sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Afrontosa e indigesta comilança

O governo socialista do Ceará firmou contrato, no valor de R$ 3,4 milhões, tendo por objeto o fornecimento de alimentação em cerimônias do governo, incluindo as que ocorrem na residência oficial do governador. Segundo a assessoria do governo, as despesas somente serão realizadas conforme a demanda, nas quais estão contemplados também decoração, cadeiras, mesas, garçons e transporte. O curioso é que o contrato prevê vigência de 12 meses, mas há previsão que ele se estenda por quatro anos. Além dessas extravagâncias econômica e jurídica, a lista dos alimentos é bem sofisticada, havendo estimativa de canapés de caviar (200 unidades), crepe de lagosta (5.000 unidades), escargot na manteiga de alho (cinco quilos), risoto de bacalhau (90 quilos) e mais de 500 quilos de pratos diversos com camarão, como camarão na moranga (80 quilos) e aos quatro queijos (80 quilos), ou seja, um buffet para causar inveja aos emirados Árabes, de tanta diversidade de alimentos e fartas comidas exóticas não muito comuns na administração pública do país tupiniquim nem mesmo dos países desenvolvidos. Nessas nações, os homens públicos são obrigados, por força da dignidade imposta aos ocupantes de cargos públicos eletivos, a respeitar a integridade do dinheiro dos cidadãos, sob pena de serem execrados pela sociedade e expurgados definitivamente da vida pública, pela demonstração de malversação de recursos públicos e de improbidade administrativa.  No caso do Ceará, é mais do que notório o estado de penúria do seu povo, que vem sendo castigado pela hostil e desumana seca, que já perdura por período insuportável e cruel, causando sérios transtornos à sobrevivência da população do interior, terrivelmente afetada pela tragédia, que não tem merecido a mínima atenção dos governos estadual e federal, ante a omissão de apoios e ajudas adequados e compatíveis às agruras dos sertanejos. Em contraste com esse quadro de desolação e de muito martírio, o governo contrato buffet para servir bombinhas de salmão com caviar, camarão ao sol nascente, canapés, crepe de lagosta e tantas comilanças e aperitivos estranhos aos hábitos do povão nordestino, que, em muitos casos, sequer tem o que comer e beber, enquanto nos palácios do governo cearense a nababesca mordomia corre fartamente, com evidente menosprezo à penúria dos eleitores que ao menos tem conhecimento da pouca-vergonha e do abuso praticados com o seu suado dinheiro, que é gasto sem parcimônia e sem priorização sobre a existência de enormes problemas no estado. Esse episódio não chega a causar surpresa, em se tratando de governo socialista, que tem o cinismo de defender sistema político baseado no socialismo, com a disseminação de programas floreados de bondades para o povo e em seu benefício, nas maiores falsidades e heresias ideológicas praticadas pela cúpula dominante, que não dispensa a sofisticação das regalias palacianas, a exemplo da contratação do bufê em causa, com o comprometimento da “bagatela” de R$ 3,4 milhões, para finalidades absolutamente dispensáveis às atividades da administração pública. A sociedade, em repúdio às ilegítimas e abusivas gestões dos escassos recursos públicos, tem a obrigação de exigir a implantação de duros procedimentos e regras, inclusive com a perda do mandato e proibição de exercer cargos públicos, aplicáveis aos administradores públicos desmazelados, quando da realização de despesas públicas com contratações que não atendam aos interesses da sociedade, a exemplo do afrontoso bufê em apreço e de outros desperdícios similares, como forma de moralização da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 15 de agosto de 2013

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