuação legislativa, porque ela não corresponde às expectativas da sociedade. Em termos objetivos e de moralidade, o ocupante de cargo público eletivo deve perder o mandato, sem necessidade de consulta popular, sempre que cometer crime grave incompatível com o decoro do cargo. O arcaico sistema político atual permite que situação absurda e incoerente com a modernidade ainda seja possível, como o esdrúxulo exercício de cargos públicos por pessoas envolvidas em atos irregulares com dinheiros públicos, a exemplo dos casos estrambóticos dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, por terem sido denunciados na Justiça pela prática de atos de corrupção, e alguns deputados federais, condenados pelo Supremo Tribunal Federal, no processo que trata o escândalo do mensalão. Num país desenvolvido e possuidor de sistema político sério e sintonizado com a modernidade democrática, jamais seria admissível políticos envolvidos em casos semelhantes tenham condições morais e éticas para atuar em atividades politicas, representando os interesses da sociedade. Há, nesse caso, cristalina incompatibilidade da sua conduta com as reais finalidades do instituto da política, que não deveria aceitar a permanência na vida pública de pessoas envolvidas em casos indecorosos e de deslizes éticos e morais. A questão referente ao financiamento de campanha merece e exige profunda reflexão tão somente pela sociedade, porque é consabido que há verdadeira influência do poder econômico, no caso de doações privadas, a exemplo da participação de banqueiros, industriários, empresários etc., que liberam maciças verbas para a eleição de corruptos, sob o compromisso de votarem segundo os interesses deles ou continuarem contratando suas empresas e construtoras, como forma de compensar os altos investimentos. No caso, os políticos eleitos com recursos privados ficam sempre reféns dos empresários, em viciosa submissão ao poder econômico. Quanto ao financiamento público, o castigo se transfere para o contribuinte, que passa a ser obrigado a pagar as campanhas milionárias e revestidas dos tradicionais esbanjamentos, sem o mínimo de racionalidade nem austeridade dos gastos dos candidatos, como deveriam ser, em se tratando da eleição para apenas escolher representantes do povo, que não precisa de marqueteiro nem de palanques caríssimos para mostrar e informar o programa de trabalho dos candidatos, que deve primar pela simplicidade e objetividade, em harmonia com o sentimento de humildade da sociedade. Nesse contexto, a campanha eleitoral deve ser ter por base os princípios políticos da moralidade e da responsabilidade, observados os preceitos da isonomia e da modicidade, de maneira que haja efetiva mudança na mentalidade e na consciência políticas. Nesse caso, a campanha política deve ser financiada exclusivamente pelo próprio candidato, como forma de acabar com as farras e as desavergonhadas gastanças com dinheiros de origens suspeitas. A verdadeira vocação para a vida pública implica necessariamente que o político devote todo seu empenho e esforço ao interesse público, inclusive o sacrifício de gastar do próprio bolso. Urge a reformulação do sistema político-eleitoral, com a finalidade do seu aperfeiçoamento e da sua modernização, a par de possibilitar a indispensável moralização que se impõe na democracia de uma grande nação. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 03 de agosto de 2013

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