quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A República dos escândalos

A revista “Época” publica reportagem em que ex-diretor da BR Distribuidora e engenheiro de carreira da Petrobras faz denuncia sobre suposto esquema de pagamento de propina a partidos políticos, com recursos obtidos com operações internacionais da estatal do petróleo. Segundo esse funcionário, os contratos da Petrobras no exterior passavam por seu crivo, dos quais era cobrado “pedágio” e repassado entre 60% e 70% do dinheiro ao PMDB, cabendo a maior parte aos parlamentares da bancada de Minas Gerais, na Câmara dos Deputados. O restante dos recursos era rateado entre ele e seus operadores na Petrobras. Ele afirmou que a sua influência na Petrobras surgiu em meados da década de 1990, por meio de contatos feitos por ele no meio político, na ocasião em que ocupava assento na diretoria da BR Distribuidora. O ex-diretor disse que a maior parte da propina era destinada a 10 parlamentares, entre eles, o ministro da Agricultura e o presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, ambos do PMDB-MG. Ele também revelou que o secretário de Finanças do PT recebeu US$ 8 milhões da construtora Odebrecht, por conta de contrato firmado na área internacional da Petrobras. Esse valor foi repassado durante a campanha presidencial da presidente da República, em 2010. O denunciante admitiu ter ficado com parte do dinheiro e repassado entre US$ 10 e US$ 11 milhões ao PMDB. Em nota, o PT disse que as doações petistas “foram feitas dentro da lei”. O presidente do partido mais “ético” do país, o PMDB disse, em defesa de seus correligionários, que “Está havendo uma guerra política, uma paranoia. O Brasil vive um denuncismo político e com fins eleitorais muito fortes. Isso não é bom” e aproveitou para afirmar que o partido nunca se beneficiou do suposto esquema e que “Todo recurso que o PMDB recebe nas campanhas está devidamente registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”. Esse mar de lama pode se confirmar ante a fragilidade do desempenho operacional da Petrobras, que vem gradativamente obtendo resultados econômico-financeiros aquém das suas condições empresariais, fruto das trambicagens e falcatruas promovidas pelos múltiplos apadrinhados dos partidos que dominam as empresas estatais, em espúrios e indignos apoios políticos, engendrados com o envolvimento de propinas e desvios de dinheiro, em nome dos famigerados projetos de reeleição e perenidade no poder. No momento, deputados federais petistas estão se mobilizando para instalar uma CPI, na Câmara dos Deputados, para apurar as denúncias de irregularidades que teriam ocorrido na contratação da Siemens pelo governo de São Paulo, inimigo figadal do PT. Naturalmente, que os mesmos parlamentares não devem ter a mesma postura digna de lutar para investigar os atos de corrupção envolvendo justamente o próprio partido e seu preferencial aliado, o PMDB. No país tupiniquim, os rigores da lei têm aplicabilidade somente contra os adversários, que são, ao que parece, os únicos políticos capazes de cometer desonestidades. Essa "guerra política" até que poderia ser transformada em "paz política", caso os caciques dos partidos denunciados se conscientizassem sobre a necessidade de mostrar a verdade dos fatos, se dignando pela apuração profunda dos fatos, mediante completa investigação. Não se justifica que, sendo o PT sempre favorável à instauração de CPI para investigar as denúncias contra partidos da oposição, se omita quando a acusação recai sobre partidos situacionistas, que têm a indignidade de descartar a apuração dos fatos, preferindo acenar para denuncismo político e fins eleitorais muito fortes, ao invés de dar resposta sensata e responsável sobre os acontecimentos eivados de suspeição, envolvendo os partidos “intocáveis” da República, porém sob a áurea da desmoralizada e do descrédito. Na forma da competência constitucional, os órgãos de controle, em especial do Tribunal de Contas da União, têm obrigação de atuar no caso e determinar as devidas apurações. A sociedade anseia por que os casos de corrupção sejam devidamente investigados, não importando os envolvidos, mas sim a gravidade das irregularidades, que exigem a devida apuração, com vistas, se for ocaso, à responsabilização, ao ressarcimento do prejuízo causado ao erário e às demais penalidades cabíveis. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 13 de agosto de 2013

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